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Crítica/Astropolis
Festival tem programação exigente
Em sua 15ª edição, evento francês de música eletrônica investe em artistas de vanguarda, deixando conforto de lado
SAMY ADGHIRNI
EM BREST (FRANÇA)
Enquanto os eventos de música eletrônica mundo afora
apostam cada vez mais em estruturas profissionais e line-ups de apelo popular, o festival
francês Astropolis completou
ontem 15 anos de vida mantendo a fórmula inicial, que mescla
organização caseira e programação exigente.
Em 2009, como em anos anteriores, a decoração foi sumária, faltaram banheiros e lugares para descansar. Num ambiente permissivo impensável
para padrões brasileiros, o staff
do evento parecia se divertir
tanto quanto o público no jardim do castelo de Keroual, palco principal do evento.
O cofundador de Astropolis,
Matthieu Guerre-Berthelot,
38, disse à Folha que estruturas mais confortáveis custam
muito caro para um festival
sem patrocínio. Segundo ele, o
espirito "rave roots" faz parte
do evento, que prefere investir
em artistas de vanguarda.
Destaques
DJs comerciais como Sasha,
Fatboy Slim e Tiesto, figuras
carimbadas em grandes eventos brasileiros, não cabem na
agenda de Astropolis. Os destaques deste ano ano foram o alemão Sven Vath, o canadense
Richie Hawtin, o francês Laurent Garnier, o inglês Roni Size
e o brasileiro Gui Boratto, além
de bandas de eletrorock como
Ebony Bones e Sexy Sushi. Ao
todo, foram ao menos 50 artistas espalhados em seis palcos.
Boratto admitiu que nunca
ouvira falar de Astropolis até
ser procurado pelos organizadores. "Achei demais essa mistura de tribos. O público francês é um dos meus preferidos, e
não fica esperando sempre que
eu toque hits", disse o produtor
paulistano antes de se apresentar em Brest, cidade portuária
no extremo oeste da França.
O sucesso de Astropolis, mais
antigo evento do gênero na
França, é indissociável da região onde acontece. Com pelo
menos 70 festivais anuais, a
Bretanha é tida como uma das
regiões mais festeiras e animadas do país. A música eletrônica
ganhou espaço privilegiado
desde que os tecneiros ingleses
atravessaram o canal da Mancha, no início dos anos 90, para
fugir da caça às raves promovida pelo governo linha-dura de
Margareth Thatcher.
O festival teve altos e baixos.
Em 1999, um assassinato a facadas obrigou os organizadores
a trocarem o castelo de Keriolet, ao sul da Bretanha, por
Brest. Em 2001, Astropolis teve
o line-up mais caro de sua historia (com Jeff Mills, Carl Cox,
Luke Slater), mas a falta de público, por causa da chuva, quebrou as finanças do evento, que
por pouco não foi enterrado.
O maior orgulho dos organizadores foi a apresentação, em
2005, do time completo do Underground Resistance, mítico
selo americano anticomercial,
geralmente avesso a grandes
festivais. "Fazemos Astropolis
porque acreditamos na nossa
visão das coisas", disse Guerre-Berthelot.
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