São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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NOBEL

Editora espanhola Planeta, que vai estrear uma filial no país, já detém direitos de quatro romances de Imre Kertész

Premiado sairá no Brasil por nova editora

DO ENVIADO A FRANKFURT

A gigante editorial espanhola Planeta estréia com pé direito na sua empreitada de montar uma filial no Brasil. Duas horas antes do anúncio do Nobel os três editores brasileiros contratados para começar o catálogo da Planeta nacional compraram os direitos de quatro romances de Imre Kertész.
Os livros, entre eles o grande sucesso do romancista húngaro, "Sorstalanság" ("Sem Destino"), de 1975, ainda não têm data para sair no Brasil.
Igualmente sem calendário está a estréia da Planeta no país, rumos que devem ser decididos na semana que vem, quando os editores brasileiros se reúnem em Barcelona com a cúpula da empresa espanhola.
"Isso é que chamo de sorte de principiante", disse Lanna, que até quinta-feira passada trabalhava para a Companhia das Letras.
"Existe toda uma literatura completamente esquecida no Brasil. E atrás disso é que estamos", completou Paulo Roberto Pires, que junto com Lanna e Pascoal Soto, comemorava o Nobel no estande da editora alemã Rowohlt, dona dos direitos mundiais de Kertész.
Mais feliz que o trio brasileiro, só estava a responsável pela publicação do húngaro na Alemanha.
Siv Bublitz, que convenceu a Rowohlt a comprar todo o trabalho do romancista, disse à Folha que o Nobel do autor não foi apenas de literatura, mas também o da paz.
"Ele viveu o pior que a humanidade já experimentou e eu nunca encontrei alguém que transmitisse tanta paz quanto Kertész", define Bublitz.
Segundo ela, o escritor não viria a Frankfurt, mas daria uma entrevista coletiva na tarde de hoje em Berlim, onde o autor está trabalhando em seu próximo romance, previsto para 2003.

"Kadish"
Os quatro títulos adquiridos pela Planeta não são os primeiros de Kertész no Brasil. A Imago lançou por aqui, em 1995, "Kadish Por uma Criança Não Nascida". O livro teve sua edição de 3.000 exemplares esgotada dois anos depois. A editora não sabe ainda se será reeditada a obra, o que depende de renegociação com a agente de Kertész.
Em conversa com seus editores brasileiros, à época do lançamento, o escritor, falando de seus textos, afirmou: "Às vezes me esgueiro pela cidade como uma fuinha sarnenta que sobrou após o grande extermínio".
"Kadish" é um monólogo interior, no qual o autor relata uma existência de tragédias. Kertész fala das lembranças dos campos de extermínio nazistas, de momentos terríveis da infância e da adolescência, e descreve, ainda, um casamento marcado pela infelicidade. "Apenas o fracasso resta como a única certeza que conseguimos ter", escreve ele.


Colaborou MARCELO REZENDE, da Reportagem Local


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