São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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Documentário retrata a impostora do 11/9

Filme traz mulher que fingiu ser sobrevivente do ataque ao World Trade Center

Com pseudônimo Tania, ela se tornou a mais célebre sobrevivente dos atentados e até teve encontros com importantes políticos locais

ANDREA MURTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tania Head se tornou nos primeiros anos após o 11 de Setembro a mais célebre sobrevivente do ataque às Torres Gêmeas. Sua história de superação e perda -enquanto ela fugia, ferida, do 78º andar da torre sul, o noivo, David, morria na torre norte- chegou a milhares de pessoas no mundo todo.
Em pouco tempo, ela se tornou presidente da associação de sobreviventes. Chegou a ser recebida por políticos de primeira grandeza dos EUA. Só em 2006 a verdade veio à tona.
Tania Head nunca existiu.
A mulher loira, baixinha e gordinha que causou tanta compaixão e admiração no país se chama, na verdade, Alicia Esteves Head. É espanhola e nem sequer estava em Nova York quando o World Trade Center foi destruído. A família do suposto noivo jamais ouvira falar dela. Os e-mails semanais que enviava a outros sobreviventes narrando a luta para livrar-se do trauma eram fantasia.
A saga de uma das mentiras mais bem contadas da última década será exibida hoje às 21h pelo canal pago GNT, na estreia do documentário "A Impostora do 11/9". Uma mistura de imagens de arquivo, entrevistas e depoimentos de sobreviventes (verdadeiros), o filme trabalha bem com elementos de tensão e emoção, e não só pela sensibilidade do tema ou pelos contos reais de heroísmo.

Repúdio e gratidão
Gerry Bogacz, cofundador da Rede de Sobreviventes, foi uma das pessoas tocadas por Tania.
Ele trabalhava no 82º andar da torre norte e diz no documentário ter compartilhado vários desabafos com a impostora.
Bogacz conta ter percebido, ao longo do tempo, discrepâncias em seus relatos. Algumas vezes, ela dizia que era noiva; outras, casada. Ao descobrir que o bombeiro voluntário Welles Crowther, que morreu nos ataques, salvou diversas pessoas, Tania incorporou a presença dele em sua história.
Ainda assim, Bogacz -como outros- só mudou de posição quando o "New York Times" finalmente publicou uma reportagem questionando a veracidade da experiência dela, em setembro de 2006.
Mesmo depois de saber a verdade, muitos mantiveram dose de gratidão, como a sobrevivente Carrie Sullivan. "Ela fez muitas coisas boas por nós. É é difícil descartar tudo isso", diz.
Tania colaborou de verdade.
Não só doou dinheiro como transformou o grupo de sobreviventes em uma organização oficial. Obteve financiamento do governo. Conseguiu permissão para a primeira visita de sobreviventes ao marco zero, em 2003. Foi guia voluntária do local -os primeiros a ouvi-la foram o prefeito Michael Bloomberg e o ex-prefeito Rudolph Giuliani, durante inauguração do memorial pelas vítimas.
Alicia deixou os holofotes sem nunca se explicar. Como jamais lucrou financeiramente, seu comportamento nos EUA não foi criminoso. Acredita-se que ela tenha deixado o país.
Algum tempo depois, segundo o documentário, os sobreviventes reais receberam um e-mail que dizia que ela havia cometido suicídio. Mas, a esta altura, ninguém sabe mais no que acreditar.


A IMPOSTORA DO 11/9

Direção: James Cruemel
Quando: hoje, às 21h, no GNT
Classificação: livre




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