São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POPLOAD

Espíritos "assombram" o pop

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

I see dead pop people.
Talvez assombrado pelos três seriados novos "do outro mundo" que acabaram de estrear na TV paga brasileira, comecei a ver umas coisas do além.

 

Tipo o fantasma do delinquente Beavis e de seu parceiro torpe Butt-Head. Foi lançada anteontem nos EUA a fantástica caixa de DVDs "Beavis & Butt-Head -The Mike Judge Collection", com três discos com cenas inéditas e 40 episódios escolhidos a dedo pelo criador do desenho que, no mínimo, retratou a geração dos 90.
Símbolos da "cultura da ironia" que marcou o pop americano na década passada, tanto quanto o hino em que Beck cantava "I'm Loser, Baby" e o tiro nos próprios miolos dado por Kurt Cobain, Beavis e Butt-Head foram assassinados em novembro de 1997 pela MTV com o último episódio "Beavis e Butt-Head Estão Mortos". Lembro de ter escrito um choroso obituário nesta Ilustrada. Como diz a propaganda da caixa: "This collection doesn't suck".
 

Se alguém um dia viesse com a verdade de que Thom Yorke, o vocalista do assombroso Radiohead, fosse um morto-vivo, ninguém iria se espantar. Pois com uma espiada no site oficial da (talvez) banda mais querida do mundo você encontra divagações de Yorke e fotos do estúdio onde está sendo gravado agora o sétimo e desesperadamente aguardado álbum do Radiohead. Yorke e amigos fazem menções às músicas novas e passeios solitários na floresta. Depois de um post sobre uma tal música suave, o vocalista estranho bota um PS: "Sim, este estúdio é mal-assombrado. Sinto como se estivesse sendo observado. Ou seja, mais um dia normal no mundo do Radiohead".
 

Sobre os seriados, pessoas mortas e pessoas que vêem e conversam com pessoas mortas. Os primeiros episódios de "Ghost Whisperer" (Jennifer Love-Hewitt, Sony), "Medium" (Patricia Arquette, Sony) e "Supernatural" (Warner) não decepcionaram. A famosa crítica da "Rolling Stone", pelo menos no que se viu no primeiro episódio, era "um pouco" exagerada. Lembra qual? "Eu pensei que, se eu fumasse crack, pudesse aliviar o trauma de ver essa série, mas eu não tinha crack, então eu toquei fogo no meu próprio corpo e inalei a fumaça. Paz. Alívio. Hewitt não pode me machucar agora." "Supernatural", hoje, funciona melhor: mistura teens lindos, rock bacana, poltergeist e "Sexto Sentido".
 

Duke Spirit é o nome de um quinteto de Londres, bom representante do novo rock inglês e liderado por uma loira chamada Leila Moss (nenhum parentesco), que dizem ser o fantasma da Nico (Velvet Underground) possuindo o corpo da PJ Harvey. Quem "dizem" na verdade foi um amigo que viu a banda no Canadá nesta semana e ficou, digamos, assustadoramente fascinado com o Duke Spirit ao vivo. Ao vivo? Procure ouvir "Dark Is Light Enough".
 

"Espirituosidade" é isso aqui. A Conrad está lançando a obra "Reações Psicóticas", escrita pelo maior deles, o americano Lester Bangs. É uma grande chance de ter contato direto com a escrita de Bangs por aqui, muito falado e pouco lido, pois é a primeira edição em português do jornalista que bem podia ter sido um excêntrico rock star. Bangs morreu em 1982, aos 33 anos. Tem um texto seu na internet (não está no livro) que se chama "How to Be a Rock Critic", em que ele faz um ensinamento final: "Você vai ser um jornalista famoso e morrer aos 33". Bangs sabia das coisas.

@ - lucio@uol.com.br

Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Festival: "Shooting Dogs" vence disputa no Amazonas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.