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Masp se abre para arte contemporânea
Os brasileiros Arthur Omar, Eder Santos e Alex Flemming terão exposições em 2007, quando o museu completa 60 anos
Plano para a abertura de
exposições terá três frentes:
arte contemporânea,
releitura do acervo clássico e
arte oriental e das Américas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Masp (Museu de Arte de
São Paulo) quer voltar a fazer
parte do circuito de arte a partir
do ano que vem, quando completa 60 anos. O curador do
museu, José Teixeira Coelho
Netto, planeja retomar as exposições que fizeram história a
partir de um plano em três
frentes: a abertura para a arte
contemporânea, a releitura do
acervo clássico e uma aproximação com a arte do Oriente e
das Américas.
Teixeira Coelho, 62, adotou
como ponto de partida a idéia
de que o Masp não deve ficar
congelado no seu acervo, um
dos mais importantes da América pelas obras que possui,
uma mescla que vai de Rafael a
Van Gogh, de Ticiano a Picasso.
"Museu precisa apostar em
arte contemporânea porque esse tipo de inovação é uma das
formas para entender a dinâmica do mundo contemporâneo. Gostaria que o Masp fosse
um gestor de inovação", afirma
o professor de políticas culturais da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e ex-diretor do MAC (Museu de Arte Contemporânea).
Como o Masp atravessa uma
das maiores crises financeiras
de sua história, Teixeira diz que
seu plano depende da capacidade de a diretoria, presidida pelo
arquiteto Julio Neves, equacionar uma solução econômica.
O simples fato de o Masp ter
contratado há três meses um
curador, função que estava vaga havia oito anos, mudou a relação com instituições e artistas, segundo Teixeira. Algumas
exposições programadas para o
próximo ano nasceram desses
contatos. É o que ocorreu com
os artistas Arthur Omar, Eder
Santos e Alex Flemming.
Omar deve trazer para o
Masp a exposição "Zooprismas", um ambiente composto
de dez instalações já mostrado
no Rio de Janeiro.
Eder Santos deve fazer um
trabalho sob medida para o
Masp. Seu projeto é criar uma
tela de luzes digitais para ocupar a fachada do prédio, que reproduziria com efeitos o movimento de carros e gentes na
avenida Paulista.
Flemming deve estrear no
Masp uma exposição em que
trata da morte sob vários pontos de vista -do político e do
prazer, por exemplo.
Omar, Santos e Flemming fazem parte justamente de um
grupo que o Masp decidiu privilegiar: o de artistas no meio da
carreira. Rosângela Rennó e
Ana Tavares também foram
convidadas a desenvolver projetos para o Masp.
A Fundação Daimler-Crysler, criada pelos fabricantes dos veículos Mercedes e
Jeep, também procurou o museu com a oferta de fazer uma
exposição com obras de seu
acervo, a serem escolhidas conjuntamente com o Masp. A coleção Daimler-Chrysler tem
1.300 obras do século 20, entre
as quais trabalhos de Andy
Warhol, Nam June Paik e Max
Bill. A parte mais contemporânea fica num museu em Berlim.
Nova organização
A idéia de que o mundo contemporâneo muda a leitura dos
cânones da arte, defendida por
Teixeira, deve provocar uma
mudança na organização do
museu.
Em vez da divisão por regiões
e estilos -adotada na fundação
do museu em 1947 pelo seu primeiro curador, Pietro Maria
Bardi, e em vigor até hoje-,
Teixeira prefere organizar o
acervo por afinidades e temas.
"Talvez seja mais esclarecedor
para o público fazer uma sala de
paisagens, misturando Turner,
Constable e Portinari, ou uma
sala de retratos. Aí a pessoa
percebe como um inglês do século 18 como Constable tratava
a paisagem e como um Cézanne
vai mudar isso no final do século 19", afirma.
Teixeira quer fazer releituras
do acervo, como as que iniciou
em outubro, com o que chama
de "exposições de bolso" (pelo
pequeno número de obras) de
Cézanne e Manet.
Sua idéia é convidar outros
curadores e artistas para fazer
essas leituras. Tadeu Chiarelli,
que foi diretor do MAM (Museu de Arte Moderna), e o pintor Paulo Pasta já foram convidados para fazer esse tipo de
mostra no ano que vem.
O curador acha que essas exposições, feitas para frisar relações entre obras do acervo, ajudam a formar público. "O Masp
na minha cabeça é uma mistura
do Metropolitan, por causa do
acervo clássico, com a Frick
Collection, por causa das preciosidades que tem", afirma, referindo-se aos dois museus de
Nova York. "As microexposições são para ressaltar as preciosidades, como faz a Frick."
Teixeira diz não ter nada
contra o caráter mais espetacular do Metropolitan, com suas
exposições de arte grega ou chinesa. "Museu tem de ter show
também", defende. A exposição-show programada para
2007 será sobre arte gandara, o
reino que existiu entre os séculos 6 e 11 na região que fica entre o Paquistão e o Afeganistão.
A abertura para o Oriente
não é ocasional. Teixeira diz
que vai expor obras de arte do
Oriente e das Américas como
um contraponto à hegemonia
européia da coleção. "O Masp
precisa ser reglobalizado, não
pode ficar só na arte européia."
Uma mostra de arte contemporânea chinesa também servirá para sinalizar essa abertura
para o Oriente. Ela será organizada por uma das maiores especialistas nessa área -a italiana Josette Balsa, curadora convidada da Universidade de
Hong Kong.
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