São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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TEATRO - CRÍTICA
"Da Gaivota" chega a São Paulo sem frescor

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Estabelecida, configurada afinal, depois das apresentações pelo país, de Curitiba a Salvador e ao Rio, "Da Gaivota" chegou a São Paulo sem o frescor das primeiras apresentações. Havia muito de procura, de criação diante do público, que era precioso, num espetáculo que fala do próprio teatro.
As atuações de Fernanda Montenegro como Arkádina, a grande atriz, de Matheus Nachtergaele como seu filho Treplev, jovem autor de teatro, e de Celso Frateschi como Trigórin, escritor consagrado e amante de Arkádina, ganharam o que parece ser um desenho final. Um desenho mais para o correto do que para o brilhante.
Fernanda Torres, como Nina, a jovem atriz, também perdeu mais do que ganhou. A insegurança na busca do personagem era tocante, anteriormente; agora, a atriz como que se estabilizou, ou ainda, se resignou -o que conflita com a afirmativa de Nina, central para a peça, da "perseverança".
Antônio Abujamra, por outro lado, surgiu agora como um contraponto de humor e alguma ironia, muito bem-vinda.
Mas talvez seja problema mais de quem vê um espetáculo vezes seguidas. A surpresa se perde, e as imperfeições, antes pouco notadas, ganham realce.
O que realça, ao menos da apresentação de estréia em São Paulo, é uma encenação decidida a exilar as impressões -na expressão de Treplev para descrever suas próprias e perdidas criações.
As impressões (ou ainda e melhor, de Treplev, num oráculo do artista do século 20, os delírios e imagens) no teatro são em geral, mas não necessariamente, dadas por música, cenário, iluminação. E Daniela Thomas, em sua primeira direção, restringiu a música a intervenções pontuais, ao contrário de Gerald Thomas, por exemplo, bem como o cenário, os figurinos, a iluminação, todos absolutamente esmaecidos.
O teatro, ainda que com grandes atores em cena, sente a ausência deles, os delírios e imagens.
Ou melhor, quem sente realmente é o público. Na estréia se viu mais de um espectador cair no sono. Pior, muito pior, um deles afetou quase metade da apresentação com um ronco alto.
Ainda se mantém na montagem a essência das buscas desesperadas dos jovens Nina e Treplev, assim como dos questionamentos algo traiçoeiros que se fazem os já estabelecidos Arkádina e Trigórin. Falta reencontrar o teatro que é, afinal, o tema da peça.
²

Peça: Da Gaivota
Autor: Anton Tchecov
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 011/5080-3000)
Quanto: R$ 20 (qui., sex. e dom.) e R$ 25 (sáb.)




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