São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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Fã de MPB, "dona" do Ecad ironiza reforma legal

Superintendente do órgão, Glória Braga questiona anteprojeto de lei

Advogada de 45 anos, ela tem três filhos; uma filha namora um dos integrantes da banda adolescente Scracho


MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Superintendente do Ecad -Escritório Central de Arrecadação de Direitos-, a carioca Glória Braga, 45, personifica a oposição ao anteprojeto apresentado pelo Ministério da Cultura, em junho, para alterar a legislação de direito autoral no Brasil.
Se aprovada, a nova lei coloca o Ecad sob fiscalização do Estado. "Não há problema em ser fiscalizado; não temos nada a esconder", diz Braga.
"Mas isso faz tanto sentido quanto chamar o Ministério da Justiça para resolver os problemas internos da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Que Estado é esse que quer tomar conta de tudo?"
Segundo Braga, os equívocos do anteprojeto começam já no primeiro de seus 115 artigos. O que diz: "A proteção dos direitos autorais deve ser aplicada em harmonia com os princípios e norma relativas à livre iniciativa, à lei da concorrência e à defesa do consumidor".
"Direito do consumidor na lei de direito autoral?", ela questiona. "Se o consumidor for no cinema e não gostar do final do filme, ele vai pode ir ao Procon reclamar?"
Braga admite que a lei em vigor tem pontos que precisam de reforma -por exemplo, uma punição clara para emissoras de rádio que não pagam direito autoral. Mas, para fazer isso, não seria necessário refazer toda a lei.
"Bastava mandar um projeto de lei para o Senado e pedir as alterações nos artigos", diz. "Seria um negócio pequeno e bem mais rápido."

SACO CHEIO
Advogada formada pela UERJ (Universidade do Estado do Rio) e pós-graduada em Gestão de Empresas pela PUC-RJ, Braga é superintendente do Ecad há 12 anos.
Seu primeiro emprego foi no Sindicato dos Músicos, então presidido pelo compositor Maurício Tapajós (1943-95). Ficou lá um ano e meio até que, em 1987, substituiu Tapajós na AMAR, uma das dez associações de músicos que compõem o Ecad. Passou ali mais sete anos.
"Um dia, enchi o saco desse negócio de direito autoral e fui embora", conta. Seis meses depois, foi convidada a integrar o departamento jurídico do Ecad. Aceitou.
"E daí, quando o superintendente foi afastado, fiquei de superintendente interina. E depois ocupei o cargo definitivamente."

SCRACHO
Glória mora a poucas quadras da sede do Ecad, no bairro de Botafogo.
Sai de casa antes das 9h e vai a pé para o trabalho. É viúva e tem três filhos: dois meninos, de 15 e 18 anos, e uma menina, de 20.
O de 18 quer ser músico e estuda contrabaixo. A menina namora Diego Miranda, vocalista da banda de pop-rock Scracho.
"Quando vai ter show, sempre pergunto onde é, para saber se já pagaram direitinho o direito autoral", diz. "Gosto de verdade da música que eles fazem. Fico tentando ver se são os Paralamas do Sucesso, os Titãs da vida."
Por conta da proximidade com a banda, Glória diz que incluiu em seu iPod outros artistas da nova geração, "todos amigos dos meninos".
Mas gosta mesmo é dos mineiros do Clube da Esquina, de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil.


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