São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

O melhor é quando o guitarrista está sozinho

DO ENVIADO A MIAMI

"Shaman" começa com a viajandona instrumental "Adouma", que de certa maneira prepara os ouvidos para o que vem por aí no novo Carlos Santana: muita "latinidade" (mais o produto de exportação em si do que a expressão de um povo) e, de certa maneira, pouca coerência.
Assim, vale tudo. Da batida flamenca de "Nothing at All", que traz o vocal (fraco) de Musiq, ao taco com molho bolonhesa de "Novus", com o cantor lírico Plácido Domingo, passando pelo merengue estilizado de "Amoré (Sexo)", com Macy Gray, que oferece de longe o melhor desempenho entre os convidados.
Cabe até "The Game of Love", cantada por Michelle Branch, que está sendo "trabalhada", estourou nas rádios e não é mais do que uma baladinha cujo refrão gruda nos ouvidos ("A little bit of this/ A little bit of that"), o que não chega a ser demérito. É a candidata a "Smooth" deste ano.
O CD anterior, aliás, comparece em "Since Supernatural", que revela um saudável lado de auto-ironia de Carlos Santana ("Since "Supernatural" nothing has changed", diz a letra) e aproveita bem os rappers Melkie Jean e Governor Washington.
Pois o problema de "Shaman" é o mesmo de "Supernatural": falta unidade. O fato de a guitarra de Santana ser onipresente não consegue dar identidade a um balaio de gatos que tem desde o histrionismo de Plácido Domingo a Seal sendo Seal (em "You Are My Kind"), hard-rock de P.O.D. na risível "America" e o blues de Citizen Cope em "Sideways".
Ironicamente, o melhor são as faixas instrumentais ou semi-instrumentais (só com coros), como a já citada "Adouma" mais "Foo Foo" (que lembra o "Oye Como Vá"), "Victory is Won" (triste, com um órgão de Chester Thompson) e "Aye, Aye, Aye".
É isso que Santana vem fazendo há três décadas, é isso que ele sabe fazer melhor e é isso que atraiu para sua legião de fãs nomes como os de Miles Davis e Dizzie Gillespie. Mas isso não vende. (SD)


Shaman
  
Artista: Carlos Santana
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 27,50



Texto Anterior: "Macy Gray é ótima e maluca", diz Santana
Próximo Texto: Cinema: Álbum imprime lenda Stanley Kubrick
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.