São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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Exposição sobre islã no CCBB do Rio traz acervos da Síria e do Irã

Mostra começa amanhã com mais de 300 peças, muitas das quais nunca haviam saído de seus países

Itamaraty intermediou contatos depois que colecionador privado desistiu de negociações para a exposição

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Um chafariz de 750 quilos encomendado na Síria transformará o hall do prédio neoclássico do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no centro do Rio, num pátio de arquitetura islâmica.
Oito bancos junto à fonte e decoração inspirada na Grande Mesquita de Damasco, sede do primeiro califado, completam o cenário de abertura da exposição "Islã", que começa amanhã.
A mostra ocupará o térreo e o primeiro andar e se inscreve no rol de exposições históricas do CCBB, que já tratou de África (2003), América precolombiana (2004), América Latina (2005) e Portugal (2008). "Islã" abarcará 13 séculos, da "revelação" do Alcorão a Maomé, na península Arábica do século 7, ao fim do Império Otomano.
Incluirá o período, na Idade Média ocidental, em que pensadores muçulmanos recuperaram a filosofia da Antiguidade grega e lideraram estudos de astronomia, medicina e matemática.
O árabe do Alcorão -que pode ser interpretado, mas não traduzido- foi fator de coesão em domínios que, até o século 15, se estendiam à península Ibérica. Portanto, a arte da caligrafia na língua que nos legou palavras como algodão, alface, frango e moleque terá destaque.
Entre tapetes, cerâmicas, joias, gravuras, vestimentas e instrumentos científicos, são mais de 300 peças.
A maioria veio de museus da Síria e do Irã e nunca havia saído desses países. Os objetos do norte africano vieram da BibliAspa (Biblioteca América do Sul-Países Árabes) e da Casa das Áfricas.
"Queremos criar um diálogo com o público baseado em informações elementares da cultura islâmica, para que tire suas conclusões", diz Rodolfo Athayde, idealizador e um dos curadores de "Islã" e que montou, entre outras, a "Virada Russa" (2009).
"A intenção é mostrar como o islã não é monolítico e dialoga com tradições distintas", diz Paulo Daniel Farah, professor da USP e diretor da BibliAspa, correalizador e coordenador da mostra.
As boas relações da diplomacia brasileira com Irã e Síria ajudaram a assegurar a exposição. O projeto foi aprovado há dois anos, mas oito meses atrás o britânico de origem iraniana David Khalili, dono da maior coleção privada de arte islâmica e que forneceria grande parte das peças, desistiu de negociar.
A BibliAspa já negociava com museus sírios uma exposição no Brasil em 2011.
Transferiu esforços para a mostra atual.
Farah negociou a vinda de nove toneladas de objetos dos museus Nacional de Damasco, de Aleppo e de Tradições Populares sírio.
Os contatos com a Embaixada iraniana, intermediados pelo Itamaraty, começaram em julho. De Teerã, Athayde trouxe peças dos museus Nacional do Irã, dos Tapetes e Reza Abassi.
O curador lamenta não ter conseguido joias do Palácio TopKapi, na Turquia. Mas diz que as fontes deram dois "valores próprios" à mostra: o fato de a Síria ter sido parte da era fundacional do islã e a montagem independente, sem pacote pronto.
O islã se opõe à representação de seres humanos. Isso motivou o uso das formas geométricas e florais predominantes na mostra.
Os arabescos também têm sentido religioso, diz Farah: "Quando olhamos o todo, há a ideia de que Deus é único. De perto, vem a multiplicidade da criatura".
Mas há pessoas em ilustrações literárias, que incluem os clássicos "Shahnameh", o Livro dos Reis persa, e "Laila e Majmun", saga árabe de um jovem que enlouquece e pega fogo quando o pai proíbe que se case com a amada. A mostra segue a São Paulo (17/01) e Brasília (24/ 04).


ISLÃ
ONDE CCBB Rio, r. Primeiro de Março, 66, centro
QUANDO de amanhã a 26 de dezembro, ter. a dom., 9h às 21h
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre




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