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MÚSICA
Em entrevista, líder da banda que se celebrizou pela trilha do filme "La Bamba" fala de "Good Morning Aztlán"
Aos 29, Los Lobos lançam seu melhor CD
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Há esperança, e muita. No ano
que vem, o grupo norte-americano de "chicano rock" Los Lobos
completa 30 anos. Em vez de ter
virado hoje uma caricatura de si
própria, a banda encontrou inspiração para pôr na praça o melhor
disco da carreira, o recém-lançado "Good Morning Aztlán".
Isso está longe de ser pouco. Os
cinco rapazes de origem mexicana radicados no leste de Los Angeles cuidaram de salpicar pequenas obras-primas -do tradicionalista "La Pistola y el Corazón"
ao experimental "Kiko"- ao longo das últimas três décadas.
Ao conversar com David Hidalgo, guitarrista e mais prolífero
compositor da banda, a coisa parece ter sido simples fruto do acaso. "Entramos no estúdio com
apenas esboços e idéias. Preparei
alguns demos no estúdio que
montei na garagem da minha casa e mostrei aos demais, mas nós
nem sequer ensaiamos", disse ele,
por telefone, à Folha.
Apesar da aparente candura
com que o repertório foi montado, alguns acertos estratégicos explicam como "Good Morning Aztlán" consegue ser a mais completa transcrição do "sonido" produzido pelo grupo.
Primeiro: a escolha do produtor. John Leckie já trabalhou com
Radiohead e Kula Shaker e foi engenheiro de som em discos como
"The Dark Side of the Moon", do
Pink Floyd, e "All Things Must
Pass", de George Harrison.
Com essa experiência, ele garantiu que o som dos Lobos chegasse inteiro às caixas. Acústico e
lírico em algumas faixas, pesado e
sujo em outras.
"Ele veio trazer um pouco da velha escola de produção ao nosso
trabalho", resume Hidalgo. Mas
Leckie foi além. Nunca o som das
guitarras foi tão pleno em um trabalho da banda.
Acerto número dois: a variedade de estilos. Há desde rock com
harmonia blueseira ("Done Gone
Blue") até rumba ("Maria Cristina"), chegando a levadas quase
punk (a faixa-título). Passado pelo liquidificador da banda, em vez
de soar como coletânea, um repertório assim só serve para evidenciar o quanto o sotaque dos
Lobos torna seu tudo o que toca.
Além dos anos de estrada, colaboraram para o desenvolvimento
dessa característica a série de trilha sonoras para cinema -a mais
famosa é "La Bamba", mas participaram também de "A Balada do
Pistoleiro" e "Um Drinque no Inferno"- e projetos paralelos.
"Hoje já não ligamos mais, mas
no começo nos incomodava o fato de as pessoas nos conhecerem
apenas como a banda que toca "La
Bamba'", desabafa o guitarrista.
Quanto aos projetos paralelos,
ele afirma que isso não põe em
risco a amizade entre os músicos:
"O único problema é que, às vezes, há alguns problemas de agenda, mas nós nunca brigamos. É
claro que, nesse tempo todo, houve momentos de resistência, mas
nunca de hostilidade. Nunca sabotamos o trabalho do outro".
Segundo Hidalgo, não há planos para celebrar os 30 anos do
grupo. Também não há indícios
de uma segunda visita ao Brasil,
onde estiveram em 96 para participar no festival Nescafé & Blues.
GOOD MORNING AZTLÁN. Artista: Los
Lobos. Lançamento: Warner. Quanto: R$
25, em média.
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