São Paulo, sábado, 11 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Paul Theroux leva crise criativa à Índia

"A Mão Morta", novo romance do autor americano famoso por criar narrativas de viagens, sai agora no Brasil

Em entrevista à Folha, escritor comenta o livro e a reconciliação com o Prêmio Nobel de Literatura V.S. Naipaul

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Pelas ruas caóticas de Calcutá, na Índia, um escritor com bloqueio criativo encontra aconchego nos braços de uma especialista em sexo tântrico. É essa a trama do novo romance de Paul Theroux, americano famoso pelas narrativas de viagens que publica desde os anos 1970.
Em entrevista à Folha, o autor de 70 anos falou de sua paixão pela Índia e da recente reconciliação com o Prêmio Nobel V.S. Naipaul (nascido em Trinidad, de origem indiana): um aperto de mãos num festival literário pôs fim a uma briga de 15 anos que rendeu até um livro de Theroux, "Sir Vidia's Shadow".
O autor lançou outro livro de não ficção nos EUA neste mês, "The Tao of Travel" (o tao da viagem), em que seleciona trechos de seus autores favoritos e filosofa sobre a melhor forma de conhecer o mundo: de trem, sem celular.
"Celulares nos mantêm muito conectados com a nossa casa. Melhor desaparecer, sumir na sua própria jornada, uma coisa não muito difícil na vastidão do Brasil", comentou, por e-mail. Leia trechos da conversa sobre "A Mão Morta - Um Crime em Calcutá", livro de 2009 que chega agora às livrarias brasileiras.

 


Folha- Como surgiu a ideia de "mão morta" como sinônimo para o bloqueio do narrador?
Paul Theroux
O medo de "uma mão morta" pode ser comparado ao da impotência [sexual]. Apesar de ter escrito muitos livros, eu penso sobre isso, já tive alguns indícios.

O sr. pinta uma imagem bastante negativa da Índia neste livro, mas sei que vive viajando por lá. Qual é o seu sentimento sobre o país?
Eu não me sinto negativo em relação à Índia. É um país enorme, cheio de complexidades e impossível de se resumir. Você precisa ir lá para entender e experimentar. Sou levado à Índia pela sua história, seu povo, sua magnífica e duradoura cultura. Eu fui primeiro ao país em 1968 e, desde então, já fui incontáveis vezes, sempre como viajante.

Como foi se reconciliar com V.S. Naipaul?
Foi maravilhoso colocar as animosidades de lado. Tomei o primeiro passo porque ele estava passando por mim numa sala, e eu me lembrei dos bons tempos.

Se arrepende de ter escrito "Sir Vidia's Shadow", em que relembra a relação entre vocês dois?
De modo algum. Poucos livros se preocupam com o começo, o meio e o fim de uma amizade. No geral, livros assim são românticos, carinhosos, cheios de elogios. O meu é sobre as vidas de dois homens e o caminho estranho que os escritores tomam.

O que achou das declarações recentes dele sobre mulheres escritoras não serem tão boas quanto os homens?
A declaração de opiniões desafiadoras é modo normal de discurso de Naipaul. Meu livro "Sir Vidia's Shadow" é cheio de declarações do tipo feitas por ele, muitas delas até mais polêmicas.

Planejam se encontram de novo?
Eu nunca imaginei que esta reconciliação aconteceria porque o final de nossa amizade foi repentino e amargo. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer agora. Apenas um aperto de mão pacífico é maravilhoso. Naipaul tem uma reputação forte, mas é um homem de grande inteligência e humor.

Como o sr. viaja? Leva celular, compra um guia "Lonely Planet"?
Minha mulher insiste que eu leve um celular por segurança e para manter contato com ela. Eu levo quando posso, mas ele não costuma funcionar em lugares remotos. Acho os guias "Lonely Planet" úteis e detalhados. Já os usei algumas vezes.

A MÃO MORTA - UM CRIME EM CALCUTÁ

AUTOR Paul Theroux
EDITORA Alfaguara
TRADUÇÃO Cássio de Arantes Leite
QUANTO R$ 39,90 (288 págs.)


Texto Anterior: Não Ficção
Próximo Texto: Raio-X: Paul Theroux
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.