|
Texto Anterior | Índice
Coleção Pirelli se volta a artistas do Pará e da Bahia
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
No vale do Amanhecer,
fiéis se vestem como reis e
rainhas. Guy Veloso extrai
dessa devoção alegórica um
preto e branco faiscante, luz
que estoura os limites da fotografia e parece descascar a
película até o pó de prata.
Suas imagens agora no
Masp, entre as aquisições
atuais da coleção Pirelli, resumem a força da seleção de
artistas da Bahia e do Pará.
Veloso, paraense escalado
para a próxima Bienal de São
Paulo, registrou homens e
mulheres de um dos templos
da doutrina. Olhos abertos
formam um contraponto entre a crueza da fotografia e a
teatralidade barroca da seita.
São olhares em êxtase que
ultrapassam os limites desse
claro-escuro, numa vertigem
quase colorida. É o mesmo
salto de Bauer Sá, baiano negro que só fotografa negros.
Preto sobre preto, suas
construções lembram a pegada contraditória do minimalismo de Mario Cravo Neto, que oscilava entre densos
monocromos e a volúpia do
Carnaval e do candomblé.
Mas vai além dessa lembrança. Pele e olhos na obra
de Sá vêm com a plasticidade
de Robert Mapplethorpe e os
excessos de Richard Avedon
-hibridismo que ecoa a miscigenação do ponto onde a
África se juntou à América.
É a mesma marca de Mariano Klatau Filho, paraense
que funde em suas imagens
sequências de fotografia
real, reproduções de pintura
e quadros de filmes e vídeos.
Uma paisagem marítima
roça o retrato de um garoto à
luz do sol. Noutra montagem, uma tela de Edward
Hopper, mulher nua que
olha pela janela, se separa de
uma cena de "21 Gramas",
com Sean Penn pelado e sozinho fumando um cigarro.
Parecem estar todos naquele mesmo ponto entre a
fantasia e a devoção.
COLEÇÃO PIRELLI/MASP
QUANDO abre hoje, às 19h30; ter.
a dom., 10h às 18h; qui., até 20h
ONDE Masp (av. Paulista, 1.578,
tel. 0/xx/11/3251-5644)
QUANTO R$ 15
Texto Anterior: Fotos de argentino remetem a impressionismo e cinema Índice
|