|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"É a música de uma geração que fala de sexo"
Cantora francesa Yelle leva postura irônica e descompromissada às pistas de dança
Com canção dedicada a vibrador, ela teve single remixado por integrantes do tecktonik, dança surgida na periferia de Paris
DA REPORTAGEM LOCAL
Julie Budet, 26, é da geração
de mulheres que trocou a maquiagem pelo vibrador. Não à
toa, o nome que adotou para se
lançar na música é Yelle -sigla
afrancesada do inglês "you enjoy life" (aproveite a vida).
Também não por acaso, essa
garota de Saint-Brieuc, uma cidadezinha da Bretanha, no norte da França, ficou famosa
quando postou no MySpace, no
ano passado, uma música que
zombava das dimensões anatômicas e da proeza sexual de um
dos rappers mais famosos do
país, Cuizinier, do grupo TTC.
"É verdade que ele não gostou, mas não foi maldade, foi só
uma piscadela", conta Yelle à
Folha, por telefone, de Paris.
No seu disco de estréia, "Pop
Up", lançado em 2007, dedicou
uma faixa ao seu melhor amigo
-o vibrador. "É a música de
uma geração que não tem problemas ao falar de sexo, dos
brinquedos eróticos e do verdadeiro prazer feminino", afirma.
Não demorou muito, e ela
conseguiu colocar Paris de volta no mapa da música eletrônica -não qualquer música eletrônica, mas seu lado mais pop,
estridente, histérico e colorido.
Na cena parisiense, Yelle segue os passos do Justice, grupo
de DJs que pode tocar por aqui
no próximo Skol Beats e que se
tornou uma das melhores coisas a sair da França desde o
Daft Punk, na década passada.
A diferença é que Yelle grita
mais alto e chama mais a atenção porque se veste bem melhor, ou ao menos se esforça.
Ela está ao lado hoje de Uffie,
norte-americana que foi fazer
música eletrônica em Paris, e
lembra muito a sonoridade dos
belgas Vive la Fête. Mas, quando abraçou um estilo de vida
fashion-ridículo, ela estourou
de vez na França e trocou o underground pelos holofotes.
O single "À Cause des Garçons" ganhou remix feito por
seguidores do tecktonik, uma
dança surgida nos estacionamentos da periferia há oito
anos, mas que só ficou conhecida recentemente via YouTube.
São movimentos expansivos,
um tanto estabanados (confira
ao lado alguns passos), que exigem roupas justíssimas para a
execução. Do nada, a dança ganhou fama quando inspirou o
videoclipe da música "Hung
Up" (05), de Madonna, e emplacou mundo afora.
Música de butique
No auge da juventude, sem
medo dos próprios excessos e
esbanjando certa auto-ironia,
Yelle virou a musa dessa geração eletrônica exagerada.
"Ela é jovem e tem tudo a ver
com nosso movimento", diz
Alexandre Barouzdin, criador
do tecktonik, que considera a
dança o "novo cancan, uma coisa francesa com orgulho disso".
E Yelle e o tecktonik se venderam. Lançando compilações
pelo selo Kitsuné, que é também uma grife, ela assumiu de
vez a fusão música-moda, assim como os garotos da dança,
que abrem em breve a primeira
butique no centro de Paris. Será possível comprar acessórios
coloridos e fazer os mesmos
penteados ousados que "arrasam" nas pistas de dança.
Depois de abrir em Etienne
Marcel, no distrito mais central
da capital francesa, novas butiques pretendem levar a moda a
Tóquio, Cidade do México e
Marrakech, até chegar ao Rio.
"Brasileiros têm a música e a
dança na pele", diz Barouzdin.
Mas se Yelle não precisa dos
homens, nem das revistas "Vogue" e "Marie Claire", como diz
numa de suas músicas, que importância tem a moda? "A moda é o mais importante", diz. "A
imagem tem que acompanhar a
música que eu faço, e a moda
pode ser um campo de expressão, de embate ideológico."
Perguntada se esse suposto
feminismo seria então só uma
piada fashionista, Yelle confessa que é uma "feminista entre
quatro paredes". "Não tenho
vontade de usar minhas músicas como vetores de idéias políticas ou sociais. Prefiro ter
meus pequenos combates sozinha e me divertir muito."
(SILAS MARTÍ)
Texto Anterior: Comentário: Autor compara balzaquianas de 93 às de hoje
Próximo Texto: Yelle já está em festas brasileiras Índice
|