São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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Masp se abre para arte contemporânea

Os brasileiros Arthur Omar, Eder Santos e Alex Flemming terão exposições em 2007, quando o museu completa 60 anos

Plano para a abertura de exposições terá três frentes: arte contemporânea, releitura do acervo clássico e arte oriental e das Américas

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Masp (Museu de Arte de São Paulo) quer voltar a fazer parte do circuito de arte a partir do ano que vem, quando completa 60 anos. O curador do museu, José Teixeira Coelho Netto, planeja retomar as exposições que fizeram história a partir de um plano em três frentes: a abertura para a arte contemporânea, a releitura do acervo clássico e uma aproximação com a arte do Oriente e das Américas.
Teixeira Coelho, 62, adotou como ponto de partida a idéia de que o Masp não deve ficar congelado no seu acervo, um dos mais importantes da América pelas obras que possui, uma mescla que vai de Rafael a Van Gogh, de Ticiano a Picasso.
"Museu precisa apostar em arte contemporânea porque esse tipo de inovação é uma das formas para entender a dinâmica do mundo contemporâneo. Gostaria que o Masp fosse um gestor de inovação", afirma o professor de políticas culturais da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e ex-diretor do MAC (Museu de Arte Contemporânea).
Como o Masp atravessa uma das maiores crises financeiras de sua história, Teixeira diz que seu plano depende da capacidade de a diretoria, presidida pelo arquiteto Julio Neves, equacionar uma solução econômica.
O simples fato de o Masp ter contratado há três meses um curador, função que estava vaga havia oito anos, mudou a relação com instituições e artistas, segundo Teixeira. Algumas exposições programadas para o próximo ano nasceram desses contatos. É o que ocorreu com os artistas Arthur Omar, Eder Santos e Alex Flemming.
Omar deve trazer para o Masp a exposição "Zooprismas", um ambiente composto de dez instalações já mostrado no Rio de Janeiro.
Eder Santos deve fazer um trabalho sob medida para o Masp. Seu projeto é criar uma tela de luzes digitais para ocupar a fachada do prédio, que reproduziria com efeitos o movimento de carros e gentes na avenida Paulista.
Flemming deve estrear no Masp uma exposição em que trata da morte sob vários pontos de vista -do político e do prazer, por exemplo.
Omar, Santos e Flemming fazem parte justamente de um grupo que o Masp decidiu privilegiar: o de artistas no meio da carreira. Rosângela Rennó e Ana Tavares também foram convidadas a desenvolver projetos para o Masp.
A Fundação Daimler-Crysler, criada pelos fabricantes dos veículos Mercedes e Jeep, também procurou o museu com a oferta de fazer uma exposição com obras de seu acervo, a serem escolhidas conjuntamente com o Masp. A coleção Daimler-Chrysler tem 1.300 obras do século 20, entre as quais trabalhos de Andy Warhol, Nam June Paik e Max Bill. A parte mais contemporânea fica num museu em Berlim.

Nova organização
A idéia de que o mundo contemporâneo muda a leitura dos cânones da arte, defendida por Teixeira, deve provocar uma mudança na organização do museu.
Em vez da divisão por regiões e estilos -adotada na fundação do museu em 1947 pelo seu primeiro curador, Pietro Maria Bardi, e em vigor até hoje-, Teixeira prefere organizar o acervo por afinidades e temas. "Talvez seja mais esclarecedor para o público fazer uma sala de paisagens, misturando Turner, Constable e Portinari, ou uma sala de retratos. Aí a pessoa percebe como um inglês do século 18 como Constable tratava a paisagem e como um Cézanne vai mudar isso no final do século 19", afirma.
Teixeira quer fazer releituras do acervo, como as que iniciou em outubro, com o que chama de "exposições de bolso" (pelo pequeno número de obras) de Cézanne e Manet.
Sua idéia é convidar outros curadores e artistas para fazer essas leituras. Tadeu Chiarelli, que foi diretor do MAM (Museu de Arte Moderna), e o pintor Paulo Pasta já foram convidados para fazer esse tipo de mostra no ano que vem.
O curador acha que essas exposições, feitas para frisar relações entre obras do acervo, ajudam a formar público. "O Masp na minha cabeça é uma mistura do Metropolitan, por causa do acervo clássico, com a Frick Collection, por causa das preciosidades que tem", afirma, referindo-se aos dois museus de Nova York. "As microexposições são para ressaltar as preciosidades, como faz a Frick."
Teixeira diz não ter nada contra o caráter mais espetacular do Metropolitan, com suas exposições de arte grega ou chinesa. "Museu tem de ter show também", defende. A exposição-show programada para 2007 será sobre arte gandara, o reino que existiu entre os séculos 6 e 11 na região que fica entre o Paquistão e o Afeganistão.
A abertura para o Oriente não é ocasional. Teixeira diz que vai expor obras de arte do Oriente e das Américas como um contraponto à hegemonia européia da coleção. "O Masp precisa ser reglobalizado, não pode ficar só na arte européia."
Uma mostra de arte contemporânea chinesa também servirá para sinalizar essa abertura para o Oriente. Ela será organizada por uma das maiores especialistas nessa área -a italiana Josette Balsa, curadora convidada da Universidade de Hong Kong.


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