São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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Cena de sexo saiu da Boca

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

A cena não chega a ter dois minutos. Na boate Nova Jerusalém, montada no último andar do presídio desativado do Hipódromo, o público da peça "Apocalipse 1,11" assistirá a uma cena de sexo explícito saída diretamente da Boca do Lixo paulistana.
O casal encarregado do ato, Lílian e Reginaldo, ambos com 26 anos e sem sobrenome, está há oito anos no ramo. E já percebeu pelo menos uma grande diferença entre o público que assistiu aos ensaios abertos da peça, em novembro e dezembro, e o público que frequenta as boates da Rego Freitas e os teatros da rua Aurora em que eles se apresentam regularmente: o silêncio.
"As pessoas permanecem quietas, só observando", diz Reginaldo, um tanto surpreso, acostumado que está aos gritos ou xingamentos (dependendo de seu desempenho) do público da Boca.
"Não é só isso. O tipo de pessoa aqui é diferente", fala Lílian. "Um pessoal maravilhoso. Nos dias do fim do ano, em que demos uma paradinha, ficamos com saudades", completa Reginaldo.
Lílian e Reginaldo são casados há seis anos. Conheceram-se em 1990, no teatro Ipaneminha, rua Aurora, já fechado.
Reginaldo era o encarregado do som -sertanejo, música lenta, samba e forró eram os gêneros preferidos das strippers- e vivia encafifado com uma idéia: "Como o cara consegue fazer isso no palco, na frente de todo mundo?".
Nessa época, Lílian já trabalhava no Ipaneminha, mas apenas fazendo striptease.
"O show erótico, com sexo explícito, paga mais do que só tirar a roupa. Aí, conheci o Reginaldo..."
Ele chegou a tentar uma performance com outra mulher. "Não consegui. Tentei durante dez músicas. Um lado inteiro do disco, depois o outro lado e nada. Não sentia nada pela mulher. Quando conheci a Lílian... Foi fácil."
Reginaldo diz que, nos bons tempos, há dois ou três anos, o casal fazia cerca de 12 espetáculos por dia. "Uma vez fizemos 19 shows em quatro teatros: o Studio, o Orion, o Porão e o Povão. Tentei chegar a 20, mas estava desgastado."
Para conseguir esse desempenho, ensina Reginaldo, não se deve pensar nas contas a pagar ou no desmatamento da Amazônia. "Se você não estiver concentrado na relação, não consegue fazer na frente de todo o mundo. Tem que estar sentindo prazer, sim."
"Na hora H, eu tiro para tomar um pouco de ar." Assim, evita a ejaculação. O segredo do sucesso.


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