São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Lavoura alheia

Recém-lançada no Brasil, "continuação" de "O Apanhador no Campo de Centeio" imagina que fim teria levado o protagonista de J.D Salinger; autor Fredrik Colting sofre processo por violação de direitos autorais

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

Em maio de 2009, Fredrik Colting lançou, na Inglaterra, o romance "60 Anos Depois - Do Outro Lado do Campo de Centeio". Publicado pela Wind Up Bird -editora de sua propriedade-, o livro fantasiava sobre o destino que teria levado Holden Caulfield, protagonista do clássico "O apanhador no Campo de Centeio", escrito em 1951 por J.D. Salinger (1919-2010).
Três meses depois, na antevéspera de lançar a ficção no mercado americano, Colting foi surpreendido por uma ação judicial: Salinger, a quem não consultara, o estava processando, em Nova York, por violação de direitos autorais.
O caso foi vencido na primeira instância por Salinger, e aguarda novo julgamento.
Nesse ínterim, Colting vê seu livro ser traduzido para o húngaro e para o coreano -línguas em que jamais sonhara publicar. Na Inglaterra, vendeu 25 mil exemplares; está na terceira edição.
"60 Anos Depois - Do Outro Lado do Campo de Centeio" acaba de ser publicado no Brasil pela Versus. Colting, um sueco de 34 anos, conversou com a Folha, de sua casa em Gotemburgo (Suécia), por telefone.

 


Folha - "O Apanhador no Campo de Centeio" é seu livro favorito? Fredrik Colting - Não. Eu o escolhi por ser uma espécie de Frankenstein do Salinger, um monstro que ele criou e que, de tão grande, passou a atormentá-lo.

Por que fazer uma continuação do clássico?
Na minha cabeça, os personagens estão vivos e, já que estão vivos, gosto de imaginar o fim que levaram. Gostaria de saber, por exemplo, que destino teve a personagem de "O Velho e o Mar" [de Ernest Hemingway].

Quanto tempo você levou para escrever?
Um ano e meio. Havia escrito duas ficções antes, que não foram publicadas. Minha obra se resumia a livros de cultura pop e de humor. [Fredrik Colting é autor de "Stupedia: The Most Useless Facts on Wikipedia" (stupedia: os fatos mais inúteis da Wikipedia)].

Você é formado em literatura?
Não cursei a universidade, porque nunca li o que as pessoas me recomendavam. Durante a minha vida toda, só tive empregos estranhos, como o de coveiro.
O cemitério é um lugar pacato, bom para formular histórias, para imaginar a vida das pessoas que você está enterrando.

O processo aberto por Salinger foi positivo para o seu próprio livro?
O livro não era conhecido até então. Hoje, é publicado na Rússia, China, Brasil, Coreia do Sul, Grécia, Hungria, Turquia. Recebo ligações de todos os lugares do mundo. Então, foi positivo, de certa maneira. Por outro lado, não posso vendê-lo nos Estados Unidos, que é o maior mercado editorial.

Ficou surpreso quando soube da ação judicial?
Sim, porque venho da Suécia, país onde, à diferença dos Estados Unidos, as pessoas não se processam. Mas não fiquei triste ou com raiva. Sabia que o Salinger tinha suas idiossincrasias.

Você apelou da decisão. Como está o processo?
Está correndo. O escritório que contratei achou o caso tão interessante que escalou sete advogados para cuidar dele. Meu livro não é uma cópia nem somente uma continuação. O protagonista encontra o próprio autor dentro da história [J.D. Salinger também é personagem no livro de Colting]. Que tipo de sequência é essa?


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