São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2001

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Numa espécie de culto, escritor mostra nova obra aos "fiéis"

EM LONDRES

Numa quarta-feira à noite, cerca de 80 pessoas fazem fila na porta de uma igreja, no centro de Londres. Como fiéis, entram em silêncio e se espalham pelos bancos, como se esperassem pela liturgia. Pouco depois do horário previsto, Nick Hornby sobe ao altar para a leitura de trechos de seu quarto livro, "How to Be Good" (literalmente, como ser bom).
Foi nesse clima quase eclesiástico que o escritor inglês de 44 anos apresentou aos londrinos seu esperado novo romance, num evento promovido há duas semanas pela Waterstone's, uma das maiores redes de livrarias do Reino Unido. No altar, Hornby leu longos trechos do livro, conversou com o editor e respondeu às perguntas dos leitores, antes de autografar vários exemplares do livro.
Em "How to Be Good", o autor dos best-sellers "Alta Fidelidade", "Um Grande Garoto" e "Febre de Bola" dá voz a uma médica em crise no casamento. Após pedir o divórcio pelo celular, no estacionamento de um hotel, Katie tenta salvar a relação enquanto o marido muda completamente de vida.
O livro foi comprado pela editora Rocco e deve ser lançado no Brasil no ano que vem. Leia a seguir trechos da entrevista concedida por Nick Hornby à Folha durante a noite de autógrafos. (BP)

Folha - "How to Be Good" é narrado por uma mulher. Como você se sentiu escrevendo através de um personagem feminino?
Nick Hornby -
É engraçado, mas não me senti muito desconfortável, não. Eu já tinha toda a história na minha cabeça, concebida para ser contada por Katie, uma médica, casada e com dois filhos. Não acho que escrever na voz de uma mulher tenha sido mais difícil do que escrever na voz de uma criança, por exemplo, como aconteceu em "Um Grande Garoto". Naquele caso, a diferença de gerações me trazia problemas de linguagem e de atitude. No livro, a narradora e eu somos da mesma geração, vemos o mundo da mesma forma. E não acredito que homens e mulheres sejam tão diferentes hoje como há 50 anos.

Folha - Seus três romances anteriores também são em primeira pessoa. É uma opção de estilo?
Hornby -
É, porque eu amo escrever em primeira pessoa. Acho que essa é a melhor maneira de explorar o processo de raciocínio dos personagens. É muito mais fácil ser engraçado em primeira pessoa, porque eu permito que os leitores tenham completo acesso aos pensamentos do narrador, e pensamentos podem render trechos muito divertidos.

Folha - "How to Be Good" é um romance sobre assuntos domésticos, assim como o futebol em "Febre de Bola" e a adolescência em "Um Grande Garoto". Você se sente mais à vontade com esses temas?
Hornby -
Sim, muito mais. Desde que comecei a escrever, sempre achei mais fácil escrever sobre assuntos com os quais eu tinha realmente contato: futebol, família e relacionamentos, por exemplo. Eu posso brincar muito mais com uma ficção envolvendo assuntos que eu domino ou nos quais tenho uma certa experiência.
Além disso, acredito que um dos grandes prazeres da literatura é poder encontrar nos livros coisas reconhecíveis, identificáveis com a minha própria vida.

Folha - Qual a sua participação na adaptação para o cinema de "Um Grande Garoto"?
Hornby -
Na verdade, nenhuma. Sei que Hugh Grant vai interpretar Will, e acho ótimo. Ele queria fazer o personagem há muito tempo. Estou ansioso para ver o resultado, mas não me envolvo com a adaptação.


HOW TO BE GOOD - De: Nick Hornby. Editora: Viking-UK. Quanto: R$ 64, em média (244 págs.), na Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br)


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