São Paulo, quarta-feira, 11 de novembro de 2009

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CONEXÃO POP

Profissionalismo


No festival Planeta Terra, bandas como Sonic Youth e Primal Scream fizeram apresentações antagônicas


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

NO ROCK e até na música eletrônica, profissionalismo é normalmente confundido, principalmente por caras mais novos, com caretice, com falta de espontaneidade. Bem, como revela Jack Endino na reportagem de capa da Ilustrada, o Nirvana, talvez a última grande banda revolucionária do rock, era uma banda superprofissional já no primeiro disco.
Profissionalismo tem a ver não somente com produzir algo de maneira correta, decente, mas com respeitar aqueles que topam desembolsar uma grana para investir na banda -não estou falando apenas de gravadoras e produtores, mas, principalmente, dos fãs.
Bons exemplos de profissionalismo (ou da falta de) ocorreram no último final de semana em São Paulo, no festival Planeta Terra. Vamos pegar as três bandas mais experientes do evento.

 


Debaixo de chuva, vimos o profissionalismo irrepreensível do Sonic Youth. Os cinco estavam tão concentrados no palco que não sobrava tempo nem mesmo para conversas com o público. O foco era total em seus instrumentos, que produziam um caos sonoro muito bem planejado.
O Sonic Youth está entre as bandas roqueiras mais eruditas -são músicos excepcionais, que fazem das distorções de guitarra uma arte pop. Não à toa a banda contratou como baixista o excelente Mark Ibold, ex-Pavement. Os fãs do grupo saíram do show satisfeitos.

 


Pouco antes, tivemos o Primal Scream. Banda já com décadas de estrada, esses escoceses nunca foram conhecidos pelo profissionalismo -mas o que o público de São Paulo viu dias atrás foi de um amadorismo quase criminoso.
O grupo veio ao Brasil com apenas um guitarrista -o que tornou as canções anêmicas-, no palco estavam parados, travados; a empolgação era quase zero.
Ao vivo, o Primal Scream costuma ser uma banda poderosa -e já havia mostrado isso no Brasil, em 2004. Em 2009, parece que eles estavam pouco se importando com quem pagou ingressos para vê-los.

 


E há os Stooges.
Dá para dizer que eles não são profissionais? De jeito nenhum. Os veteranos Mike Watt, no baixo, e James Williamson, na guitarra, são tecnicamente perfeitos -fazem o escudo para Iggy Pop, em forma física invejável.
Dá para dizer que eles foram estritamente profissionais? É... não.
Chamar o público para o palco, com mais de 10 mil pessoas na plateia, não é algo recomendável.
Menos ainda quando as dezenas de fãs são recepcionadas com socos e pontapés pelos seguranças, e a banda parece não dar a mínima.
Poderiam ter interrompido o show até a confusão terminar -ou eu estou sendo moralista demais?

thiago.ney@uol.com.br


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