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Contra a corrente
SMD, o formato mais barato de CD que o sertanejo Ralf lançou em 2005 para combater a pirataria, já atrai mais de mil artistas e vira opção para a geração MySpace
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
Se é a "saideira do CD", como
sugerem alguns, ainda não dá
para dizer. Mas o fato é que o
SMD, o disquinho a R$ 5 que o
sertanejo Ralf (da dupla com
Chrystian) pôs no mercado há
três anos, tem conquistado
também músicos da geração
MySpace, justamente aquela
que disponibiliza músicas de
graça na internet e faz questionar a sobrevivência do suporte
físico para os álbuns.
O Semi Metallic Disc, lançado em março de 2005 com o álbum "Chrystian & Ralf", fez
Ralf Richardson da Silva ser tachado de louco e visionário por
sua idéia de "matar os piratas".
O formato simples -que
consiste no CD com metal apenas nas faixas em que há gravações (o espaço não utilizado é
só de plástico) e encartado num
envelope em vez de numa caixinha- logo atraiu independentes de perfil popular, como grupos de gospel e de hip hop.
Era tão barato que não valia a
pena piratear (pode ter influenciado também o fato de a
maior parte dos artistas que
lançam no formato não ser exatamente o alvo dos piratas).
Seja como cartão de visitas,
seja para garantir alguns raros
trocados em direitos autorais,
passou então a atrair artistas
cujas faixas podem ser ouvidas
na rede, como Wado, Guizado e
Lucas Santtana.
Ralf entende o interesse desses músicos como sinal de que o
formato físico está longe de
morrer. "Veja, a gente vende
uns 3.000 CDs da dupla por
show. Como posso parar um
show com 20 mil pessoas e falar: "Agora tirem a caneta que
vou passar um site para vocês
descerem as nossas músicas'?"
Se ajuda na venda em shows,
torna lucrar na distribuição
uma missão quase impossível.
Como o SMD já sai da fábrica
com o preço R$ 5 estampado na
capa -o custo unitário de produção pode ficar em torno de
R$ 1,50, e os impostos, de R$
0,50-, sobram cerca de R$ 3
por cópia para o músico pagar
os direitos autorais de todos os
envolvidos. Se incluir na conta
a distribuição, o montante a ser
dividido torna-se ainda menor.
"Nós negociamos o autoral
sobre R$ 10, R$ 11, do valor de
cada CD. Será que os autores e
as editoras vão concordar com
muito menos que isso?", questiona Jorge Lopes, diretor comercial da gravadora EMI.
Ele lembra que as gravadoras
vêm diminuindo o preço final
do CD, principalmente no relançamento de catálogos. A
EMI aposta no digipack, embalagem que substitui o tradicional acrílico por papelão, permitindo a venda por R$ 12,90. A
Universal usa o similar musicpack, com preços de R$ 12,90 a
R$ 16,90 na loja. "Não é a mídia
que encarece o CD, e sim o marketing, o preço que se paga para
um bom fotógrafo, por bons estúdios, por uma mixagem de
qualidade", informa a assessoria de imprensa da Universal.
Acordo com camelôs
A patente de Ralf para baratear os custos acaba criando
barreiras. Jorge Lopes diz que a
EMI, que hoje não tem interesse no formato, teria problemas
caso quisesse usá-lo, já que tem
contrato de fabricação com outra empresa -e o SMD só pode
ser produzido pela Microservice. "O ideal seria a patente não
ficar com um só fabricante."
Criador nato de patentes bizarras (leia ao lado), Ralf mostrou-se um empreendedor com
o SMD. "O que o disquinho me
deu nem a dupla deu", admite.
Logo após o lançamento, resolveu vencer os disseminadores
da pirataria unindo-se a eles:
fechou um acordo com o sindicato dos camelôs de São Paulo
para que vendessem o formato.
Em 2006, a patente recebeu
o aval da Wipo (sigla em inglês
da Organização Mundial de
Propriedade Intelectual), agência da ONU que premia idéias
de combate à pirataria. Fora do
Brasil, o SMD é bem vendido
entre artistas gospel na Califórnia (EUA) e bandas japonesas.
O contrato de exclusividade
por 20 anos assinado no fim de
2007 com a Microservice, a
maior fabricante de CDs, DVDs
e games na América Latina, deu
o impulso que faltava. "Aumentou a credibilidade", avalia Ralf.
O goiano não divulga nem
deixa sua equipe reproduzir
nenhum número de vendas,
sob o argumento de que o SMD
não é uma gravadora. "Seria falta de ética. Trabalhamos apenas o produto SMD, e não artistas, bandas etc.", informa Richard Silva, executivo de atendimento do Portal SMD, por e-mail, dias depois de seu chefe
justificar a falta de dados com
um "não gosto de números, eles
tiram todo o sentimento".
Ralf abre exceção para seus
próprios números. Diz que
"Chrystian & Ralf" (2005), o
primeiro SMD a chegar ao mercado, vendeu 200 mil cópias
-número similar ao do CD
"Multishow ao Vivo no Maracanã", de Ivete Sangalo, que,
conforme a ABPD (Associação
Brasileira de Produtores de
Disco), foi o segundo CD mais
vendido no país em 2007.
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