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TEATRO - CRÍTICA
"Da Gaivota" chega a São Paulo sem frescor
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Estabelecida, configurada afinal,
depois das apresentações pelo
país, de Curitiba a Salvador e ao
Rio, "Da Gaivota" chegou a São
Paulo sem o frescor das primeiras
apresentações. Havia muito de
procura, de criação diante do público, que era precioso, num espetáculo que fala do próprio teatro.
As atuações de Fernanda Montenegro como Arkádina, a grande
atriz, de Matheus Nachtergaele como seu filho Treplev, jovem autor
de teatro, e de Celso Frateschi como Trigórin, escritor consagrado e
amante de Arkádina, ganharam o
que parece ser um desenho final.
Um desenho mais para o correto
do que para o brilhante.
Fernanda Torres, como Nina, a
jovem atriz, também perdeu mais
do que ganhou. A insegurança na
busca do personagem era tocante,
anteriormente; agora, a atriz como
que se estabilizou, ou ainda, se resignou -o que conflita com a afirmativa de Nina, central para a peça, da "perseverança".
Antônio Abujamra, por outro lado, surgiu agora como um contraponto de humor e alguma ironia,
muito bem-vinda.
Mas talvez seja problema mais de
quem vê um espetáculo vezes seguidas. A surpresa se perde, e as
imperfeições, antes pouco notadas, ganham realce.
O que realça, ao menos da apresentação de estréia em São Paulo, é
uma encenação decidida a exilar as
impressões -na expressão de
Treplev para descrever suas próprias e perdidas criações.
As impressões (ou ainda e melhor, de Treplev, num oráculo do
artista do século 20, os delírios e
imagens) no teatro são em geral,
mas não necessariamente, dadas
por música, cenário, iluminação. E
Daniela Thomas, em sua primeira
direção, restringiu a música a intervenções pontuais, ao contrário
de Gerald Thomas, por exemplo,
bem como o cenário, os figurinos,
a iluminação, todos absolutamente esmaecidos.
O teatro, ainda que com grandes
atores em cena, sente a ausência
deles, os delírios e imagens.
Ou melhor, quem sente realmente é o público. Na estréia se viu
mais de um espectador cair no sono. Pior, muito pior, um deles afetou quase metade da apresentação
com um ronco alto.
Ainda se mantém na montagem
a essência das buscas desesperadas
dos jovens Nina e Treplev, assim
como dos questionamentos algo
traiçoeiros que se fazem os já estabelecidos Arkádina e Trigórin. Falta reencontrar o teatro que é, afinal, o tema da peça.
²
Peça: Da Gaivota
Autor: Anton Tchecov
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, tel. 011/5080-3000)
Quanto: R$ 20 (qui., sex. e dom.) e R$ 25
(sáb.)
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