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Exposição sobre islã no CCBB do Rio traz acervos da Síria e do Irã
Mostra começa amanhã com mais de 300 peças, muitas das quais nunca haviam saído de seus países
Itamaraty intermediou contatos depois que colecionador privado desistiu de negociações para a exposição
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Um chafariz de 750 quilos
encomendado na Síria transformará o hall do prédio neoclássico do CCBB (Centro
Cultural Banco do Brasil), no centro do Rio, num pátio de arquitetura islâmica.
Oito bancos junto à fonte e decoração inspirada na
Grande Mesquita de Damasco, sede do primeiro califado,
completam o cenário de abertura da exposição "Islã", que começa amanhã.
A mostra ocupará o térreo e o primeiro andar e se inscreve no rol de exposições
históricas do CCBB, que já tratou de África (2003), América precolombiana (2004),
América Latina (2005) e Portugal (2008). "Islã" abarcará 13 séculos, da "revelação" do
Alcorão a Maomé, na península Arábica do século 7, ao fim do Império Otomano.
Incluirá o período, na Idade Média ocidental, em que pensadores muçulmanos recuperaram a filosofia da Antiguidade grega e lideraram estudos de astronomia, medicina e matemática.
O árabe do Alcorão -que pode ser interpretado, mas não traduzido- foi fator de coesão em domínios que, até o século 15, se estendiam à península Ibérica. Portanto, a arte da caligrafia na língua que nos legou palavras como algodão, alface, frango e moleque terá destaque.
Entre tapetes, cerâmicas,
joias, gravuras, vestimentas
e instrumentos científicos, são mais de 300 peças.
A maioria veio de museus
da Síria e do Irã e nunca havia saído desses países. Os
objetos do norte africano vieram da BibliAspa (Biblioteca
América do Sul-Países Árabes) e da Casa das Áfricas.
"Queremos criar um diálogo com o público baseado em
informações elementares da
cultura islâmica, para que tire suas conclusões", diz Rodolfo Athayde, idealizador e
um dos curadores de "Islã" e que montou, entre outras, a "Virada Russa" (2009).
"A intenção é mostrar como o islã não é monolítico e
dialoga com tradições distintas", diz Paulo Daniel Farah,
professor da USP e diretor da
BibliAspa, correalizador e coordenador da mostra.
As boas relações da diplomacia brasileira com Irã e Síria ajudaram a assegurar a
exposição. O projeto foi aprovado há dois anos, mas oito
meses atrás o britânico de
origem iraniana David Khalili, dono da maior coleção privada de arte islâmica e que
forneceria grande parte das peças, desistiu de negociar.
A BibliAspa já negociava com museus sírios uma exposição no Brasil em 2011.
Transferiu esforços para a mostra atual.
Farah negociou a vinda de
nove toneladas de objetos
dos museus Nacional de Damasco, de Aleppo e de Tradições Populares sírio.
Os contatos com a Embaixada iraniana, intermediados pelo Itamaraty, começaram em julho. De Teerã,
Athayde trouxe peças dos museus Nacional do Irã, dos Tapetes e Reza Abassi.
O curador lamenta não ter
conseguido joias do Palácio
TopKapi, na Turquia. Mas diz
que as fontes deram dois "valores próprios" à mostra: o
fato de a Síria ter sido parte da era fundacional do islã e a montagem independente, sem pacote pronto.
O islã se opõe à representação de seres humanos. Isso
motivou o uso das formas
geométricas e florais predominantes na mostra.
Os arabescos também têm
sentido religioso, diz Farah:
"Quando olhamos o todo, há
a ideia de que Deus é único.
De perto, vem a multiplicidade da criatura".
Mas há pessoas em ilustrações literárias, que incluem
os clássicos "Shahnameh", o
Livro dos Reis persa, e "Laila
e Majmun", saga árabe de
um jovem que enlouquece e
pega fogo quando o pai proíbe que se case com a amada.
A mostra segue a São Paulo (17/01) e Brasília (24/ 04).
ISLÃ
ONDE CCBB Rio, r. Primeiro de Março, 66, centro
QUANDO de amanhã a 26 de dezembro, ter. a dom., 9h às 21h
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
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