São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Aragonés é bárbaro

Em entrevista à Folha, o cartunista Sergio Aragonés, histórico colaborador da revista "Mad", fala sobre a volta de sua criação mais célebre, o bárbaro Groo, que completa 25 anos

Groo enfrenta o aquecimento global

Poluição é tema de série do bárbaro errante que o cartunista finaliza no momento; no Brasil, coletânea "Odisséia" é lançada

Apelidado de "o cartunista mais rápido do mundo", Sergio Aragonés afirma que é mais ágil por desenhar humor e ter traço mais livre


AUTO-RETRATO DO ARTISTA QUANDO BÊBADO Desenho exclusivo para a Folha, em que Aragonés se retrata com uma de suas lembranças favoritas do Brasil, a caipirinha. "Tome uma por mim", pediu ao repórter ao fim da entrevista

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 70 anos, completados na última quinta, Sergio Aragonés ainda desenha com gosto e com a mesma velocidade que lhe valeu o título de "cartunista mais rápido do mundo": foram dois meses para conseguir entrevistá-lo, mas apenas 20 minutos, entre o pedido e o recebimento, para obter o auto-retrato que ilustra esta reportagem.
Espanhol que cresceu no México e mora nos EUA há décadas, Aragonés tornou-se célebre por seus minicartuns para a revista "Mad", onde é o segundo colaborador mais longevo, trabalhando há 44 anos.
Ele acaba de retomar sua criação mais célebre, Groo, o errante, que motivou no exterior uma edição especial para celebrar seus 25 anos e uma nova minissérie, "Groo: Hell on Earth", ainda sendo finalizada.
No Brasil, o personagem ganhou recentemente nova publicação, pela editora Opera Graphica, a coletânea "Odisséia" (104 págs., R$ 49).
Falando por telefone de sua casa na Califórnia, Aragonés lembrou visitas ao Brasil e falou de Groo, da "Mad" e de sua vida.  

FOLHA - Como é a edição comemorativa dos 25 anos de seu personagem Groo, que o sr. acaba de lançar?
SERGIO ARAGONÉS
- É caprichada, tem uma capa prateada, mas é basicamente a mesma estupidez de sempre. A história é uma analogia que eu vinha tentando fazer há anos, sobre a Aids. Usamos um paralelo com uma praga que se transmite por meio de beijos, com o governo e a Igreja não fazendo muito para aliviar o problema.

FOLHA - E a nova minissérie que o sr. está criando?
ARAGONÉS
- Estou desenhando um Groo agora, para o primeiro número, enquanto falamos. Serão quatro volumes, e o tema é o aquecimento global. A história fala sobre os problemas causados pela poluição e todas as suas conseqüências, e é claro que Groo acaba sendo o causador de vários dos problemas.

FOLHA - O sr. levou dez anos da criação do personagem até sua publicação. Por quê?
ARAGONÉS
- Eu tinha vivido na Europa no começo dos anos 60 e vi que lá os autores eram donos de seu material, enquanto nos EUA era muito difícil que isso acontecesse. Então, quando cheguei ao país, queria ter os direitos sobre minha criação.
Levei vantagem sobre outros artistas porque eu trabalhava para a "Mad" e para a [editora] DC, então não precisava desesperadamente de dinheiro, pude me dar ao luxo de esperar.

FOLHA - As histórias de Groo têm muito comentário político e social. Era esse seu objetivo ao criá-lo?
ARAGONÉS
- Na verdade, não. Eu pensava nas aventuras de um bárbaro tolo, sem planejar muito à frente. Mas, com o tempo, eu via algo para o que queria chamar a atenção das pessoas, criticar, ironizar, e escrevia baseado nisso, fosse poluição, sem-tetos, arte moderna.

FOLHA - O sr. ainda é o cartunista mais rápido do mundo?
ARAGONÉS
- Eu levo vantagem sobre os desenhistas que criam histórias sérias porque, como meus cartuns são de humor, as pessoas não notam quando eu erro algum personagem, faço um nariz maior ou um cabelo errado. A velocidade em si dá uma liberdade no traço com a qual é muito confortável trabalhar. Mas eu ainda levo 20 minutos para fazer uma página [ri]. É mentira, eu levo algumas horas. Esse mito começou porque eu desenho rapidamente quando estou em frente a platéias, para que elas não fiquem entediadas, e isso as espanta.

FOLHA - O sr. está na "Mad" há 44 anos. Quais suas melhores memórias desse período?
ARAGONÉS
- O publisher da revista, Bill Gaines [1922-1992], costumava levar todo o staff para uma viagem ao exterior uma vez por ano. Fomos para o Marrocos, México, Alemanha, Rússia, vários lugares, com todas as despesas pagas. Dividíamos os quartos com outros colegas da "Mad", e essas experiências eram maravilhosas porque tornaram a equipe uma família.

FOLHA - E de quem o sr. foi mais próximo?
ARAGONÉS
- De Prohias, Don Martin, Al Jaffee, Jack Davis... foram vários amigos, é uma fraternidade, não apenas trabalhamos para "Mad", somos uma família há muitos anos.

FOLHA - Quem foram seus mestres e suas influências?
ARAGONÉS
- Aprendi pantomima com [o escritor chileno] Alejandro Jodorowski para melhorar meu trabalho como cartunista. No início, minhas influências eram do humor, além de Carl Barks [1901-2000] e, acredite ou não, Will Eisner [1917-2005] -adorava o jeito como ele contava as histórias, foi uma grande influência na minha escrita. O argentino Oski [1914-1979], cartunista maravilhoso, também me influenciou, assim como o mexicano [Abel] Quezada [1937-2007].

FOLHA - O sr. já esteve algumas vezes no Brasil. Que lembranças tem daqui?
ARAGONÉS
- Estive aí na década de 70, no Salão de Humor de Piracicaba (SP), e já havia vários fãs da "Mad" que conheciam meu trabalho, foi incrível. Depois, voltei algumas vezes, a maioria como turista, a última na década de 80. Tenho alguns bons amigos aí, como [os irmãos] Ziraldo e Zélio. Não tive mais tempo, mas ainda tenho de voltar ao Brasil.
NA INTERNET - Leia íntegra da entrevista na Folha Online www.folha.com.br/072531

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