São Paulo, Sábado, 11 de Dezembro de 1999


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Conheça a íntegra da edição do debate no "Jornal Nacional"*


Cid Moreira: A campanha eleitoral no segundo turno teve seu momento mais importante na noite de ontem. Foi o duelo entre os candidatos pela televisão. o debate durou quase três horas e foi transmitido por um pool formado pelas principais quatro emissoras de TV. Reveja agora alguns momentos do debate.

Lula: É preciso saber de antemão que desde 1980, portanto já há dez anos, atrás, o partido dos Trabalhadores, ele foi fundado na base da liberdade política, na base da liberdade de autonomia sindical, na base do pluralismo político.

Collor: De um lado está a candidatura do centro democrático, por mim representada, do outro lado está uma candidatura que esposa teses estranhas ao nosso meio, teses marxistas, teses estatizantes, teses que não primam pelos princípios democráticos consagrados na nova carta constitucional, até porque o partido daquele que é meu adversário se negou a assinar, ou não a assinar, mas votou contra o texto constitucional.
O Tratamento das Greves (vinheta com locução de Cid Moreira)

Lula: E nós vamos tentar criar instrumentos para que essas categorias essenciais passem a ser tratadas como categoria essencial do ponto de vista do salário que cada um vai receber.

Collor: Agora, há um outro tipo de greve, que é a greve política, que é a greve patrocinada pela CUT, que a greve patrocinada pelo braço sindical do outro candidato. Essa greve política é feita apenas para realçar, colocar no noticiário as suas lideranças. E este grevismo político já recebeu uma resposta drástica, uma resposta negativa da sociedade, que não aceita mais este grevismo político.

A Questão do Nordeste (vinheta com locução de Cid Moreira)

Lula: O problema do Nordeste não é um problema de cerca, de seca, é um problema de cerca. Daí porque defendi a reforma agrária, senão morreriam milhões e milhões de nordestinos, como está aí a imprensa dizendo que o IBGE afirmando que é possível até nascer uma sub-raça.

Collor: Eu quero de alguma maneira repelir essa insinuação de que nós sejamos sub-raça, até porque sub-raça eu não sou, como também acredito que meu adversário não seja sub-raça somente pelo fato de ter nascido no Nordeste. A prova de que não somos sub-raça, deputado, é que nós estamos aqui disputando a eleição presidencial, duas pessoas com origens no Nordeste.

A Violência na Campanha (vinheta com locução de Cid Moreira)

Collor: Nós nunca fomos intolerantes, baderneiros e bagunceiros para irmos lá e fazer o que eles fazem e o que fizeram nos nossos comícios. Agora mesmo, fora de uma manifestação, numa passeata, a jogadora de basquete, a Norminha, foi agredida, agredida covardemente por seis marmanjos, que brandiam a bandeira vermelha, com a foice e o martelo do PT. Isso é uma atitude democrática?

Lula: Eu, que durante várias vezes, o meu partido foi acusado de violência, eu acredito que pouca gente nesse país foi vítima de violência como o foi o Lula em toda a sua vida política. Portanto, eu estou tranquilo que cumpri com meu dever cívico enquanto candidato, estou tranquilo que cumpri com meu dever cívico enquanto a pessoa preocupada em elevar o nível de consciência do nosso povo, e estou tranquilo de que essa contribuição será e foi ouvida pelo nosso povo.

Salários (vinheta com locução de Cid Moreira)

Lula: A pergunta que eu queria fazer ao meu adversário é o seguinte: quais as medidas concretas que você tomaria caso um político seu, um político do seu partido, tentasse legislar em causa própria, tentasse fazer uma legislação para tirar proveito pessoal do seu projeto de lei?

Collor: Eu tenho um caso concreto. Recentemente, o deputado Renan Calheiros, líder do PRN na Câmara dos Deputados, encaminhou um projeto de lei para congelar os salários já polpudos dos senhores deputados federais e dos senhores senadores da República, que, como disse há pouco, como o deputado do PT passa a ganhar 200 mil cruzados novos, mais de 100 vezes, mais de 100 vezes o salário mínimo no país. Que tem mordomias, como operações em, hospitais caríssimos. E esse projeto de lei, foi solicitada urgência urgentíssima a todos os partidos. O PT se negou a assinar.

Os Acordos Políticos (vinheta com locução de Cid Moreira)

Collor: O ex-governador Leonel Brizola afirmou que o vice do outro candidato, afirmou com letras maiúsculas, que o vice do outro candidato é corrupto. Eu queria saber do outro candidato: o ex-governador Brizola está mentindo ou o seu candidato a vice-presidente é realmente corrupto?

