São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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MÚSICA

Em entrevista, líder da banda que se celebrizou pela trilha do filme "La Bamba" fala de "Good Morning Aztlán"

Aos 29, Los Lobos lançam seu melhor CD

EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Há esperança, e muita. No ano que vem, o grupo norte-americano de "chicano rock" Los Lobos completa 30 anos. Em vez de ter virado hoje uma caricatura de si própria, a banda encontrou inspiração para pôr na praça o melhor disco da carreira, o recém-lançado "Good Morning Aztlán".
Isso está longe de ser pouco. Os cinco rapazes de origem mexicana radicados no leste de Los Angeles cuidaram de salpicar pequenas obras-primas -do tradicionalista "La Pistola y el Corazón" ao experimental "Kiko"- ao longo das últimas três décadas.
Ao conversar com David Hidalgo, guitarrista e mais prolífero compositor da banda, a coisa parece ter sido simples fruto do acaso. "Entramos no estúdio com apenas esboços e idéias. Preparei alguns demos no estúdio que montei na garagem da minha casa e mostrei aos demais, mas nós nem sequer ensaiamos", disse ele, por telefone, à Folha.
Apesar da aparente candura com que o repertório foi montado, alguns acertos estratégicos explicam como "Good Morning Aztlán" consegue ser a mais completa transcrição do "sonido" produzido pelo grupo.
Primeiro: a escolha do produtor. John Leckie já trabalhou com Radiohead e Kula Shaker e foi engenheiro de som em discos como "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, e "All Things Must Pass", de George Harrison.
Com essa experiência, ele garantiu que o som dos Lobos chegasse inteiro às caixas. Acústico e lírico em algumas faixas, pesado e sujo em outras.
"Ele veio trazer um pouco da velha escola de produção ao nosso trabalho", resume Hidalgo. Mas Leckie foi além. Nunca o som das guitarras foi tão pleno em um trabalho da banda.
Acerto número dois: a variedade de estilos. Há desde rock com harmonia blueseira ("Done Gone Blue") até rumba ("Maria Cristina"), chegando a levadas quase punk (a faixa-título). Passado pelo liquidificador da banda, em vez de soar como coletânea, um repertório assim só serve para evidenciar o quanto o sotaque dos Lobos torna seu tudo o que toca.
Além dos anos de estrada, colaboraram para o desenvolvimento dessa característica a série de trilha sonoras para cinema -a mais famosa é "La Bamba", mas participaram também de "A Balada do Pistoleiro" e "Um Drinque no Inferno"- e projetos paralelos.
"Hoje já não ligamos mais, mas no começo nos incomodava o fato de as pessoas nos conhecerem apenas como a banda que toca "La Bamba'", desabafa o guitarrista.
Quanto aos projetos paralelos, ele afirma que isso não põe em risco a amizade entre os músicos: "O único problema é que, às vezes, há alguns problemas de agenda, mas nós nunca brigamos. É claro que, nesse tempo todo, houve momentos de resistência, mas nunca de hostilidade. Nunca sabotamos o trabalho do outro".
Segundo Hidalgo, não há planos para celebrar os 30 anos do grupo. Também não há indícios de uma segunda visita ao Brasil, onde estiveram em 96 para participar no festival Nescafé & Blues.


GOOD MORNING AZTLÁN. Artista: Los Lobos. Lançamento: Warner. Quanto: R$ 25, em média.



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