São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ao falar de "O Príncipe", FHC cita exemplos de seu governo

Para ele, Maquiavel rompeu com padrões morais da política

BRENO COSTA
DE SÃO PAULO

Não é todo dia que um ex-presidente da República sobe a um púlpito e diz a intelectuais, escritores e jornalistas que a preocupação central de um governante tem que ser a manutenção do poder e que, para isso, é preciso ser mau e dissimulado em alguns momentos.
O ex-presidente em questão é o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. As pílulas de realismo político, no entanto, foram produzidas no século 16, por Maquiavel.
Anteontem, em palestra no Teatro Cultura Artística, FHC foi apenas o intérprete do italiano, como deixou claro ao dizer que "quem diz isso é o Maquiavel, não eu".
O ex-presidente assina o prefácio de 12 páginas à reedição de "O Príncipe", clássico da ciência política, agora com tradução de Maurício Santana Dias. O lançamento é um dos primeiros frutos da parceria entre a Companhia das Letras e da Penguin para a reedição de clássicos.
Ainda que seja pensamento de Maquiavel, e que FHC, quando no poder, jamais tenha se inspirado ou escorado nos escritos do italiano, ouvir um ex-presidente falar sobre um clássico da política dá mais relevo a uma obra escarafunchada há séculos.
Para FHC, o grande legado de "O Príncipe" foi ter rompido com "cânones" de como se encarar a política, baseados até então na moral.
"O que move as pessoas não é o bem-estar, a felicidade, a consideração pelos demais. O homem é em si mesmo uma coisa má. Ele é invejoso, tem cobiça, é violento, quer o monopólio do poder", traduz o ex-presidente.

COMPARAÇÃO
Dadas essas premissas, a principal qualidade de um governante no poder é "ter a capacidade de mantê-lo". FHC, que fez passar no Congresso a emenda da reeleição, em 1997, já afasta logo tentativas de comparações.
"Não há referência ao caso nem meu nem do Lula, é evidente", disse. Depois, disse que seu caso era diferente, porque foi reeleito "pelo povo, democraticamente".
A dissimulação, na ótica de Maquiavel, reproduzida por FHC, também faz parte da realidade política de um mandatário. Nesse ponto, FHC cita exemplo próprio, mas arma o escudo da defesa, colocando a dissimulação mais próxima ao espectro da omissão que da mentira.
"Alguém te pergunta: vai haver desvalorização do câmbio amanhã? Não pode dizer. No dia seguinte, você desvaloriza. Você vai atuar como? Vai falar sempre a verdade?", questiona(-se) FHC.


Texto Anterior: Conexão Pop - Thiago Ney: Canibalismo
Próximo Texto: Ilustra Brasil! reúne desenhistas para discutir 3D e direito autoral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.