Lula: Brizola disse que o Bisol contraiu um empréstimo que ele considera imoral e o Bisol disse que o empréstimo é correto e que vai processar o Brizola. Ora, obviamente que eu, quando eu fiz a aliança com o Brizola, eu não pedi pro Brizola passar a gostar do Bisol e não pedi para o Bisol passar a perdoar o Brizola. O que eu pedi era para que os dois se entendessem e que o momento maior era ganhar as eleições.

Collor: É rigorosamente inacreditável. O ex-governador Brizola chama o candidato a vice do adversário de corrupto e o candidato acha que é perfeitamente normal. Apenas pede aos dois que não se digladiem, que não se xinguem nesse período para tirar proveitos eleitorais, para que não afete a questão eleitoreira.

Alexandre Garcia (entre os dois candidatos, durante o debate): Estamos iniciando a última parte do último debate desta campanha eleitoral. Para as últimas palavras dos dois candidatos. Por sorteio, vai falar em primeiro lugar o candidato Fernando Collor de Mello e, por último, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Collor: Eu gostaria de transmitir a todos vocês a minha enorme confiança de que continuaremos juntos no próximo dia 17. Sim, no dia 17 vamos dar um basta definitivo à bagunça, à baderna, ao caos, à intolerância, à intransigência, ao totalitarismo, à bandeira vermelha. Vamos dar sim à nossa bandeira. Essa que está aqui (aponta para o peito), a bandeira do Brasil, a bandeira verde, amarela, azul e branca.

Lula: Nós, que pertencemos à classe trabalhadora, sabemos perfeitamente bem que a nossa luta titânica é para escapar da fome, é para escapar do desemprego, é para escapar da favela ou de baixo de uma ponte. Em função não de méritos pessoais, mas em função da competência de uma categoria profissional, em função da competência de milhares de brasileiros, em função da competência dos partidos com que eu me orgulho de estar aliado, eu estou hoje disputando a Presidência da República para ganhar as eleições no dia 17.

Cid Moreira: E quem venceu o debate? O Instituto Vox Populi fez esta pergunta a 490 telespectadores em 114 municípios. 22% dos entrevistados acharam que o debate foi ótimo; 39,5% o consideraram bom; o debate foi regular na opinião de 28% dos telespectadores; e 7,7% disseram que o encontro ficou entre ruim e péssimo. Veja agora a avaliação do desempenho dos candidatos.

(vinhetas com locução de Cid Moreira)
Melhor desempenho
Collor: 44,5%
Lula: 32%

Idéias mais claras
Collor: 45%
Lula: 34,1%

O mais preparado para governar
Collor: 48%
Lula: 30%

Melhores planos de governo
Collor: 45,9%
Lula: 33%

Quem atacou mais o adversário?
Collor: 33%
Lula: 30,8%

Cid Moreira (no estúdio): O debate dos candidatos teve um alto índice de audiência e o público superou o do debate anterior. Ao transmitir o encontro dos presidenciáveis, a televisão cumpriu mais uma vez o seu papel na democracia. Alexandre Garcia.

Alexandre Garcia: (no estúdio): Ontem à noite as ruas desertas das cidades atestavam audiência de Copa do Mundo com Brasil na final. Era a audiência da televisão brasileira no último debate entre os candidatos à Presidência. Nesses dois debates, a televisão foi fonte de aperfeiçoamento da democracia, foi união entre a eleição e o eleitor. Fez entrar em milhões de lares os dois candidatos defendendo suas idéias e posições. Ter participado daqueles momentos em que a televisão foi confirmada como principal veículo no principal processo da democracia, que é a eleição, é algo que muito nos orgulha. Nós vamos continuar ao seu lado até que se conheça o resultado e depois dele, porque aperfeiçoar a democracia é uma prática constante. E agora é votar: cada voto, o seu voto, tem o poder de nomear o presidente da República. É um poder e um direito, porque quem nomeia é também quem paga o salário do presidente e quem sustenta o governo com os impostos que são uma parte do trabalho de cada um. Nosso trabalho como profissionais de televisão foi e continuará sendo o que fez a televisão nesses dois debates: manter aberto esse canal de duas mãos entre o eleito e os eleitores para que melhor se exerça a democracia.



* As falas dos candidatos foram transcritas tal como foram ditas, sem correção de estilo ou gramatical.




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