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GASTRONOMIA
Paladares e amores embalam livro de ex-crítica do "NYT"
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Quando 26 convidados de uma
festa de noivado pararam no hospital por um descuido de sua desastrada mãe, a norte-americana
Ruth Reichl se deu conta de algo:
precisava assumir o comando da
cozinha de sua casa.
A força da situação obrigou
Reichl, hoje com 55 anos, a apurar
suas habilidades gastronômicas e,
consequentemente, deu subsídios
para que construísse uma respeitável carreira ao longo de duas décadas como crítica dos jornais
"Los Angeles Times" e "The New
York Times".
Parte dessa vivência em cozinhas de variados estilos -e qualidades- foi registrada no livro
"Conforte-me com Maçãs", o segundo capítulo de suas memórias, que sucede "Tender at the
Bone" (não lançado no Brasil).
Em "Conforte-me...", a ação se
inicia em 1978, quando a atual
editora da revista "Gourmet" morava na cidade de Berkeley, em
uma comunidade hippie (onde,
sim, a patrulha ideológica agia na
hora das refeições).
Intercalando-se a relatos de sabores memoráveis provados na
China, Tailândia e França, estão
detalhes de amores ora frustrados
ora exitosos. "Segredos são só perigosos quando permanecem como segredos", afirma Reichl, por
telefone, sobre ter exposto sua intimidade.
Mas a relevância de suas memórias reside na descrição de jantares, como o vivido no lendário
Tour d'Argent, em Paris, onde
ovos mexidos com trufas têm gosto de "almíscar e luz" e são "como
morder um pedaço do sol".
"Provavelmente a maioria dos
leitores das minhas resenhas nunca tiveram ou terão a chance de ir
aos restaurantes visitados. A minha idéia, mais do que julgar um
prato, sempre foi a de passar o
que foi a experiência de ter estado
naquele determinado local", diz.
Reichl ainda recusa o conceito
de que "o requisito essencial para
escrever bem a respeito de gastronomia é ter bom apetite", expresso pelo correspondente de guerra
A.J. Liebling (1904-63) no início
de "Conforte-me...". "Estar exposto a uma gama de paladares é
o fundamental. E ter a percepção
dos sabores, que leva tempo para
ser adquirida. Só com a vivência."
CONFORTE-ME COM MAÇÃS. De: Ruth
Reichl. Tradução: Ana Deiró. Editora:
Objetiva. Quanto: R$ 45 (352 págs.).
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