São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Faap exibe a obra e o tempo de Gautherot

Produção do fotógrafo francês foi marcada pela Nova Objetividade da década de 30

Em 1941, Segunda Guerra trouxe artista ao Brasil, onde clicou o crescimento das metrópoles, a flora e as manifestações populares

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O tempo é o agente que sedimenta e redimensiona a história dos homens. Uma boa amostra disso é a exposição "O Olho Fotográfico: Marcel Gautherot e Seu Tempo", aberta ao público a partir de hoje, no Museu de Arte Brasileira da Faap, em São Paulo.
A mostra faz uma retrospectiva minuciosa da carreira do fotógrafo francês Marcel Gautherot (1910-1996), que viveu no Brasil de 1941 até sua morte, colocando em foco não apenas sua obra, mas estabelecendo um interessante diálogo com artistas de sua geração. Em meio às suas fotografias, estão expostas também obras de Henri Cartier-Bresson, Pierre Verger, uma pintura do modernista José Pancetti e móveis de Le Corbusier, entre outros.
Com curadoria da historiadora Heliana Angotti-Salgueiro, em parceria com a antropóloga Lygia Segala, a mostra parte de obras dos anos 30, quando Gautherot se inicia na fotografia, num primeiro momento apenas com o intuito de registrar seus trabalhos como arquiteto e decorador. Entre 1936 e 1939, Gautherot trabalhou no Museu do Homem, em Paris. O contato com Pierre Verger, então encarregado do laboratório fotográfico da instituição, e com antropólogos e etnólogos viria a definir seu destino. A serviço do museu, viaja ao México em 1936, onde, de acordo com as pesquisadoras, "concretizou sua opção pela fotografia".
Os anos 30 marcam a história da arte, e da fotografia em particular, por uma retomada da objetividade, que vai gerar a fotografia documentária e modernista, em contraponto às experimentações subjetivas das vanguardas européias. Conhecido como Nova Objetividade, esse modo de registro do mundo visível vai permear a obra de Gautherot, que tinha em Henri Cartier-Bresson e no mexicano Manuel Alvarez Bravo as suas maiores referências.
Em virtude da Segunda Guerra e da ocupação da França pelos alemães, Gautherot vem definitivamente para o Brasil em 1941. As metrópoles brasileiras em franca expansão, somadas à exuberância da flora, às manifestações populares e ao artesanato, foram temas que se encaixaram perfeitamente no seu exercício de "jornalista científico fotográfico", como ele se autodenominava.
Por não se adaptar ao trabalho na imprensa, trabalhou a maior parte do tempo de forma independente, vendendo muitas das suas fotos para o Patrimônio Histórico.
Extremamente meticuloso, Gautherot fotografou seus temas pelo Brasil, construindo narrativas seqüenciais. Na mostra, pela primeira vez, estão expostas as folhas de contato na quais ele monta as seqüências, por exemplo, do trabalho de jangadeiros. Os planos abertos vão se fechando até a busca de detalhes. Nota-se sua intenção de intervir o mínimo possível na cena. Um olhar que denota inclinação à etnografia.
A exposição ainda apresenta revistas, livros e documentos que mostram registros de Gautherot e seus pares. Ponto para o formato da exposição, que parte de uma pesquisa acadêmica aprofundada e consegue estabelecer conexões científicas sem perder a percepção da poética da passagem do tempo.


O OLHO FOTOGRÁFICO: MARCEL GAUTHEROT E SEU TEMPO
Quando:
de hoje a 2 de dezembro; de ter. a sex., das 10h às 20h; sáb. e dom., das 13h às 17h
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap - sala Annie Álvares Penteado (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7198
Quanto: entrada franca


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