São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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Vastidão digital torna crítica mais útil, diz americano

Editor da versão online da "The New Yorker", Blake Eskin mostrou em seminário como está modernizando a tradicional revista

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Cabe a Blake Eskin, 40, a tarefa de conduzir uma velha senhora de 85 anos ao complexo novo mundo digital.
Eskin é editor da versão online da revista americana "The New Yorker", referência em reportagens longas, bem escritas e apuradas.
Em entrevista à Folha, o jornalista defende que a revolução digital aproxima a crítica cultural do leitor e aumenta o valor do crítico, como filtro do caos informativo.
Eskin participou, em São Paulo, do 3º Seminário Internacional Rumos Jornalismo Cutural, do Itaú Cultural, encerrado ontem.
Divertiu a plateia ao contar como a velha guarda de colaboradores da "New Yorker" (alguns com 90 anos) lida com tecnologia e ao dar exemplos de como a revista usa a internet -citou reportagem sobre elevadores que explodiu na rede quando foi postado um vídeo com imagens de um homem que ficou preso por 41 horas no elevador de um arranha-céu.
Leia trechos da entrevista, realizada no Itaú Cultural.

 


Folha - Como o jornalismo cultural pode tirar proveito das tecnologias digitais?
Blake Eskin
- Aproximando críticos dos seus leitores. Há músicas, filmes e livros que, se você não vive em Nova York ou São Paulo, nunca terá chance de ver. E agora qualquer um tem acessos a tudo isso. As pessoas não estão aprendendo sobre o novo cinema francês só no jornal. O crítico tem de achar um novo papel, descobrir como se envolver com esse público.
Veja o nosso crítico de música clássica, Alex Ross: essa não é uma área das mais inovadoras, que atraem jovens.
Ele criou um blog, é seguido por músicos e críticos e eliminou fronteiras entre música clássica e popular. Ele escreve sobre Radiohead, e não precisa fingir que não sabe o que é Radiohead para ser respeitado como crítico de música erudita. Ele construiu algo tremendo, atraiu um público que ouve rock.

Hoje um internauta pode ser produtor de conteúdo, crítico, especialista. Qual o espaço da crítica nesse ambiente?
Não acho que seja possível fazer de qualquer pessoa um crítico ou especialista. Quanto mais amplo o mundo, mais você precisa de curadores inteligentes. É papel do crítico ajudar as pessoas a entender, estabelecer conexões, mas é também impedir as pessoas de perderem tempo. Se você vai ver apenas duas peças neste ano, você pode até não concordar com o crítico, mas ele lhe ajuda a fazer escolhas. E eles são ainda mais necessários agora, no caos da internet.

Nesse cenário, o jornalista precisa ser programador, especialista em tecnologia?
Sim e não. Quando comecei, havia pessoas com medo de usar o Word. Não creio que você tenha que entender toda nova tecnologia, mas que o jornalista deve abordar a tecnologia com a mesma curiosidade e mente aberta com que aborda os assuntos que está cobrindo. Você não tem que ser programador, mas pensar nos sistemas tal como pensa nas reportagens.

Parece que o leitor da internet busca algo mais superficial. Não raro as notícias mais lidas dos grandes jornais na rede são de fofocas, celebridades etc. Como o jornalismo cultural pode enfrentar a frivolidade da era digital?
Sempre existiu frivolidade. O que há de novidade é que jornais sérios têm de competir com o negócio da internet, e acho que por isso há mais grandes jornais buscando histórias mais frívolas.
Há muitas pessoas que usam a internet para ler, e para ler coisas longas. Uso [mostra no seu celular] um aplicativo pelo qual seleciono notícias para ler depois. Gasto meu almoço lendo, leio no trem. E são matérias longas.

As novas tecnologias enfraqueceram as grandes corporações da antiga indústria cultural. A quem cabe o papel de estimular novos artistas?
Acho que a outras grandes corporações [risos]. As próprias redes sociais. Grupos de mídia que já estão descobrindo como usar coisas como Facebook e Twitter. Sigo meia dúzia de repórteres do "New York Times" no Twitter, e em parte é assim que me informo. Sobre encorajar novos artistas, é difícil.
Os grandes grupos não prestam atenção em jovens. O estímulo pode vir de fundações, artistas, governo, grupos interessados em arte...


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