São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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"O corpo já não é mais tão importante"

Vito Acconci, referência da body art, fala sobre o fim da era das performances e de como quis "grudar na arquitetura"

Artista norte-americano que agora trabalha como arquiteto dá palestra hoje em festival de performances que vai até domingo no Rio

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando se escondeu sob o piso de uma galeria e se masturbou oito horas por dia gritando fantasias sexuais por entre as frestas do chão, Vito Acconci tentou fundir arte e arquitetura. Sêmen foi a argamassa da construção, um dos pontos de partida da chamada body art.
"Seedbed", sua obra de 1972, veio um ano depois que Chris Burden levou um tiro no braço em outra ação artística em galeria e pouco antes de despontarem performers como Ana Mendieta e Marina Abramovic.
"Era a linguagem do tempo, todos faziam isso na época", diz Acconci, em entrevista exclusiva à Folha. Ele participa hoje, no Rio, do festival Presente Futuro Vol. 2, no Oi Futuro.
Se havia então uma "corrente do tempo" ligando o artista a Burden, Bruce Nauman e até ao rock de Neil Young, Acconci está por trás do amálgama de arte com arquitetura que se desdobra agora como vertente turbinada na arte contemporânea. Não à toa, faz tempo que não se diz artista e comanda um escritório de arquitetura.
"Minha presença nas performances estava começando a me incomodar, não queria que me vissem toda hora, num culto à personalidade", diz Acconci. "Preferi me fundir ao espaço, fazer parte da arquitetura."
Depois de se vendar e ameaçar espectadores com barras de chumbo e de ações em que tentava abrir à força os olhos bem fechados de sua namorada, quis sair de cena e tornar o público em usuário de sua obra.
"Nessa onda de me autoexaminar, descobri que a personalidade não é essa joia preciosa que tentamos lapidar, o corpo já não é mais importante", afirma. "Nunca tive um lugar na arte porque não queria espectadores, queria participantes, habitantes das minhas obras."
Acconci também morou numa espécie de obra. Viveu anos no mesmo loft em que Gordon Matta-Clark testou suas alterações arquitetônicas. Era o artista que ficou conhecido por furar, rachar e desconstruir prédios em Manhattan e pelo mundo. Esse frescor voraz vai respingar depois nos projetos arquitetônicos de Acconci.
"Ele fazia suas obras no espaço urbano removendo coisas, não acrescentando", lembra.

"Arquitetura totalitária"
Acconci então passou a esvaziar galerias e destacar a construção do espaço. Na instalação "Instant House", visitantes acionavam um mecanismo que fazia brotar do piso portas, paredes, janelas. "Queria grudar na arquitetura a todo custo."
Mas uma vez colado nela, perguntava o que fazer. Uma de suas obras era uma mesa no espaço expositivo que se prolongava para fora da janela, uma espécie de trampolim sobre a cidade lá embaixo. Sua voz gravada era um discurso sem rumo, como se antecipasse a angústia da vida coagida pela arquitetura e convidasse seu público a mergulhar no asfalto.
"A arquitetura pode ser totalitária", diz Acconci. "Hoje em dia eu tento dar mais escolhas aos habitantes das minhas obras." (SILAS MARTÍ)


PRESENTE FUTURO VOL. 2

Quando: de hoje a 13/9; programação em www.oifuturo.org.br
Onde: Oi Futuro (r. Dois de Dezembro, 63, Rio, tel. 0/xx/21/3131-3060)
Quanto: entrada franca




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