São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA ERUDITO

Yan Pascal Tortelier rege Lutoslawski de cor em Viena

Osesp e Antonio Meneses tocaram repertório cosmopolita, com dois bis


NO MUSIKVEREIN TUDO SOA MAIS QUENTE, MAIS PRÓXIMO DO QUE NA SALA SÃO PAULO. É COMO SE CADA ATAQUE SONORO -MESMO O DE UM INSTRUMENTO SOZINHO-PREENCHESSE O ESPAÇO


SIDNEY MOLINA
ENVIADO ESPECIAL A VIENA

Para chegar ao teatro Musikverein de Viena pode-se caminhar pela rua Mahler e atravessar o Schubertring.
No lugar onde hoje é servida uma famosa torta de chocolate, Beethoven estreou a "Nona Sinfonia", e quase ninguém lembra que Vivaldi morreu a poucos metros dali.
A capital da Áustria, onde a Osesp se apresentou anteontem, parece sintetizar em um só lugar mais de duzentos anos de música. Foi o terceiro dos 12 concertos previstos para a turnê europeia que a orquestra realiza sob a direção de Yan Pascal Tortelier, seu regente titular, e tendo o celista Antonio Meneses como solista.
No Musikverein tudo soa mais quente, mais próximo do que na Sala São Paulo. É como se cada ataque sonoro -mesmo o de um instrumento sozinho- preenchesse o espaço, sem deixar lacunas.

REPERTÓRIO
Viena ouviu da Osesp um repertório cosmopolita, com Carlos Gomes (brasileiro), Elgar (inglês), Debussy (francês) e Lutoslawski (polonês). A "Alvorada", prelúdio do quarto ato da ópera "Lo Schiavo", de Carlos Gomes (1836-1896), é a única peça que será repetida nos concertos de hoje e amanhã, em Salzburgo.
O "Concerto para Violoncelo" de Elgar (1875-1934) era uma especialidade do violoncelista Paul Tortelier, pai do regente da Osesp.
Em dois momentos no primeiro movimento, a orquestra quase foi invasiva, mas predominou a austeridade proposta por Meneses, um solista que não deixa que qualquer efeito se anteponha à dicção natural das frases.
Como número extra tocou uma "Sarabande", de Bach (1685-1750).
Na segunda parte, o "Prélude à l'Après-midi d'un Faune", de Debussy (1862-1918), e o dificílimo "Concerto para orquestra" de Witold Lutoslawski (1913-1994), obra que mostrou a evolução da orquestra ao longo do ano.
Dois momentos merecem menção: na reexposição do tema do primeiro movimento, em vez do fá sustenido grave nos tímpanos, Lutoslawski escreve a mesma nota pulsada no agudo pela celesta, obstinadamente a esperar os solos virtuosísticos de vários instrumentos; e o tema da "Passacaglia" (terceiro movimento), audível desde o início nos contrabaixos em pianíssimo.
Há algo intuitivo, não ortodoxo, no gestual de Tortelier, o que às vezes pode exigir quantidade maior de ensaios para alcançar a segurança necessária; mas as ideias musicais são claras, e ele sempre tem algo a acrescentar às obras que interpreta.
No Musikverein, as luzes do público permanecem acesas durante o espetáculo, e isso permite a apreciadores acompanhar o concerto com a partitura em mãos.
Enquanto isso, no palco, o maestro regia a segunda parte de memória, o que incluiu não só Debussy e Lutoslawski, mas também os dois bis: um fragmento do "Choros nº 6" de Villa-Lobos, e o frevo do compositor Edu Lobo encomendado para essa turnê.


O crítico viajou a convite da Osesp

OSESP EM VIENA

AVALIAÇÃO ótimo


Texto Anterior: Garotas também estão na Mostra Sesc de Artes
Próximo Texto: FOLHA.com
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.