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BILHETERIA
Com críticas positivas e campanha de estréia milionária, filme sobre o jogador tem público abaixo da expectativa
"Pelé Eterno" marca contra no cinema
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O filme "Pelé Eterno" terá de ganhar o jogo na prorrogação. Com
fraco desempenho nos cinemas
(134 mil espectadores em duas semanas de exibição em 150 salas),
foi transferida para a venda de
DVDs a expectativa de que o título alcance sucesso tão monumental como o de seu personagem, alcunhado "o atleta do século 20".
Os DVDs chegarão às locadoras
em setembro, um mês antes do
previsto, já que a carreira do filme
nas telas será mais curta do que se
pensava. O diretor do título, Aníbal Massaini, e sua distribuidora,
a Universal, continuam apostando em "números grandes", certos
de que um filme recheado de gols
do rei Pelé é peça de colecionador.
Enigma
O que intriga a todos é por que
esse charme não atraiu uma platéia maior até os cinemas. É o próprio Massaini quem descreve o
enigma, ao enumerar as condições que faziam supor o êxito: "Se
o público aplaude [o filme teve
pré-estréias para convidados, recepcionados pelos governadores
de São Paulo, Geraldo Alckmin, e
do Rio, Rosinha Matheus], se a
crítica consagra, se a campanha
foi grande [R$ 1,5 milhão investido na divulgação da estréia], onde
está essa coisa que faz o resultado
não ser o que desejávamos?".
Uma explicação é oferecida pelo
experiente produtor Diler Trindade. Antes que Trindade apresente seus argumentos sobre o
deslize de "Pelé Eterno", porém,
registre-se que até ele -responsável por sucessos reiterados, como os de Xuxa e Os Trapalhões, e
lançador de modas como "Maria,
Mãe do Filho de Deus", estrelado
pelo ícone religioso padre Marcelo Rossi, visto por 2,4 milhões nos
cinemas e líder nacional na vendagem de vídeo e DVD (280 mil
cópias)- já viu o nariz do público torcido para iniciativas suas,
como a de promover a apresentadora da telinha Angélica a estrela
da telona, em "Um Show de Verão" (leia quadro nesta página).
Mulheres e futebol
"Filme sobre futebol não funciona no cinema. A culpa não é do
Pelé, do diretor ou do filme", opina Trindade. É de quem, então?
"Quem faz a bilheteria do cinema
são as mulheres. Elas que arrastam os homens. E elas odeiam futebol", afirma.
Massaini corrobora a análise e
diz que, associando a experiência
do lançamento de "Pelé Eterno"
com seu instinto marqueteiro,
aconselhou o produtor Luiz Carlos Barreto a "vender" o inédito
longa "O Casamento de Romeu e
Julieta", baseado em livro de Mário Prata sobre uma paixão entre
uma palmeirense e um corintiano, como "uma história de amor
que nem o futebol pode separar".
Culpar as mulheres pelo insucesso de um filme sobre futebol "é
uma análise convencional", na
opinião de Paulo Sérgio Almeida,
editor do boletim Filme B, especializado no mercado de cinema.
Almeida lembra que "o torcedor não é freqüentador de cinemas", diz que um filme sobre o
Flamengo dificilmente "atrairia
5% dos flamenguistas para as salas" e coloca em dúvida a estratégia da campanha de lançamento
de "Pelé Eterno" de mirar um público cativo do craque.
A opção de se dirigir a um espectador íntimo de Pelé se revela
na frase que acompanhou o trailer: "Se você pensa que já viu tudo
sobre Pelé, pense bem". "O resultado talvez tivesse sido melhor se
o filme fosse vendido para o público adolescente", diz Almeida.
Massaini conta que sua decepção com o resultado de público de
"Pelé Eterno" vai além da frustração de diretor. Ele acha que, se
fosse sucesso popular, o filme
contribuiria para tirar o gênero
documentário do gueto de filme-para-poucos e a Globo Filmes do
pedestal de fabricante imprescindível de sucessos nacionais.
"A gente fica achando que não
existe um modelo alternativo à
Globo Filmes, que documentário
não tem um veio popular. Essa
resposta [o eventual sucesso de
"Pelé Eterno'] poderia ser animadora para tudo", diz o cineasta.
A Universal chegou a negociar
com a Globo Filmes uma parceria
no lançamento de "Pelé Eterno",
mas não fechou acordo, porque
julgou financeiramente desvantajoso o valor proposto pelos direitos de exibição do filme na TV.
Com o revés de "Pelé Eterno", a
grande expectativa de sucesso popular do cinema brasileiro em
2004 recai sobre "Olga", previsto
para estrear em 20 de agosto.
"Estou seguro", diz o distribuidor Bruno Wainer, da Lumière,
responsável pela campanha de
lançamento do longa. Wainer
acha que estão sendo cumpridos
todos os itens da receita que pode
garantir o sucesso de um filme,
ressalvando que, "uma vez no cinema, é com o filme, porque, se
bastasse aplicar a receita, todos
dariam certo".
No caso de "Olga" -adaptação
do livro homônimo de Fernando
Morais sobre a comunista Olga
Benário, mulher do líder Luiz
Carlos Prestes, assassinada num
campo de concentração nazista-, a estréia foi adiada (de abril
para agosto) "porque era preciso
mais tempo para popularizar o
personagem, já que Olga é muito
conhecida numa certa classe social", afirma Wainer.
Chope
O distribuidor lançou os trailers
do filme nos cinemas em maio. As
peças foram desenhadas para
destacar o poder emotivo da história de amor entre os dois militantes políticos e a sofisticação cinematográfica da produção. Vem
dessa estratégia a confiança do
distribuidor: ""Olga" vai entregar
ao público exatamente o que promete. É o chamado chope que vai
descer redondo".
Na brincadeira de Wainer está
uma análise indireta do fracasso
de filmes dos quais se esperava
muito. "O excesso de divulgação
às vezes pode atrapalhar", diz.
Não errará quem imaginar que a
divulgação atrapalha quando o
filme não é considerado pelo público tão bom quanto se anuncia.
No caso de "Um Show de Verão", Trindade afirma que o filme
foi prejudicado pela classificação
do Ministério da Justiça, que o
proibiu para menores de 14 anos.
"O público que queria assistir a
Angélica não pôde ir ao cinema."
Almeida assinala que projetos
inteiros podem ser comprometidos por um erro de concepção.
Seriam os casos de "Acquaria" e
"A Taça do Mundo É Nossa", que
afastaram os fãs -de Sandy e Junior e do Casseta & Planeta, respectivamente- ao situar os artistas em temas alheios ao perfil com
que o público os identifica.
O fracasso nesses casos, como
no de "Pelé Eterno", é medido de
acordo com o investimento realizado e a expectativa de resultados.
Lançado com o número recorde
de 320 cópias, ""Acquaria" acabou
sendo um fracasso de 800 mil espectadores", diz Almeida.
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