|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ao falar de "O Príncipe", FHC cita exemplos de seu governo
Para ele, Maquiavel rompeu com padrões morais da política
BRENO COSTA
DE SÃO PAULO
Não é todo dia que um ex-presidente da República sobe a um púlpito e diz a intelectuais, escritores e jornalistas que a preocupação central de um governante tem
que ser a manutenção do poder e que, para isso, é preciso
ser mau e dissimulado em alguns momentos.
O ex-presidente em questão é o sociólogo Fernando
Henrique Cardoso. As pílulas
de realismo político, no entanto, foram produzidas no
século 16, por Maquiavel.
Anteontem, em palestra
no Teatro Cultura Artística,
FHC foi apenas o intérprete
do italiano, como deixou claro ao dizer que "quem diz isso é o Maquiavel, não eu".
O ex-presidente assina o
prefácio de 12 páginas à reedição de "O Príncipe", clássico da ciência política, agora
com tradução de Maurício
Santana Dias. O lançamento
é um dos primeiros frutos da
parceria entre a Companhia
das Letras e da Penguin para
a reedição de clássicos.
Ainda que seja pensamento de Maquiavel, e que FHC,
quando no poder, jamais tenha se inspirado ou escorado
nos escritos do italiano, ouvir
um ex-presidente falar sobre
um clássico da política dá
mais relevo a uma obra escarafunchada há séculos.
Para FHC, o grande legado
de "O Príncipe" foi ter rompido com "cânones" de como
se encarar a política, baseados até então na moral.
"O que move as pessoas
não é o bem-estar, a felicidade, a consideração pelos demais. O homem é em si mesmo uma coisa má. Ele é invejoso, tem cobiça, é violento,
quer o monopólio do poder",
traduz o ex-presidente.
COMPARAÇÃO
Dadas essas premissas, a
principal qualidade de um
governante no poder é "ter a
capacidade de mantê-lo".
FHC, que fez passar no Congresso a emenda da reeleição, em 1997, já afasta logo
tentativas de comparações.
"Não há referência ao caso
nem meu nem do Lula, é evidente", disse. Depois, disse
que seu caso era diferente,
porque foi reeleito "pelo povo, democraticamente".
A dissimulação, na ótica
de Maquiavel, reproduzida
por FHC, também faz parte
da realidade política de um
mandatário. Nesse ponto,
FHC cita exemplo próprio,
mas arma o escudo da defesa, colocando a dissimulação
mais próxima ao espectro da
omissão que da mentira.
"Alguém te pergunta: vai
haver desvalorização do
câmbio amanhã? Não pode
dizer. No dia seguinte, você
desvaloriza. Você vai atuar
como? Vai falar sempre a verdade?", questiona(-se) FHC.
Texto Anterior: Conexão Pop - Thiago Ney: Canibalismo Próximo Texto: Ilustra Brasil! reúne desenhistas para discutir 3D e direito autoral Índice
|