São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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A reinvenção do Radiohead

Chega ao mercado o 7º disco da banda, mas por download e com preço definido pelo público

Leon Neal/France Presse
Thom Yorke, do Radiohead


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A Terra não parou de girar às 3h29 de ontem, mas, desde então, o mundo da música pop teve seu eixo de rotação sensivelmente alterado.
Às 3h29, chegou e-mail enviado pelo estafe do Radiohead com o link em que era possível fazer o download de "In Rainbows", o sétimo disco de estúdio do grupo britânico.
"In Rainbows" representa um novo paradigma da música pop por pelo menos dois fatores: 1) não coloca intermediário entre o consumidor e o artista (o Radiohead lança o disco de forma autoral, sem o apoio de uma gravadora); 2) o consumidor decide quanto quer pagar.
A banda, liderada pelo vocalista Thom Yorke, anunciou o lançamento de "In Rainbows" no domingo retrasado (30 de setembro). O álbum poderia (e ainda pode) ser adquirido no site www.inrainbows.com.
O fã da banda tem duas opções: comprar o disco por download ou uma edição especial. A opção download traz as dez faixas do álbum, no formato MP3, a 160 kbps (ou seja, inferior à qualidade de um CD).
O consumidor é quem digita no site a quantia que deseja pagar pelo download -a partir de um centavo de libra esterlina. O estafe do Radiohead ainda não divulgou o preço médio pago pelos internautas.
Alguns sites e blogs (como o www.nme.com e o www.stereogum.com) fizeram pesquisas informais para ver quanto os fãs pagaram. Muita gente dizia ter pago entre 1 e 5 libras (entre R$ 3,68 e R$ 18,40) -este repórter pagou 2 libras, mais a taxa de administração de 0,45 libra.
"Embora a idéia seja a de o usuário escolher o valor, muita gente decidiu pagar preços semelhantes aos convencionais. Poucos escolheram valores de centavos", disse à BBC Murray Chalmers, porta-voz da banda.
Um outra opção disponível é comprar, por 40 libras (R$ 147), a edição especial: além das dez músicas do álbum, há um CD bônus com inéditas, dois vinis e um libreto.
Uma edição convencional, em um único CD, deve ser lançada no início do ano que vem.

Sem gravadora
Bandas lançando discos sem o apoio de gravadoras e/ou oferecendo download de graça não são novidade. Mas o Radiohead é o primeiro artista já estabelecido, mundialmente popular, a adotar tais medidas. Antes de "In Rainbows", a banda, formada em 1991, havia lançado seis álbuns; o último, "Hail to the Thief" (2003), encerrou o contrato do Radiohead com a EMI. Só nos EUA e no Reino Unido, os discos do grupo venderam 13 milhões de cópias.
Na madrugada de ontem, após o e-mail ter sido enviado aos fãs da banda, o site www.inrainbows.com chegou a ficar fora do ar devido ao excesso de tráfego. Um assessor do grupo disse à BBC que havia muita gente tentando fazer download do álbum na Inglaterra e na costa leste dos EUA.

O disco
O álbum "Kid A", de 2000, mostrou o Radiohead saindo da seara do rock-pop e entrando num campo mais experimental, alheio ao formato tradicional da canção. "In Rainbows" mostra que a banda continua trilhando esse caminho.
A banda do hino "Creep", de baladas como "Fake Plastic Trees" ou "No Surprises" parece não existir mais.
Das dez músicas de "In Rainbows", não há nenhuma que possa ser considerada um "single", música para ser tocada em rádios. São faixas que não privilegiam a melodia, mas texturas sonoras.
O andamento das músicas vai se alternando, cada faixa parece conter vários fragmentos. Há muitos ruídos e barulhos espalhados aqui e ali; a voz de Thom Yorke continua desconexa, às vezes frenética, às vezes lamuriosa; as guitarras são contidas -não há riffs.
"15 Steps", "Bodysnatchers" e "Weird Fishes/Arpeggi" e "House of Cards" são as mais... convencionais. As duas primeiras têm bateria e guitarra sujas, ruidosas -são o mais perto que o Radiohead chega do rock.
"Nude", "All I Need" e "Videotape" são lentas, de clima sombrio, melancólico.
Como seu primo "Kid A", "In Rainbows" é um disco de assimilação nada fácil. Você vai ouvir, ouvir e encontrar novos significados. O álbum está aberto a interpretações. Qual é a sua?


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