São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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LITERATURA
Cantora Aretha Franklin lança "From These Roots"
Fofocas e relatos musicais se fundem em autobiografia

EDSON FRANCO
Editor-interino de Suplementos


Um compacto com os melhores momentos. Assim pode ser definida "Aretha: From These Roots", autobiografia -lançada nos EUA no ano passado e ainda sem previsão de tradução para o Brasil- da cantora norte-americana Aretha Franklin, 57.
Sobra confete e falta autoflagelação na obra, que tem como co-autor o jornalista David Ritz, responsável também pelos relatos biográficos de Ray Charles, Etta James e B.B. King.
No livro de Aretha, fatos frugais ganham capítulos inteiros, enquanto aspectos biográficos menos edificantes tomam conta de parcos parágrafos.
Quem lê a obra fica sem saber, por exemplo, de onde vêm os atritos responsáveis pelo fogo que sai da garganta da cantora, reconhecida não só como a melhor intérprete de soul music, como também dona de uma das mais belas vozes deste século.
Ricos em detalhes são os trechos em que Aretha descreve a infância -com direito ao cardápio familiar- e os momentos ao lado do pai, o reverendo Clarence LaVaughn Franklin, amigo pessoal de Martin Luther King Jr.
Nessas partes mais detalhadas, Aretha aproveita para colocar pingos em alguns "is". Entre eles, há o boato disseminado de que sua mãe, Barbara Siggers, teria abandonado a família. A cantora nega com veemência.
Na outra ponta, há as reticências, como o tumultuado casamento com o dublê de empresário musical Ted White. Também são deixados de lado aspectos pitorescos de uma moça que engravidou aos 14 anos e teve outro filho dois anos depois.
Entre um extremo e outro, o livro mostra o que tem de melhor: um relato (parcial, é claro) de uma época prolífera da música norte-americana.
Traz a ascensão de uma cantora que passou com rapidez do louvor a Deus por meio da música gospel para um contrato com a Columbia Records. Relata o ápice da carreira, a assinatura com a Atlantic e o reconhecimento como primeira-dama da soul music.
A partir desse momento, nomes como o do cantor Sam Cooke e do produtor Jerry Wexler começam a pipocar no livro. É aí que a obra ganha ritmo, principalmente para o leitor mais interessado em música do que em mexericos.
Surgem nesse ponto -estamos no final dos anos 60- os elementos extramusicais que tornaram viáveis as gravações definitivas de clássicos como "Respect", "I Never Loved a Man", "Chain of Fools", "Baby I Love You", "I Say a Little Prayer", "Think" e "The House That Jack Built".
Os altos e baixos dos anos 70 são merecedores de um relato burocrático e, quase, desapaixonado. Os erros -sentimentais e musicais- cometidos na década seguinte fornecem os poucos instantes em que a cantora abandona o discurso laudatório e mergulha na autopiedade.
Como nas obras que co-assinou anteriormente, Ritz faz bem o seu papel. Aproxima o texto do registro falado e coloca o leitor em um sofá na sala da casa da cantora.
Apesar das ausências, omissões e falta de contrapontos, "Aretha: From these Roots" se presta a reflexões sobre a mulher e sua música, o que já é alguma coisa.


Avaliação:   

Livro: Aretha: From These Roots Autores: Aretha Franklin e David Ritz Editora: Villard Books Quanto: US$ 25.00 (cerca de R$ 42) Onde encomendar: www.amazon.com

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