São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Milhares de registros de MPB chegam à internet

Acervo do produtor Hermínio Bello de Carvalho estará disponível hoje à noite

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Com o propósito de preservar -mesmo que a princípio só para ele e os amigos chegados- um pouco da história cultural do Brasil, o compositor, escritor, produtor, diretor de espetáculos e pesquisador Hermínio Bello de Carvalho guardou em armários e gavetas um acervo de preciosidades que, agora, para espanto do próprio colecionador, estará disponível na internet.
O site www.acervohbc.com.br. entra na rede hoje à noite. Traz mais de 10 mil itens armazenados por Hermínio nas seis últimas décadas. Com recursos do Programa Petrobras Cultural, o arquivo do múltiplo artista foi organizado, catalogado e digitalizado.
Hermínio, 73, conta que, para poder consultar seu próprio acervo, terá que se adestrar na internet, ferramenta que afirma não dominar com precisão.
"Estou aprendendo com eles [os produtores do site]. Estão sendo colocadas em circulação coisas que eu, sinceramente, já não pensava que pudessem ser mostradas", diz Hermínio.
Uma das jóias do acervo é a reprodução, no original datilografado, da letra de Hermínio para uma melodia de Tom Jobim (1927-1994). Composta na casa em que o maestro morava em agosto de 1964, ambos estimulados por muito uísque, como lembra o letrista, a canção é absolutamente desconhecida. Não foi gravada e Hermínio não memorizou a melodia, não localizada até hoje nos arquivos de Tom.
"Essa melodia se perdeu. Mas isso já se passou comigo e com Cartola. Quando ele morreu [em 1980], tinha dado a letra de "Camarim". Tempos depois, numa fita deixada por Cartola, foi encontrada a música. Estava prontinha."
Da noitada de música e pileque participou até o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), possivelmente desperto pelo telefonema na madrugada.
"Liguei para o Drummond a fim de apresentar o Tom a ele. Tom começou a dizer poemas de Drummond. Foi nessa noite que fizemos a canção, na euforia do uísque. E houve essa inconveniência de ligar para o Drummond", conta Hermínio.

O site
O site é dividido em itens de áudio, iconografia e texto. As gravações trazem registros caseiros de música e conversa, interpretações inéditas, shows e concertos que nunca viraram disco. São centenas de canções, com intérpretes de primeira linha, muitos já mortos -Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Donga, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, João Nogueira. Entre os vivos, Paulinho da Viola, Elton Medeiros e João Bosco.
As fotografias servem como referência ao trajeto de Hermínio na cultura nacional. São centenas delas, que o mostram na companhia de dezenas de brasileiros e também da norte-americana Sarah Vaughan (1924-1990), que se tornou sua amiga quando visitou o Brasil.
O acervo reproduz desenhos, caricaturas e quadros pertencentes a Hermínio e assinados por artistas plásticos de destaque, como Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Nássara, Cássio Loredano, Chico e Paulo Caruso e Hermenegildo Sábat.
A área de texto divide-se em quatro: poesia, com trabalhos de Hermínio publicados em livros, inéditos e manuscritos originais; cancioneiro, com parte da obra musical em parceria com compositores como Cartola, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Paulinho, Elton, Sueli Costa, Ivone Lara, Martinho da Vila, Roberto Frejat, Ismael Silva e Ataulfo Alves; crônicas, ensaios e material jornalístico editados e inéditos escritos nos últimos 50 anos; e correspondência trocada com personagens como Drummond, Oscar Niemeyer, Isaurinha Garcia e Carlos Cachaça.


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