São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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"É a música de uma geração que fala de sexo"

Cantora francesa Yelle leva postura irônica e descompromissada às pistas de dança

Com canção dedicada a vibrador, ela teve single remixado por integrantes do tecktonik, dança surgida na periferia de Paris

DA REPORTAGEM LOCAL

Julie Budet, 26, é da geração de mulheres que trocou a maquiagem pelo vibrador. Não à toa, o nome que adotou para se lançar na música é Yelle -sigla afrancesada do inglês "you enjoy life" (aproveite a vida).
Também não por acaso, essa garota de Saint-Brieuc, uma cidadezinha da Bretanha, no norte da França, ficou famosa quando postou no MySpace, no ano passado, uma música que zombava das dimensões anatômicas e da proeza sexual de um dos rappers mais famosos do país, Cuizinier, do grupo TTC.
"É verdade que ele não gostou, mas não foi maldade, foi só uma piscadela", conta Yelle à Folha, por telefone, de Paris.
No seu disco de estréia, "Pop Up", lançado em 2007, dedicou uma faixa ao seu melhor amigo -o vibrador. "É a música de uma geração que não tem problemas ao falar de sexo, dos brinquedos eróticos e do verdadeiro prazer feminino", afirma.
Não demorou muito, e ela conseguiu colocar Paris de volta no mapa da música eletrônica -não qualquer música eletrônica, mas seu lado mais pop, estridente, histérico e colorido.
Na cena parisiense, Yelle segue os passos do Justice, grupo de DJs que pode tocar por aqui no próximo Skol Beats e que se tornou uma das melhores coisas a sair da França desde o Daft Punk, na década passada. A diferença é que Yelle grita mais alto e chama mais a atenção porque se veste bem melhor, ou ao menos se esforça.
Ela está ao lado hoje de Uffie, norte-americana que foi fazer música eletrônica em Paris, e lembra muito a sonoridade dos belgas Vive la Fête. Mas, quando abraçou um estilo de vida fashion-ridículo, ela estourou de vez na França e trocou o underground pelos holofotes.
O single "À Cause des Garçons" ganhou remix feito por seguidores do tecktonik, uma dança surgida nos estacionamentos da periferia há oito anos, mas que só ficou conhecida recentemente via YouTube.
São movimentos expansivos, um tanto estabanados (confira ao lado alguns passos), que exigem roupas justíssimas para a execução. Do nada, a dança ganhou fama quando inspirou o videoclipe da música "Hung Up" (05), de Madonna, e emplacou mundo afora.

Música de butique
No auge da juventude, sem medo dos próprios excessos e esbanjando certa auto-ironia, Yelle virou a musa dessa geração eletrônica exagerada.
"Ela é jovem e tem tudo a ver com nosso movimento", diz Alexandre Barouzdin, criador do tecktonik, que considera a dança o "novo cancan, uma coisa francesa com orgulho disso".
E Yelle e o tecktonik se venderam. Lançando compilações pelo selo Kitsuné, que é também uma grife, ela assumiu de vez a fusão música-moda, assim como os garotos da dança, que abrem em breve a primeira butique no centro de Paris. Será possível comprar acessórios coloridos e fazer os mesmos penteados ousados que "arrasam" nas pistas de dança.
Depois de abrir em Etienne Marcel, no distrito mais central da capital francesa, novas butiques pretendem levar a moda a Tóquio, Cidade do México e Marrakech, até chegar ao Rio. "Brasileiros têm a música e a dança na pele", diz Barouzdin.
Mas se Yelle não precisa dos homens, nem das revistas "Vogue" e "Marie Claire", como diz numa de suas músicas, que importância tem a moda? "A moda é o mais importante", diz. "A imagem tem que acompanhar a música que eu faço, e a moda pode ser um campo de expressão, de embate ideológico."
Perguntada se esse suposto feminismo seria então só uma piada fashionista, Yelle confessa que é uma "feminista entre quatro paredes". "Não tenho vontade de usar minhas músicas como vetores de idéias políticas ou sociais. Prefiro ter meus pequenos combates sozinha e me divertir muito."
(SILAS MARTÍ)


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