São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2005

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Política e terror dominaram as mesas da festa

LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADO ESPECIAL A PARATI

A crise do governo Lula e os atentados em Londres suplantaram os assuntos literários da terceira edição da Flip. Esta foi a Flip do real, muito mais do que da ficção.
Além da performance de Ariano Suassuna, os grandes momentos da festa foram as duas mesas da manhã de sábado. Na primeira, Arnaldo Jabor arrancou vaias e aplausos ao defender a gestão Fernando Henrique Cardoso e atacar o governo petista, enquanto o rapper MV Bill e o sociólogo Luiz Eduardo Soares brilharam com relatos sobre a violência contra pobres e negros.
Na segunda, os jornalistas e escritores Jon Lee Anderson e Pedro Rosa Mendes usaram uma receita semelhante à de Bill: despertar o público para verdades que nem sempre são noticiadas, mas com tom emotivo. O americano Anderson cobriu a Guerra do Iraque, base de seu livro "A Queda de Bagdá", e o português Mendes retratou a devastação de Angola em "Baía dos Tigres".
Salman Rushdie falou em Parati de terrorismo, guerra da Caxemira (entre a sua Índia natal e o Paquistão) e da dificuldade de ser otimista. O israelense David Grossman comentou a "exaustão" do conflito de seu país com os palestinos. A argentina Beatriz Sarlo e o brasileiro Roberto Schwarcz falaram do difícil papel dos intelectuais hoje e da desilusão com os governos de FHC e Lula. Pode-se afirmar que a supremacia da não-ficção foi incontestável neste ano.
"Os livros de não-ficção vendem mais do que os de ficção. O sucesso dessas mesas corrobora a suposição de que o interesse do público é maior por não-ficção. Talvez porque os temas sejam mais abrangentes", disse Ruth Lanna, diretora da Flip.
A Flip 2005 (que custou R$ 3,8 milhões, segundo a organização) não recebeu a constelação de 2004 (Chico Buarque, Caetano Veloso, Paul Auster, Ian McEwan, Martin Amis...), mas teve uma diversidade maior de assuntos e participação mais efetiva da cidade. Cerca de 12 mil pessoas visitaram Parati nos últimos cinco dias.

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