São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Contra a corrente

SMD, o formato mais barato de CD que o sertanejo Ralf lançou em 2005 para combater a pirataria, já atrai mais de mil artistas e vira opção para a geração MySpace

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Se é a "saideira do CD", como sugerem alguns, ainda não dá para dizer. Mas o fato é que o SMD, o disquinho a R$ 5 que o sertanejo Ralf (da dupla com Chrystian) pôs no mercado há três anos, tem conquistado também músicos da geração MySpace, justamente aquela que disponibiliza músicas de graça na internet e faz questionar a sobrevivência do suporte físico para os álbuns.
O Semi Metallic Disc, lançado em março de 2005 com o álbum "Chrystian & Ralf", fez Ralf Richardson da Silva ser tachado de louco e visionário por sua idéia de "matar os piratas".
O formato simples -que consiste no CD com metal apenas nas faixas em que há gravações (o espaço não utilizado é só de plástico) e encartado num envelope em vez de numa caixinha- logo atraiu independentes de perfil popular, como grupos de gospel e de hip hop.
Era tão barato que não valia a pena piratear (pode ter influenciado também o fato de a maior parte dos artistas que lançam no formato não ser exatamente o alvo dos piratas).
Seja como cartão de visitas, seja para garantir alguns raros trocados em direitos autorais, passou então a atrair artistas cujas faixas podem ser ouvidas na rede, como Wado, Guizado e Lucas Santtana.
Ralf entende o interesse desses músicos como sinal de que o formato físico está longe de morrer. "Veja, a gente vende uns 3.000 CDs da dupla por show. Como posso parar um show com 20 mil pessoas e falar: "Agora tirem a caneta que vou passar um site para vocês descerem as nossas músicas'?"
Se ajuda na venda em shows, torna lucrar na distribuição uma missão quase impossível. Como o SMD já sai da fábrica com o preço R$ 5 estampado na capa -o custo unitário de produção pode ficar em torno de R$ 1,50, e os impostos, de R$ 0,50-, sobram cerca de R$ 3 por cópia para o músico pagar os direitos autorais de todos os envolvidos. Se incluir na conta a distribuição, o montante a ser dividido torna-se ainda menor.
"Nós negociamos o autoral sobre R$ 10, R$ 11, do valor de cada CD. Será que os autores e as editoras vão concordar com muito menos que isso?", questiona Jorge Lopes, diretor comercial da gravadora EMI.
Ele lembra que as gravadoras vêm diminuindo o preço final do CD, principalmente no relançamento de catálogos. A EMI aposta no digipack, embalagem que substitui o tradicional acrílico por papelão, permitindo a venda por R$ 12,90. A Universal usa o similar musicpack, com preços de R$ 12,90 a R$ 16,90 na loja. "Não é a mídia que encarece o CD, e sim o marketing, o preço que se paga para um bom fotógrafo, por bons estúdios, por uma mixagem de qualidade", informa a assessoria de imprensa da Universal.

Acordo com camelôs
A patente de Ralf para baratear os custos acaba criando barreiras. Jorge Lopes diz que a EMI, que hoje não tem interesse no formato, teria problemas caso quisesse usá-lo, já que tem contrato de fabricação com outra empresa -e o SMD só pode ser produzido pela Microservice. "O ideal seria a patente não ficar com um só fabricante."
Criador nato de patentes bizarras (leia ao lado), Ralf mostrou-se um empreendedor com o SMD. "O que o disquinho me deu nem a dupla deu", admite. Logo após o lançamento, resolveu vencer os disseminadores da pirataria unindo-se a eles: fechou um acordo com o sindicato dos camelôs de São Paulo para que vendessem o formato.
Em 2006, a patente recebeu o aval da Wipo (sigla em inglês da Organização Mundial de Propriedade Intelectual), agência da ONU que premia idéias de combate à pirataria. Fora do Brasil, o SMD é bem vendido entre artistas gospel na Califórnia (EUA) e bandas japonesas.
O contrato de exclusividade por 20 anos assinado no fim de 2007 com a Microservice, a maior fabricante de CDs, DVDs e games na América Latina, deu o impulso que faltava. "Aumentou a credibilidade", avalia Ralf.
O goiano não divulga nem deixa sua equipe reproduzir nenhum número de vendas, sob o argumento de que o SMD não é uma gravadora. "Seria falta de ética. Trabalhamos apenas o produto SMD, e não artistas, bandas etc.", informa Richard Silva, executivo de atendimento do Portal SMD, por e-mail, dias depois de seu chefe justificar a falta de dados com um "não gosto de números, eles tiram todo o sentimento".
Ralf abre exceção para seus próprios números. Diz que "Chrystian & Ralf" (2005), o primeiro SMD a chegar ao mercado, vendeu 200 mil cópias -número similar ao do CD "Multishow ao Vivo no Maracanã", de Ivete Sangalo, que, conforme a ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Disco), foi o segundo CD mais vendido no país em 2007.


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