São Paulo, terça, 11 de novembro de 1997.




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Música eletrônica nacional ganha sua primeira coletânea, um mecenas e prepara invasão de pistas estrangeiras
Tecno brasileiro sai do subterrâneo

CAMILO ROCHA
especial para a Folha

Daqui a um mês sai um dos discos mais importantes para a música brasileira nesta década: a coletânea "Electronic Music Brasil". É o primeiro registro em disco que mapeia o agitado subterrâneo da música eletrônica feita no país.
Espantado? Pois é verdade, o Brasil não tem só boas raves, bons clubes e bons DJs. Tem também bons artistas fazendo música eletrônica. Já é um cenário rico em variações. Tem o XRS Land fazendo drum'n'bass, o Ram Science fazendo tecno violento, o Nude fazendo trance viajante, o Mau Mau fazendo tecno suingado, o Bid fazendo trip hop.
Tem coisas que poderiam ter sido feitas em qualquer país onde se ouve tecno/house, como o Oil Filter (banda-irmã do Nude); e tem outras que são a cara do Brasil, como o remix que o Mad Zoo tem para o Morcheeba, feito só com samples de fontes nacionais.
Como toda cena nascente, tem muita gente talentosa, mas que ainda necessita de lapidação; e tem artistas prontos para serem lançados lá fora.
Os 13 artistas presentes na compilação "Electronic Music Brasil" são bastante representativos no movimento: Nude, Renato Lopes, Dr. Além (o produtor Suba), Anderson Noise, Bid, Ram Science (Ramilson Maia), Loop B, XRS Land (DJ Xerxes), Mad Zoo (como Alpha 05), Habitants, Level 202, M4J, Soul Slinger e Mau Mau. Mas tem mais gente por aí dominando com maestria a música via computador, gente como Chelpa, ELM Project, Ricardo NS, Steve Silva, Apollo 9 e Bruno E.
É claro que praticamente toda a mídia e as grandes gravadoras ignoram os acontecimentos, tanto que nomes como Steve Silva, Ramilson Maia e Leve 202 estão com lançamentos engatilhados no exterior (lembra o que disse Tom Jobim? "A saída para a música brasileira é o aeroporto.").
Os dois primeiros vão lançar singles por selos independentes americanos e o terceiro por um selo alemão. A BMG-Ariola há pouco requisitou músicas de vários artistas desse underground. Todos estavam com a impressão de que a gravadora pretendia lançar uma coletânea. Engano, a BMG só estava fazendo o serviço para um selo francês que queria lançar uma coleção de música eletrônica brasileira na França.
Felizmente, apareceu uma força independente, dinâmica e de visão para investir na história: o Mercado Mundo Mix. O MMM parece ser o mecenas ideal.
Seu mercado, que começou como uma feirinha com 12 estandes, hoje é um megabazar, visitado por 30 mil pessoas num fim-de-semana. O MMM é um clássico exemplo do alternativo que vingou sem se desvirtuar.
O MMM já vinha promovendo shows com bandas eletrônicas nacionais há algum tempo. Levou o Habitants, a pioneira das bandas tecno brasileiras, para se apresentar em mercado que realizou em Curitiba, Rio e Belo Horizonte.
Agora as ambições são maiores. Além da coletânea, será criado o selo Mundo Mix Music para lançar e trabalhar artistas nacionais.
O Mundo Mix Music será distribuído e parcialmente financiado pela gravadora Sony, que não terá nenhuma interferência no âmbito artístico.
Os artistas terão contrato "de preferência" com o selo, isso é, poderão gravar por outros selos contanto que ofereçam a música primeiro para o Mundo Mix Music.



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