São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 2005

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CDS

MÚSICA


Artista lança "Balé Mulato", com baladas, percussão e eletrônica

Daniela Mercury retoma a multiplicidade do pop

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por muitos anos, Daniela Mercury foi "acusada", nas entrelinhas, de não ter voz própria e atirar para todos os lados. Seus discos sempre foram aquela mistura louca de música baiana de Carnaval, elementos eletrônicos, tendências à MPB. Mas, aos poucos, sua personalidade fica mais clara: a multiplicidade é o que dita seu caminho.
Em seu recém-lançado "Balé Mulato", a cantora não é mais do que ela mesma. Estão ali as músicas que incitam à festa, os refrões que se repetem à exaustão, as baladas no violão, as percussões que se misturam com ritmos eletrônicos, as covers de MPB e a animação e potência da sua voz.
Mas agora, com mais de 20 anos de carreira, talvez seja a hora de os critérios de avaliação de sua obra mudarem. Daniela Mercury é a real música pop brasileira. As canções e a produção de seus discos parecem planejadas para agradar aos ouvidos acostumados com o padrão radiofônico criado pelas grandes gravadoras.
As questões que surgem são: esse padrão existe porque é esse o gosto do público? Ou é algo que as gravadoras criaram buscando o mais palatável? O público segue ouvindo apenas por costume?
A cantora diz que algumas canções podem ser "simples" ou "complicadas" demais, mas justifica a coexistência de todas.
"Este disco tem canções simples, mas que pra mim são muito bonitas e fazem com que as pessoas se identifiquem. Não é uma questão comercial, é uma questão de devolver para a população algo que é seu. Já outras músicas correm o risco de ser complicadas demais, mas acho que tem que ter esse entrave. Você não pode restringir o vocabulário de um disco", afirmou a cantora.
Assim, como pode ser analisada a artista? A primeira coisa a se observar é a qualidade conceitual do disco -com caprichado encarte e luva sobre o CD, que se desdobram e mostram ensaio de fotos do Carnaval e dos morros. É notável sua naturalidade como cantora, mesmo em diferentes estilos, com personalidade suficiente para impingir a tudo uma cara sua.
O problema é que muita coisa não funciona pelo esforço exagerado para tornar aquilo aceitável e pop. O calor de sua música se perde em alguns aspectos na distância entre o popular e o popularesco, com certa banalização de arranjos, idéias e composições.
Parece ser conseqüência de todo um conceito arraigado na música das grandes gravadoras, das rádios, do programa do Faustão e do grande público. Ou seja, Daniela Mercury e seu disco novo têm muitas qualidades, são agradáveis e devem encontrar seu público. Mas, em alguns momentos, é tudo apenas desinteressante.


Balé Mulato
  

Artista: Daniela Mercury
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 30, em média


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