DA REPORTAGEM LOCAL

Vitaminado pelo oba-oba de elogios que sua estréia provocou, Max de Castro reuniu coragem e desabuso para dar em "Orchestra Klaxon" um salto muito maior do que "Samba Raro" fazia supor há dois anos.
Se aquele era um disco formalista, este abre o leque em direções às vezes até divergentes. Até por isso poderá causar empolgação e repulsa em medidas equiparáveis.
O leque temático é o primeiro a ser ampliado, para muito além das letras anódinas de amor do disco anterior. Sarcasmo bem-humorado em relação ao racismo ocupa a jazzística "O Nego do Cabelo Bom" -pode ser ouvido como panfleto, mas acontecimento é o encontro musical entre Max e Seu Jorge, o mais indomável, espontâneo e musical dos jovens artistas desempregados brasileiros.
O protesto sociopolítico reaparece em "Calaram a Voz do Nosso Amor" -que no entanto é uma canção de amor, à la Jorge Ben. Em "Os Óculos Escuros de Cartola", a letra provocativa de Marcelo Yuka se casa candidamente com a associação profana da "pureza" de Cartola às cordas amorosas e ao samba "impuro" de Ben.
A profanação da sonoridade percussiva do velho samba por sintetizadores e outros elementos é, aliás, o substrato comum de todas as faixas. O clímax criativo disso se dá em "A História da Morena Nua que Abalou as Estruturas do Esplendor do Carnaval".
Erasmo Carlos, nítida velha-guarda, demonstra sacar tudo do conflito encenado por "Orchestra Klaxon". Sua letra samba-rock é a melhor reflexão sobre o que o disco todo quer comunicar, pois zomba dos detratores do "samba raro" e do próprio Max, ao falar da passista que entendia tudo de funk e nada de samba.
E o conflito de gêneros e gerações se dissipa na faixa mais importante do CD, "Mais uma Vez, um Amor". Fundadora da modalidade "samba-drum'n'bass", está ali para mostrar se é ou não possível inventar frescor usando os recursos da falida MPB. É claro que é -basta ter vontade, coragem e falta de vergonha na cara.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Orchestra Klaxon     
Artista: Max de Castro
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 22, em média