São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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2ª FLIP

Novidade desta edição, programação Off Flip vai de recreação para crianças a apresentações populares e debates inusitados

Praça é palco de festa paralela em Parati

CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI

Enquanto astros como Chico Buarque e Caetano Veloso falam na Tenda dos Autores, escritores desconhecidos, artistas anônimos e crianças fazem uma festa para lá de paralela nas ruas de Parati.
A programação Off Flip e as diversificadas iniciativas Off Off Flip estão dando ao evento literário uma alegria - às vezes involuntária - que não havia no ano passado, quando tudo se concentrava nas palestras dos escritores.
A Praça da Matriz é o epicentro da algazarra paralela. Num canto da praça, Edmilson Santos, 45, montou sua tendinha para vender livros de cordel. Devidamente paramentado com vestes da tradição popular nordestina, o pernambucano radicado no Rio toca seu pandeiro, improvisa versos e canta suas histórias inspiradas em personagens e lendas populares.
"Quis trazer a cultura popular para a festa. Afinal, cordel também é literatura. E Guimarães Rosa, que é o homenageado da Flip, bebeu muito nessa fonte", justifica Santos, vendendo um folheto por R$ 3 e dois por R$ 5.
Wladimir Cazé, 28, outro pernambucano (mas habitante de São Paulo), também trouxe um cordel para divulgar e vender em Parati. "A Filha do Imperador que Foi Morta em Petrolina" é parte de uma iniciativa que Cazé divide com os colegas de geração Delfin, paulista de Campinas, e o gaúcho Marcelo Benvenutti: vender livros de formatos e preços alternativos.
"Estamos mostrando aqui que é possível fazer trabalhos independentes com qualidade gráfica sem que para isto os livros precisem custar R$ 30", prega Delfin, que transformou uma mesa de um bar da Praça da Matriz em banca, na noite de sexta-feira, vendendo cada exemplar a R$ 10 - o pacote com os livros dos três saía a R$ 25.
Ainda mais alternativos do que o trio são os poetas que declamam seus versos pelas ruas, principalmente na entrada da Tenda dos Autores. Pedro Tostes, 23, é um desses. Recita Gullar, João Cabral, Bandeira e também procura mostrar e propagandear seu trabalho.

Mimeógrafo e celular
Na noite da última quinta-feira, enquanto uma fila aguardava as portas se abrirem para a palestra de Caetano e José Eduardo Agualusa, adolescentes reviviam a literatura marginal da década de 70 e rodavam em mimeógrafo suas prosas e seus versos para mostrar à platéia.
Artistas populares também fazem seus números na Praça da Matriz. Há o pirotécnico que, todas as noites, queima seu chapéu diante do público e depois passa o objeto torrado para recolher fundos. Ou o mímico que, trajado de Carlitos, segue incautos pelas ruas. O humor se torna involuntário quando um boi evolui pela praça evocando a tradição do bumba-meu-boi e seu celular toca. O boi não atendeu, mas o público riu bastante.
O episódio do boi aconteceu na sexta-feira, quando a praça foi tomada, durante todo o dia, pela festa "Brasileirices".
Organizada pelo Instituto Tear, do Rio, a convite da Flip, o evento atraiu centenas de crianças de Parati. Entre outras coisas, elas penduraram livros nas árvores (os "pés de livro"), participaram com o artista Chico Divino da feitura de pombas como as que enfeitam a cidade na Festa do Divino e, orientados pela ceramista Célia Flud, realizaram placas referentes à Flip, a Parati e aos livros.
"Essas cerâmicas formarão um grande mural, que irá para uma das comunidades de Parati. É uma forma de a Flip ficar na vida da cidade, sendo lembrada em especial para as crianças", explica Denise Mendonça, coordenadora do Tear, que trouxe 50 pessoas para realizar a "Brasileirices", um dos momentos mais bonitos da segunda edição da Flip.

Maratona
Como já exemplificado acima, o Off Off Flip inventa acontecimentos tão inusitados que alguns sequer existem.
Deste time, o campeão até agora é um "debate aberto" que reuniria, num bar, jovens escritores e entendidos em direito e tecnologia para falar de "A questão do direito autoral a partir das revoluções da tecnologia digital".
Nada demais não fosse a duração prevista para o evento: 8, 9 e 10 de julho, das 20h às 23h. A maratona sequer começou.


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