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"Carta Aberta" revelou antes o que história confirmou
LUÍS EBLAK
DE SÃO PAULO
Se "Operação Massacre"
projetou o trabalho de
Walsh, "Carta Aberta de Um
Escritor à Junta Militar" é
uma obra documental que
encerrou sua carreira e vida.
Assinado em 24/3/1977
-data do primeiro aniversário da ditadura militar argentina (1976-1983)-, o texto foi
enviado para a imprensa do
país e a do exterior. Expôs,
com precisão incrível para a
época, diversas verdades escondidas pelo governo.
Já no dia seguinte, Walsh
se tornou um dos 30 mil desaparecidos daquele curto e
cruel regime. Foi perseguido,
sequestrado e levado para a
temida Esma (Escola de Mecânica da Armada) -centro
de detenção e tortura.
Incluída como anexo desta edição de "Operação", a
carta denuncia a repressão
militar -"15 mil desaparecidos, 10 mil presos, 4.000
mortos"-, a prática de jogar
corpos de opositores ao mar e
o fracasso da economia "ditada pelo FMI" -"400%" de
inflação.
Também citou mortes de
estrangeiros relacionadas,
sabe-se hoje, à Operação
Condor (plano integrado de
governos militares da América Latina contra opositores).
Provavelmente o descobridor de Walsh no Brasil, Marcos Faerman (1943-1999) escreveu, em "Versus" -jornal
da imprensa alternativa que
circulou de 1975 a 1979-, que
o argentino também fez jornalismo investigativo antes
mesmo de esse conceito ser
inventado nos anos 1970.
Explica-se: Faerman e a
turma de "Versus" se impressionavam com o compromisso de Walsh na busca da verdade, mesmo que ela pudesse lhe custar a vida.
Na "Carta", Walsh escreveu que seu compromisso
era "testemunhar momentos
difíceis", o que Faerman chamava de "consciência". "A
consciência dói, às vezes mata", escreveu ele após o "sumiço" de Walsh. No caso da
carta, "doeu e matou".
"Carta Aberta de Um Escritor à Junta Militar" não mudou a história argentina. Repercutiu na opinião pública
mundial, mas a ditadura daquele país não se tornou menos genocida do que já era.
Mas antecipou coisas que a
história confirmaria depois.
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