Mostra "Lusa - A Matriz Portuguesa", centrada em povos que viveram no país, fecha ciclo das origens do Brasil

DA SUCURSAL DO RIO

Depois de "Antes -Histórias da Pré-história" e "Arte da África", o curador Marcello Dantas e o CCBB-RJ fecham um ciclo das origens do Brasil com "Lusa - A Matriz Portuguesa", que será inaugurada hoje. A mostra reúne 147 peças vindas de Portugal, incluindo 38 "tesouros nacionais" -patrimônios portugueses importantes- e objetos que nunca tinham atravessado o Atlântico.
Um deles é um guerreiro celta de granito, provavelmente do século 1 a.C, com quase 2 m de altura e uma tonelada. Fica na parte pré-histórica da mostra.
A maior parte é dividida em blocos referentes a povos que viveram em Portugal: romano, islâmico, judeus e cristãos. O cristianismo acabou se tornando a religião dominante a partir da Idade Média.
"Na exposição, ainda não há reis e rainhas. Quebra-se o paradigma da coroa portuguesa. O que há são o povo, os guerreiros, a identidade portuguesa, que é fascinante", diz Dantas, que não considera os 200 anos da vinda da família real portuguesa para o Brasil um gancho para "Lusa". "É a história de um rei fugindo para o Brasil e pouco desejado aqui. É um período de cisão entre Portugal e Brasil, não de integração."
Cada sala da mostra, que ocupa dois andares do CCBB, tem um curador português. O arqueólogo e historiador Cláudio Torres, que viveu exilado por 15 anos durante o salazarismo, responde pela sala do islamismo, uma vertente da formação portuguesa que vem sendo valorizada em pesquisas recentes.
"O salazarismo criou heróis para justificar sua ideologia.
Eles eram os supostos guerreiros que desceram do Norte para o Sul e teriam expulsado os infiéis, os muçulmanos. Mas isso é historicamente falso. Esses guerreiros eram senhores feudais que invadiram terras de um povo que não veio de fora, mas vivia no Sul há muito tempo", conta Torres.
Numa cama na rotunda do CCBB, as pessoas poderão se deitar e ouvir palavras de várias matrizes da língua portuguesa.