São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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"Sigo o fluxo", diz Anthony Hopkins

"Ouvi dizer que é muito bom, mas não assisti", afirma sobre o seu novo filme

"A Lenda de Beowulf" usa técnica de captura de movimento para recriar corpos dos atores; filme tem estréia prevista para o dia 30

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Sir Anthony Hopkins aparece nu em seu mais recente filme, o épico mitológico "A Lenda de Beowulf", que estréia no Brasil no próximo dia 30. Aparece nu, mas não sabia disso. "Fiquei bem?", pergunta Hopkins, meio debochado, meio sério, aos jornalistas que, como a Folha, estão sentados com ele em um hotel em Los Angeles para entrevistá-lo.
O célebre Hannibal Lecter (que lhe rendeu um Oscar, em 1992), um dos principais atores do Reino Unido (é galês), não sabia que aparece nu porque não filmou pelado -seu corpo, assim como o de todos os outros atores, é digital no filme, recriado pela impressionante técnica de captura de movimento.
Mas, acima de tudo, Hopkins não sabia porque não tinha assistido ao filme. Chegando aos 70 anos (em 31/12), o ator tem uma jeito, digamos, relaxado em relação ao seu ofício. "Sigo o fluxo, não tento planejar minha vida. Fiz esse filme há dois anos e estou aqui, falando sobre uma obra que já esqueci. Apareço, dou algum apoio ao filme, ouvi dizer que é muito bom, mas não o assisti."
Pode parecer descaso com o filme ou impaciência com a entrevista, mas quem observa sir Hopkins ("Tony, por favor", pede o cavalheiro do império britânico) sentado calmamente, todo de preto -destacando sua pele avermelhada e seus ralos cabelos brancos, além dos olhos azuis-, não capta irritação em sua voz. O que há é uma postura serena, talvez um pouco blasé, como a de um velho sábio que quer ensinar a seus ouvintes que a vida não é tão misteriosa.

"Pensamos demais"
"Nos ferramos por pensar demais. As pessoas me perguntam "por que você aceitou esse papel?" e eu não sei explicar. Aí eu digo "por causa do dinheiro", e elas ficam chocadas. Mas por que me perguntam isso? Sou um ator, me oferecem um trabalho e, se eu quiser fazer, aceito. É simples assim, não há grandes razões misteriosas."
Hopkins também soa como se preferisse voltar ao mundo de "Retorno a Howard's End", o começo do século passado.
"Eu não tenho nem... como é o nome daquilo? Internet. Não consigo acompanhar o ritmo dessas coisas. Já me disseram que eu precisava ter um e-mail porque assim poderia me comunicar com os outros rapidamente, mas quem se importa?"
Ele renega o termo "paixão" para descrever sua abordagem do cinema. "A única emoção que tenho é surpresa por ainda estar aqui. Essa é a melhor emoção, ficar surpreso por ainda estar em um blockbuster."


O jornalista MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner Bros.


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