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"Acho que meu filme vai mudar o Irã", diz Panahi
LEON CAKOFF
EM VENEZA
Jafar Panahi, o ex-assistente do
mestre Abbas Kiarostami em
"Através das Oliveiras", é hoje o
mais premiado dos cineastas iranianos.
Venceu o "Camera d'Or" em
Cannes com "O Balão Branco", o
Festival de Locarno com "O Espelho" e, agora, o Leão de Ouro em
Veneza com "O Círculo", um filme de linguagem universal sobre
a opressão às mulheres nos territórios masculinos.
O filme de Panahi acumulou
ainda o prêmio da crítica internacional.
Folha - Como é possível tantos
prêmios para o cinema iraniano em
menos de dez anos?
Jafar Panahi - Era o único prêmio que faltava para o cinema iraniano -o de Veneza- no ano
em que comemoramos o centenário do cinema no Irã. É um filme que dedico às mulheres castigadas pela ditadura dos homens
em todo o mundo.
Todos diziam que seria impossível realizar um filme assim, com
tantas denúncias sobre a realidade das mulheres em meu país. O
prêmio do Festival de Veneza serve para provar que ainda é possível se servir do cinema para mostrar que podemos lutar por um
mundo melhor.
Folha - O que muda no cinema
iraniano depois desse seu filme
sem concessões e rodeios, denunciando o terror contra as mulheres
no Irã?
Panahi - Acredito que muda
muita coisa. Vai abrir a possibilidade de as pessoas se expressarem com mais coragem. Acho
que, depois de "O Círculo", virá à
tona toda uma situação de opressão e asfixia que é insuportável.
Folha - Um outro bom exemplo
do cinema iraniano, como que uma
adaptação do neo-realismo italiano do pós-guerra, é o baixo custo
de seus orçamentos. Quanto custou "O Círculo"?
Panahi - É muito difícil contabilizar o custo de um filme depois
de quase cinco anos de uma guerra surda atrás de recursos para as
filmagens. Ninguém ajudando,
ninguém acreditando e até afirmando que a censura no Irã jamais permitiria essa exposição.
Nossos filmes nunca custam muito...
Folha - Quando perguntei, durante o Festival de Cannes, a Abbas
Kiarostami quanto havia custado
"Gosto de Cereja", que ganhou a
Palma de Ouro, ele disse que não
ultrapassava os US$ 100 mil. No
Brasil é comum um filme custar
mais de US$ 2 milhões...
Panahi - "O Círculo" custou menos de US$ 100 mil.
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