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CDS
MÚSICA
Artista lança "Balé Mulato", com baladas, percussão e eletrônica
Daniela Mercury retoma a multiplicidade do pop
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por muitos anos, Daniela
Mercury foi "acusada", nas
entrelinhas, de não ter voz própria e atirar para todos os lados.
Seus discos sempre foram aquela
mistura louca de música baiana
de Carnaval, elementos eletrônicos, tendências à MPB. Mas, aos
poucos, sua personalidade fica
mais clara: a multiplicidade é o
que dita seu caminho.
Em seu recém-lançado "Balé
Mulato", a cantora não é mais do
que ela mesma. Estão ali as músicas que incitam à festa, os refrões
que se repetem à exaustão, as baladas no violão, as percussões que
se misturam com ritmos eletrônicos, as covers de MPB e a animação e potência da sua voz.
Mas agora, com mais de 20 anos
de carreira, talvez seja a hora de os
critérios de avaliação de sua obra
mudarem. Daniela Mercury é a
real música pop brasileira. As
canções e a produção de seus discos parecem planejadas para
agradar aos ouvidos acostumados
com o padrão radiofônico criado
pelas grandes gravadoras.
As questões que surgem são: esse padrão existe porque é esse o
gosto do público? Ou é algo que as
gravadoras criaram buscando o
mais palatável? O público segue
ouvindo apenas por costume?
A cantora diz que algumas canções podem ser "simples" ou
"complicadas" demais, mas justifica a coexistência de todas.
"Este disco tem canções simples, mas que pra mim são muito
bonitas e fazem com que as pessoas se identifiquem. Não é uma
questão comercial, é uma questão
de devolver para a população algo
que é seu. Já outras músicas correm o risco de ser complicadas
demais, mas acho que tem que ter
esse entrave. Você não pode restringir o vocabulário de um disco", afirmou a cantora.
Assim, como pode ser analisada
a artista? A primeira coisa a se observar é a qualidade conceitual do
disco -com caprichado encarte e
luva sobre o CD, que se desdobram e mostram ensaio de fotos
do Carnaval e dos morros. É notável sua naturalidade como cantora, mesmo em diferentes estilos,
com personalidade suficiente para impingir a tudo uma cara sua.
O problema é que muita coisa
não funciona pelo esforço exagerado para tornar aquilo aceitável e
pop. O calor de sua música se perde em alguns aspectos na distância entre o popular e o popularesco, com certa banalização de arranjos, idéias e composições.
Parece ser conseqüência de todo um conceito arraigado na música das grandes gravadoras, das
rádios, do programa do Faustão e
do grande público. Ou seja, Daniela Mercury e seu disco novo
têm muitas qualidades, são agradáveis e devem encontrar seu público. Mas, em alguns momentos, é tudo apenas desinteressante.
Balé Mulato
Artista: Daniela Mercury
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média
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