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Faap exibe a obra e o tempo de Gautherot
Produção do fotógrafo francês foi marcada pela Nova Objetividade da década de 30
Em 1941, Segunda Guerra trouxe artista ao Brasil, onde clicou o crescimento das metrópoles, a flora e as manifestações populares
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O tempo é o agente que sedimenta e redimensiona a história dos homens. Uma boa
amostra disso é a exposição "O Olho Fotográfico: Marcel Gautherot e Seu Tempo", aberta ao
público a partir de hoje, no Museu de Arte Brasileira da Faap,
em São Paulo.
A mostra faz uma retrospectiva minuciosa da carreira do
fotógrafo francês Marcel Gautherot (1910-1996), que viveu
no Brasil de 1941 até sua morte,
colocando em foco não apenas
sua obra, mas estabelecendo
um interessante diálogo com
artistas de sua geração. Em
meio às suas fotografias, estão
expostas também obras de Henri Cartier-Bresson, Pierre
Verger, uma pintura do modernista José Pancetti e móveis de
Le Corbusier, entre outros.
Com curadoria da historiadora Heliana Angotti-Salgueiro, em parceria com a antropóloga Lygia Segala, a mostra parte de obras dos anos 30, quando
Gautherot se inicia na fotografia, num primeiro momento
apenas com o intuito de registrar seus trabalhos como arquiteto e decorador.
Entre 1936 e 1939, Gautherot
trabalhou no Museu do Homem, em
Paris. O contato
com Pierre Verger,
então encarregado
do laboratório fotográfico da instituição, e com antropólogos e etnólogos viria a definir
seu destino. A serviço do museu, viaja ao México em
1936, onde, de
acordo com as pesquisadoras, "concretizou sua opção
pela fotografia".
Os anos 30 marcam a história da
arte, e da fotografia
em particular, por
uma retomada da
objetividade, que
vai gerar a fotografia documentária e
modernista, em
contraponto às experimentações subjetivas das vanguardas
européias. Conhecido como
Nova Objetividade, esse modo
de registro do mundo visível vai
permear a obra de Gautherot,
que tinha em Henri Cartier-Bresson e no mexicano Manuel
Alvarez Bravo as suas maiores
referências.
Em virtude da Segunda
Guerra e da ocupação da França pelos alemães, Gautherot
vem definitivamente para o
Brasil em 1941. As metrópoles
brasileiras em franca expansão,
somadas à exuberância da flora, às manifestações populares
e ao artesanato, foram temas
que se encaixaram perfeitamente no seu exercício de "jornalista científico fotográfico",
como ele se autodenominava.
Por não se adaptar ao trabalho na imprensa, trabalhou a
maior parte do tempo de forma
independente, vendendo muitas das suas fotos para o Patrimônio Histórico.
Extremamente meticuloso,
Gautherot fotografou seus temas pelo Brasil, construindo
narrativas seqüenciais. Na
mostra, pela primeira vez, estão expostas as folhas de contato na quais ele monta as seqüências, por exemplo, do trabalho de jangadeiros. Os planos
abertos vão se fechando até a
busca de detalhes. Nota-se sua
intenção de intervir o mínimo
possível na cena. Um olhar que
denota inclinação à etnografia.
A exposição ainda apresenta
revistas, livros e documentos
que mostram registros de Gautherot e
seus pares. Ponto para o formato da exposição, que parte de
uma pesquisa acadêmica aprofundada e
consegue estabelecer conexões científicas sem perder a
percepção da poética
da passagem do tempo.
O OLHO FOTOGRÁFICO: MARCEL GAUTHEROT E SEU TEMPO
Quando: de hoje a 2 de
dezembro; de ter. a sex.,
das 10h às 20h; sáb. e
dom., das 13h às 17h
Onde: Museu de Arte
Brasileira da Faap - sala
Annie Álvares Penteado
(r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7198
Quanto: entrada franca
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