|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aragonés é bárbaro
Em entrevista à Folha, o cartunista
Sergio Aragonés, histórico colaborador
da revista "Mad", fala sobre a volta de
sua criação mais célebre, o bárbaro
Groo, que completa 25 anos
Groo enfrenta o aquecimento global
Poluição é tema de série do bárbaro errante que o cartunista finaliza no momento; no Brasil, coletânea "Odisséia" é lançada
Apelidado de "o cartunista mais rápido do mundo", Sergio Aragonés afirma que é mais ágil por desenhar humor e ter traço mais livre
AUTO-RETRATO DO ARTISTA QUANDO BÊBADO
Desenho exclusivo para a Folha, em que Aragonés se retrata com uma de suas lembranças
favoritas do Brasil, a caipirinha. "Tome uma por mim", pediu ao repórter ao fim da entrevista
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 70 anos, completados na
última quinta, Sergio Aragonés
ainda desenha com gosto e com
a mesma velocidade que lhe valeu o título de "cartunista mais
rápido do mundo": foram dois
meses para conseguir entrevistá-lo, mas apenas 20 minutos,
entre o pedido e o recebimento,
para obter o auto-retrato que
ilustra esta reportagem.
Espanhol que cresceu no
México e mora nos EUA há décadas, Aragonés tornou-se célebre por seus minicartuns para a revista "Mad", onde é o segundo colaborador mais longevo, trabalhando há 44 anos.
Ele acaba de retomar sua
criação mais célebre, Groo, o
errante, que motivou no exterior uma edição especial para
celebrar seus 25 anos e uma nova minissérie, "Groo: Hell on
Earth", ainda sendo finalizada.
No Brasil, o personagem ganhou recentemente nova publicação, pela editora Opera
Graphica, a coletânea "Odisséia" (104 págs., R$ 49).
Falando por telefone de sua
casa na Califórnia, Aragonés
lembrou visitas ao Brasil e falou
de Groo, da "Mad" e de sua vida.
FOLHA - Como é a edição comemorativa dos 25 anos de seu personagem Groo, que o sr. acaba de lançar?
SERGIO ARAGONÉS - É caprichada, tem uma capa prateada,
mas é basicamente a mesma estupidez de sempre. A história é
uma analogia que eu vinha tentando fazer há anos, sobre a
Aids. Usamos um paralelo com
uma praga que se transmite por
meio de beijos, com o governo e
a Igreja não fazendo muito para
aliviar o problema.
FOLHA - E a nova minissérie que o
sr. está criando?
ARAGONÉS - Estou desenhando
um Groo agora, para o primeiro
número, enquanto falamos. Serão quatro volumes, e o tema é
o aquecimento global. A história fala sobre os problemas causados pela poluição e todas as
suas conseqüências, e é claro
que Groo acaba sendo o causador de vários dos problemas.
FOLHA - O sr. levou dez anos da
criação do personagem até sua publicação. Por quê?
ARAGONÉS - Eu tinha vivido na
Europa no começo dos anos 60
e vi que lá os autores eram donos de seu material, enquanto
nos EUA era muito difícil que
isso acontecesse. Então, quando cheguei ao país, queria ter os
direitos sobre minha criação.
Levei vantagem sobre outros
artistas porque eu trabalhava
para a "Mad" e para a [editora]
DC, então não precisava desesperadamente de dinheiro, pude
me dar ao luxo de esperar.
FOLHA - As histórias de Groo têm
muito comentário político e social.
Era esse seu objetivo ao criá-lo?
ARAGONÉS - Na verdade, não.
Eu pensava nas aventuras de
um bárbaro tolo, sem planejar
muito à frente. Mas, com o tempo, eu via algo para o que queria
chamar a atenção das pessoas,
criticar, ironizar, e escrevia baseado nisso, fosse poluição,
sem-tetos, arte moderna.
FOLHA - O sr. ainda é o cartunista
mais rápido do mundo?
ARAGONÉS - Eu levo vantagem
sobre os desenhistas que criam
histórias sérias porque, como
meus cartuns são de humor, as
pessoas não notam quando eu
erro algum personagem, faço
um nariz maior ou um cabelo
errado. A velocidade em si dá
uma liberdade no traço com a
qual é muito confortável trabalhar. Mas eu ainda levo 20 minutos para fazer uma página
[ri]. É mentira, eu levo algumas
horas. Esse mito começou porque eu desenho rapidamente
quando estou em frente a platéias, para que elas não fiquem
entediadas, e isso as espanta.
FOLHA - O sr. está na "Mad" há 44
anos. Quais suas melhores memórias desse período?
ARAGONÉS - O publisher da revista, Bill Gaines [1922-1992],
costumava levar todo o staff para uma viagem ao exterior uma
vez por ano. Fomos para o Marrocos, México, Alemanha, Rússia, vários lugares, com todas as
despesas pagas. Dividíamos os
quartos com outros colegas da
"Mad", e essas experiências
eram maravilhosas porque tornaram a equipe uma família.
FOLHA - E de quem o sr. foi mais
próximo?
ARAGONÉS - De Prohias, Don
Martin, Al Jaffee, Jack Davis...
foram vários amigos, é uma fraternidade, não apenas trabalhamos para "Mad", somos
uma família há muitos anos.
FOLHA - Quem foram seus mestres
e suas influências?
ARAGONÉS - Aprendi pantomima com [o escritor chileno]
Alejandro Jodorowski para
melhorar meu trabalho como
cartunista. No início, minhas
influências eram do humor,
além de Carl Barks [1901-2000]
e, acredite ou não, Will Eisner
[1917-2005] -adorava o jeito
como ele contava as histórias,
foi uma grande influência na
minha escrita. O argentino Oski [1914-1979], cartunista maravilhoso, também me influenciou, assim como o mexicano
[Abel] Quezada [1937-2007].
FOLHA - O sr. já esteve algumas vezes no Brasil. Que lembranças tem
daqui?
ARAGONÉS - Estive aí na década
de 70, no Salão de Humor de Piracicaba (SP), e já havia vários
fãs da "Mad" que conheciam
meu trabalho, foi incrível. Depois, voltei algumas vezes, a
maioria como turista, a última
na década de 80. Tenho alguns
bons amigos aí, como [os irmãos] Ziraldo e Zélio. Não tive
mais tempo, mas ainda tenho
de voltar ao Brasil.
NA INTERNET - Leia íntegra da entrevista na Folha Online
www.folha.com.br/072531
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|