São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Livro reúne peças da Cia. do Latão

Sete montagens autorais da companhia, conhecida por fazer teatro "político-dialético", ganham edição da Cosac Naify

Para o diretor e autor Sérgio de Carvalho, os textos dos espetáculos "têm vida para além do palco", além de "qualidade literária"


AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Quem não tem acesso ao gabinete do governador, tem que se virar." A afirmação de Sérgio de Carvalho, diretor e fundador da Companhia do Latão, conta boa parte da história do grupo de teatro que, em 11 anos, "se virou" para levar ao palco pelo menos sete peças autorais, que serão lançadas em livro amanhã, no Sesc Pompéia ("Companhia do Latão - 7 Peças", de Sérgio de Carvalho, Márcio Marciano e colaboradores, Cosac Naify, 416 págs., R$ 45).
Os textos -"O Nome do Sujeito" (1998), "A Comédia do Trabalho" (2000), "Auto dos Bons Tratos" (2002), "O Mercado do Gozo" (2003), "Visões Siamesas" (2004), "Ensaio para Danton" (1996) e "Equívocos Colecionados" (2004)- são, segundo Carvalho, de peças "efetivamente autorais", embora o grupo seja conhecido por buscar "novas formas de representação, quase autorais".
A publicação em livro, ele explica, atende a dois propósitos: "Sentimos que tinham vida para além do palco. Tinham qualidade literária que permitia a elas [as peças] serem lidas com prazer e interesse, podendo ainda ganhar montagens de outros artistas. Em segundo lugar, já havia uma procura pelos textos. Grupos de outros Estados, pesquisadores da Alemanha, dos Estados Unidos, vinham pedindo os textos".

Dramaturgia coletiva
Além dos pedidos, o livro reflete, como afirma Carvalho, a "forte preocupação com a dramaturgia que o Latão tem desde o início, em 1997". "A idéia sempre foi conjugar ao mesmo tempo a dramaturgia coletiva, produzida nos ensaios, com um tipo de experimentação formal épica, mais fragmentária, crítica, que não reproduzisse os padrões convencionais do drama", explica.
Foi assim que, para não reproduzir os tais padrões convencionais, o grupo levou, por exemplo, "A Comédia do Trabalho" (2000) para um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) no interior do Paraná, tendo como base pesquisas sobre desemprego nas ruas, em sindicatos e com especialistas.
"Um teatro convencional, sim, tem público elitista. Nosso caso é outro", afirma o diretor. "Na cidade, nossa experiência é com público relativamente intelectualizado, mas não endinheirado. Do ponto de vista dos temas, nossa dramaturgia reflete o processo de formação burguesa no Brasil."

Sobrevivência
O teatro "dialético-político" do Latão quase nunca conseguiu captar recursos, via Lei Rouanet, ferramenta de patrocínio para muitos grupos de teatro, da qual Carvalho é crítico declarado. "A gente tentou por anos captar pela Lei Rouanet e nunca deu certo", diz ele. "É uma lei mentirosa, porque favorece quem já tem o patrocinador em vista, que delega para o gerente de marketing a escolha da produção. A cultura do favor ainda predomina, com raras exceções."
No ano passado, entretanto, o grupo entrou no edital de fomento da Petrobras, "uma dessas exceções". Com isso, a companhia prevê lançar dois livros, CDs e DVDs das peças, que circularão por seis capitais do país, além de produzir, em 2009, o projeto "Ópera dos Vivos", com vários espetáculos.
Antes disso, "o ano foi duro". "Mas a gente contou sempre com a Lei de Fomento em São Paulo, que é a coisa mais importante para os grupos", diz o diretor que, em seguida, constata: "Mesmo assim, com o teatro, podemos garantir sempre uma sobrevivência relativa".


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