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Numa espécie de culto, escritor mostra nova obra aos "fiéis"
EM LONDRES
Numa quarta-feira à noite, cerca de 80 pessoas fazem fila na porta de uma igreja, no centro de
Londres. Como fiéis, entram em
silêncio e se espalham pelos bancos, como se esperassem pela liturgia. Pouco depois do horário
previsto, Nick Hornby sobe ao altar para a leitura de trechos de seu
quarto livro, "How to Be Good"
(literalmente, como ser bom).
Foi nesse clima quase eclesiástico que o escritor inglês de 44 anos
apresentou aos londrinos seu esperado novo romance, num evento promovido há duas semanas
pela Waterstone's, uma das maiores redes de livrarias do Reino
Unido. No altar, Hornby leu longos trechos do livro, conversou
com o editor e respondeu às perguntas dos leitores, antes de autografar vários exemplares do livro.
Em "How to Be Good", o autor
dos best-sellers "Alta Fidelidade",
"Um Grande Garoto" e "Febre de
Bola" dá voz a uma médica em
crise no casamento. Após pedir o
divórcio pelo celular, no estacionamento de um hotel, Katie tenta
salvar a relação enquanto o marido muda completamente de vida.
O livro foi comprado pela editora Rocco e deve ser lançado no
Brasil no ano que vem. Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Nick Hornby à Folha durante a noite de autógrafos.
(BP)
Folha - "How to Be Good" é narrado por uma mulher. Como você se
sentiu escrevendo através de um
personagem feminino?
Nick Hornby - É engraçado, mas
não me senti muito desconfortável, não. Eu já tinha toda a história
na minha cabeça, concebida para
ser contada por Katie, uma médica, casada e com dois filhos. Não
acho que escrever na voz de uma
mulher tenha sido mais difícil do
que escrever na voz de uma criança, por exemplo, como aconteceu
em "Um Grande Garoto". Naquele caso, a diferença de gerações me
trazia problemas de linguagem e
de atitude. No livro, a narradora e
eu somos da mesma geração, vemos o mundo da mesma forma. E
não acredito que homens e mulheres sejam tão diferentes hoje
como há 50 anos.
Folha - Seus três romances anteriores também são em primeira
pessoa. É uma opção de estilo?
Hornby - É, porque eu amo escrever em primeira pessoa. Acho
que essa é a melhor maneira de
explorar o processo de raciocínio
dos personagens. É muito mais
fácil ser engraçado em primeira
pessoa, porque eu permito que os
leitores tenham completo acesso
aos pensamentos do narrador, e
pensamentos podem render trechos muito divertidos.
Folha - "How to Be Good" é um romance sobre assuntos domésticos,
assim como o futebol em "Febre de
Bola" e a adolescência em "Um
Grande Garoto". Você se sente
mais à vontade com esses temas?
Hornby - Sim, muito mais. Desde
que comecei a escrever, sempre
achei mais fácil escrever sobre assuntos com os quais eu tinha realmente contato: futebol, família e
relacionamentos, por exemplo.
Eu posso brincar muito mais com
uma ficção envolvendo assuntos
que eu domino ou nos quais tenho uma certa experiência.
Além disso, acredito que um
dos grandes prazeres da literatura
é poder encontrar nos livros coisas reconhecíveis, identificáveis
com a minha própria vida.
Folha - Qual a sua participação na
adaptação para o cinema de "Um
Grande Garoto"?
Hornby - Na verdade, nenhuma.
Sei que Hugh Grant vai interpretar Will, e acho ótimo. Ele queria
fazer o personagem há muito
tempo. Estou ansioso para ver o
resultado, mas não me envolvo
com a adaptação.
HOW TO BE GOOD - De: Nick Hornby.
Editora: Viking-UK. Quanto: R$ 64, em
média (244 págs.), na Livraria Cultura
(www.livrariacultura.com.br)
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