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Música eletrônica
nacional ganha sua
primeira coletânea, um mecenas e
prepara invasão de
pistas estrangeiras
Tecno brasileiro sai do subterrâneo
CAMILO ROCHA
especial para a Folha
Daqui a um mês sai um dos discos mais importantes para a música brasileira nesta década: a coletânea "Electronic Music Brasil". É
o primeiro registro em disco que
mapeia o agitado subterrâneo da
música eletrônica feita no país.
Espantado? Pois é verdade, o
Brasil não tem só boas raves, bons
clubes e bons DJs. Tem também
bons artistas fazendo música eletrônica. Já é um cenário rico em
variações. Tem o XRS Land fazendo drum'n'bass, o Ram Science fazendo tecno violento, o Nude fazendo trance viajante, o Mau Mau
fazendo tecno suingado, o Bid fazendo trip hop.
Tem coisas que poderiam ter sido feitas em qualquer país onde se
ouve tecno/house, como o Oil Filter (banda-irmã do Nude); e tem
outras que são a cara do Brasil, como o remix que o Mad Zoo tem
para o Morcheeba, feito só com
samples de fontes nacionais.
Como toda cena nascente, tem
muita gente talentosa, mas que
ainda necessita de lapidação; e tem
artistas prontos para serem lançados lá fora.
Os 13 artistas presentes na compilação "Electronic Music Brasil"
são bastante representativos no
movimento: Nude, Renato Lopes,
Dr. Além (o produtor Suba), Anderson Noise, Bid, Ram Science
(Ramilson Maia), Loop B, XRS
Land (DJ Xerxes), Mad Zoo (como
Alpha 05), Habitants, Level 202,
M4J, Soul Slinger e Mau Mau. Mas
tem mais gente por aí dominando
com maestria a música via computador, gente como Chelpa, ELM
Project, Ricardo NS, Steve Silva,
Apollo 9 e Bruno E.
É claro que praticamente toda a
mídia e as grandes gravadoras ignoram os acontecimentos, tanto
que nomes como Steve Silva, Ramilson Maia e Leve 202 estão com
lançamentos engatilhados no exterior (lembra o que disse Tom Jobim? "A saída para a música brasileira é o aeroporto.").
Os dois primeiros vão lançar singles por selos independentes americanos e o terceiro por um selo
alemão. A BMG-Ariola há pouco
requisitou músicas de vários artistas desse underground. Todos estavam com a impressão de que a
gravadora pretendia lançar uma
coletânea. Engano, a BMG só estava fazendo o serviço para um selo
francês que queria lançar uma coleção de música eletrônica brasileira na França.
Felizmente, apareceu uma força
independente, dinâmica e de visão
para investir na história: o Mercado Mundo Mix. O MMM parece
ser o mecenas ideal.
Seu mercado, que começou como uma feirinha com 12 estandes,
hoje é um megabazar, visitado por
30 mil pessoas num fim-de-semana. O MMM é um clássico exemplo
do alternativo que vingou sem se
desvirtuar.
O MMM já vinha promovendo
shows com bandas eletrônicas nacionais há algum tempo. Levou o
Habitants, a pioneira das bandas
tecno brasileiras, para se apresentar em mercado que realizou em
Curitiba, Rio e Belo Horizonte.
Agora as ambições são maiores.
Além da coletânea, será criado o
selo Mundo Mix Music para lançar
e trabalhar artistas nacionais.
O Mundo Mix Music será distribuído e parcialmente financiado
pela gravadora Sony, que não terá
nenhuma interferência no âmbito
artístico.
Os artistas terão contrato "de
preferência" com o selo, isso é,
poderão gravar por outros selos
contanto que ofereçam a música
primeiro para o Mundo Mix Music.
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