São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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MÚSICA ERUDITA
Roney Marczak lança disco e edita textos que descobriu nos manuscritos do compositor paulista
Violinista registra inéditos de Guarnieri

JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina

O violinista brasileiro Roney Sterza Marczak, 27, decidiu aproveitar o sucesso europeu de seu último trabalho, o CD "Descobertas", para investir no projeto de registrar a obra completa do compositor Camargo Guarnieri.
O contato de Marczak com os inéditos do maestro (1907-1993), um dos maiores compositores eruditos do Brasil, aconteceu em 1993, quando ele visitou a viúva Vera Camargo Guarnieri.
Vera cedeu cópias de todos os manuscritos do marido ao violinista. "Foi impressionante verificar a quantidade e a qualidade da obra, tenho mais de 60 quilos de música", disse Marczak.

Inéditos
Nas mais de 600 obras de Camargo Guarnieri, Marczak descobriu que menos de 20% haviam sido editadas. Ainda neste ano ele pretende lançar, na Europa, um CD especial com arranjos para violino das obras inéditas do maestro paulista.
"O inédito é monumental. Na Europa, Guarnieri é chamado, por aqueles que tiveram acesso a esses inéditos, de Prokofiev brasileiro", afirmou.
Serguei Prokofiev (1891-1953), pianista e compositor russo, é considerado um dos maiores talentos musicais deste século.
Além do CD, Marczak busca apoio cultural para editar as obras completas de Camargo Guarnieri e de Francisco Mignone (1897-1986), outro compositor de quem o violinista conseguiu manuscritos exclusivos e inéditos.
De Mignone, do qual é fã confesso, o músico londrinense já gravou dois inéditos no CD "Descobertas", que será distribuído este ano no país.
O interesse do violinista pelos inéditos dos compositores brasileiros foi despertado depois de constatar que não conseguia comprar no Brasil gravações de clássicos desses autores.
"Sempre que vinha para cá, eu tentava encontrar discos ou CDs desses compositores e não os encontrava no comércio. Decidi contatar familiares e descobri que essas obras estavam sendo destruídas pelas traças", afirmou o violinista. "Virou uma obsessão recuperá-las."

Menino prodígio
Marczak começou a estudar violino aos 6 anos em Londrina (379 km ao norte de Curitiba) "por ciúmes do irmão mais velho", e se tornou um prodígio.
Entre 1987 e 1990, ele venceu todos os concursos nacionais e internacionais de música dos quais participou.
Em 1990, ingressou na Musikhochschule (Faculdade de Música) de Fraiburgo (Alemanha). Ele foi bolsista do governo alemão, e neste período deixou de participar de concursos para se dedicar a concertos como solista.
Dois anos mais tarde, depois de uma apresentação na Alemanha, Marczak acabou sendo convidado para um solo de violino na capela privada do papa João Paulo 2º. "Foi umas das maiores emoções da minha vida, fiquei quatro horas tocando no Vaticano", relatou o violinista.
Fazendo mestrado em violino em Berna (Suíça), depois de formar-se com nota máxima no curso de música na Alemanha, ele tem planos de retornar definitivamente ao Brasil, criar uma escola de música e descobrir novos talentos por aqui.
"Meu sonho é criar uma escola de música. Sei que no Brasil existem muitos talentos que precisam ser descobertos", afirmou.
Na Suíça, além de turnês por diferentes países da Europa, Marczak atua como violinista da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Berna.


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