São Paulo, sexta, 11 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHOW CRÍTICA

Lloyd Cole só pega no tranco

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

O cantor britânico Lloyd Cole exigiu muita paciência dos são-paulinos e palmeirenses que foram ao Palace na noite de quarta-feira. Enquanto Corinthians e Santos despejavam emoção na semifinal do Campeonato Brasileiro de futebol, Cole embolava o meio-campo numa apresentação que só deslanchou no final.
O público era trintão. Afinal, Lloyd Cole teve sua fase áurea nos anos 80, quando emplacou vários hits com sua voz maravilhosa e sua cara de meninão zangado. Sucessos como "Perfect Skin" e "Brand New Friend" marcaram uma geração que mandou muitos representantes para as cadeiras do Palace.
Todo mundo sabe que a carreira solo de Cole, iniciada em 1990, não é lá essas coisas. Os discos não conseguiram lugar de destaque nas paradas, e alguns até não saíram no Brasil. Por isso, a expectativa da platéia era ouvir muita coisa do álbum mais recente, "Love Story" (95), e do próximo, que ele está gravando com a nova banda, The Negatives. E, é lógico, os hits dos anos 80.
Mas o show já começou estranho. Ele entrou no palco, tímido, com roupa casual, acompanhado por um integrante de sua banda, ambos com violões.
O clima era de "unplugged" total. A bela voz continua bela, e canções novas e velhas compuseram uma espécie de primeiro ato, como um breve aquecimento para o show que ainda estaria prestes a acontecer.
Quando Cole tirou o violão e deu o instrumento a um roadie, a platéia pensou que a banda entraria para dar prosseguimento ao show, mas o cantor e seu amigo deixaram o palco. No lugar deles, uma loirinha miúda de guitarra na mão.
Jill Sobule, roqueira independente e obscura de Denver que fez um pouquinho de sucesso com "I Kissed a Girl", cantou duas músicas intimistas e tensas, como uma Jewel mais magrinha e mais histérica.
O público gostou da primeira canção da garota, aplaudiu também a segunda, mas esperava a volta de Cole e a presença da banda toda. Jill chamou os rapazes, mas ninguém veio ao palco. Constrangida, a moça entoou um antigo sucesso de David Bowie.
No meio desse momento cover, Lloyd Cole reapareceu, de cerveja na mão, e ajudou Jill no coro: "All the young dudes...". Mais alguns aplausos e a banda surgiu no palco. Cole pegou a guitarra e... Jill começou a cantar de novo.
A moça era incentivada pelo líder a cantar, embora o clima na platéia estivesse meio tenso. Na sexta canção seguida com vocal de Jill, gritos de "Canta, Lloyd!" começaram a pipocar pelas cadeiras.
Quando a paciência dos fãs parecia quase esgotada, Cole voltou ao microfone e finalmente deu início ao show. "Perfect Skin" foi um divisor de águas na apresentação. A partir dela, outros sucessos animaram o público. Até canções inéditas tiveram ótimo desempenho.
O entusiasmo de Cole deu as caras, motivando o artista a voltar duas vezes para o bis, calorosamente recebido pelo público.
Sem contar a primeira parte do show, uma derrapada feia, Lloyd Cole provou que tem uma grande voz e sabe escrever belas músicas. Mas a banda Negatives ainda tem que comer muito feijão para chegar perto dos Commotions, grupo de Cole na década passada.
O cantor saiu do palco aplaudido, mas o público merecia um pouco mais, desde o início.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.