São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

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CRÍTICA ROMANCE

Japão é o protagonista do livro "A Amante da China"

Trama do autor Ian Buruma recupera oito décadas da história japonesa

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

"A Amante da China" é um título enganoso.
Se tivesse sido publicado nos anos 1980, quando a emergência chinesa mal se desenhava e dizia-se que o Japão finalmente podia "dizer não" aos EUA, talvez fosse este o país escolhido para intitular a narrativa.
Tampouco há na história uma amante chinesa, mas uma japonesa que afirma amar a China -a célebre cantora e atriz Yoshiko Yamaguchi, hoje com 91 anos. É através das várias encarnações da Yamaguchi real que o escritor holandês Ian Buruma trata da história recente do Japão, a verdadeira protagonista do livro.
"Há muitos deuses no Oriente e a mente japonesa é infinitamente flexível (...). Foi legítimo morrer pelo imperador antes de 1945, e foi igualmente legítimo acreditar na democracia depois da guerra", diz um dos três narradores, o americano Sidney Vanoven, censor de cinema na administração militar dos EUA na Tóquio do pós-Segunda Guerra.
Nos intervalos da busca por sexo com jovens japoneses, Vanoven deve zelar para que os novos filmes sejam "democráticos", sem traço de "feudalismo". Ele aplaude o primeiro beijo na boca do cinema japonês, protagonizado por Yamaguchi, e vê nascer "O Anjo Embriagado" (1948), obra-prima de Akira Kurosawa (1910-1998).
Antes de Vanoven, o narrador é o japonês Sato Daisuke, que procura novos talentos para a indústria cinematográfica de Manchukuo, o Estado títere criado pela Japão na Manchúria ocupada nos anos 1930.
Cabe a Sato fazer com que os filmes reflitam a "união das raças asiáticas", e é ele quem descobre o talento da adolescente nascida na China de pais japoneses.
Sob o pseudônimo de Ri Koran, Yamaguchi desponta no melodrama "Noites Chinesas" como uma camponesa apaixonada por um oficial do Exército invasor.
Um idealismo equivocado também define o último narrador, Sato Kenkichi. Filho de uma viúva de guerra, ele passa a infância assistindo a filmes americanos. Desiludido com a paralisia política do Japão, adere ao Exército Vermelho, de extrema esquerda.
O romance de Buruma, que estudou cinema, é sua versão particular de oito décadas da trajetória japonesa.
Ele dá chaves para a compreensão de um país que mantém perfil político internacional muito aquém de seu tamanho econômico e não conseguiu ainda estabelecer relações fluidas com sua vizinhança.

A AMANTE DA CHINA

AUTOR Ian Buruma
EDITORA Record
TRADUÇÃO Flávia Souto Maior
QUANTO R$ 57,90 (420 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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