São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Roberta Gambarini traz seu jazz improvisado ao Tim Festival

Ás do "scat singing", intérprete italiana diz à Folha ser fã de Leny Andrade

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mundo do jazz é muito diferente do mundo da música pop: quando surge um nome novo, não há revistas semanais, centenas de blogs, novidadeiros de plantão para anunciar a descoberta. Em compensação, o boca-a-boca funciona quase como numa seita, em que se passam adiante as últimas descobertas com excitação: "descobri", parecem dizer -como um segredo compartilhado- os ouvintes atentos aos amigos interessados.
A cantora italiana Roberta Gambarini sentiu isso na pele. Sem grandes destaques na imprensa, seu nome parece ser invariavelmente evocado acompanhado de exclamações e impressões positivas. E essa corrente do bem das boas novidades se espalhou tanto que trouxe a intérprete ao Brasil: no fim deste mês, ela se apresenta no Tim Festival -dia 26, em São Paulo, 27, no Rio de Janeiro e 29, em Vitória.
Com 30 e poucos anos ("estou sendo deliberadamente vaga"), morando nos Estados Unidos há nove, com dois discos lançados no país (um deles gravado ao lado do pianista Hank Jones), Gambarini conversou com a Folha por telefone, de Nova York, onde mora.
Mostrando intimidade com o Brasil, ela já se adianta a dizer que tem parentes e amigos por aqui e já visitou o país algumas vezes -uma delas, inclusive, para cantar, ao lado do trompetista Roy Hargrove, na casa carioca Mistura Fina. E surpresa: sua cantora favorita é brasileira. Mas nada de obviedades: Gambarini é fã da pouco conhecida mas universalmente elogiada Leny Andrade.
"Eu amo a música brasileira", conta. "Meus pais eram muito fãs de jazz e da música do Brasil, então isso é algo que ouço desde pequena. E, na Itália, a música brasileira sempre foi muito famosa. Eu via constantemente na TV gente como Elis Regina e Toquinho. E, sem fazer diferenciações entre estilos e países, posso dizer que minha cantora favorita, por várias razões, é a Leny Andrade."
Faz sentido: as habilidades vocais de Gambarini revelam seu interesse pelo improviso e pelo uso da voz como um instrumento, especialidades da nossa Leny.

Mestra do scat
Longe da tendência cool das mais famosas cantoras de hoje em dia (leia-se Norah Jones, Diana Krall, Madeleine Peyroux), passeando pelas oitavas com naturalidade e encontrando-se entre os estilos de cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Carmem McRae, Gambarini é uma mestra moderna do scat singing, aquela técnica de cantar esticando a melodia em onomatopéias.
"Cantar em scat singing é uma coisa natural", explica a cantora. "Você tem que gostar daquilo por natureza, tem que fazer desde pequeno. Você pode depois estudar e desenvolver, mas tem que ser algo natural. Eu costumava fazer isso desde criança, enquanto ouvia os discos da Ella. É uma coisa que acaba tomando toda a sua vida."
Sem dúvida alguma, o jazz é algo que parece tomar toda a vida de Gambarini. Pergunte a ela o motivo de ela ter debandado da Itália para os Estados Unidos e isso fica claro: "Eu acredito que a arte do jazz você aprende estudando, mas também, principalmente, por osmose, estando no palco com músicos incríveis".
E que lugar melhor para encontrar músicos incríveis do jazz do que na pátria-mãe do estilo? E Gambarini estava certa: em pouco tempo, já dividia o palco com ídolos como Ron Carter, Wayne Shorter, Jimmy Heath, James Moody, Slide Hampton, Hank Jones, Benny Carter.
Mas é inevitável a pergunta: as pessoas costumam vê-la como uma cantora de jazz ou uma cantora italiana de jazz? "Com músicos, especialmente com os melhores, não faz diferença de onde você é", ela responde. "Só interessa o jeito que você canta. Para o público, é um pouco diferente, especialmente porque não há nenhuma cantora italiana de jazz que seja conhecida. Mas isso não faz diferença: aqui tem gente do mundo todo, e as pessoas se comunicam pela música."
E isso, afinal, esteja você na Itália, nos EUA ou no Brasil, é algo que não muda.


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