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LITERATURA
Cantora Aretha Franklin lança "From These Roots"
Fofocas e relatos musicais se fundem em autobiografia
EDSON FRANCO
Editor-interino de Suplementos
Um compacto
com os melhores
momentos. Assim
pode ser definida
"Aretha: From
These Roots", autobiografia -lançada nos EUA no
ano passado e ainda sem previsão
de tradução para o Brasil- da
cantora norte-americana Aretha
Franklin, 57.
Sobra confete e falta autoflagelação na obra, que tem como co-autor o jornalista David Ritz, responsável também pelos relatos
biográficos de Ray Charles, Etta
James e B.B. King.
No livro de Aretha, fatos frugais
ganham capítulos inteiros, enquanto aspectos biográficos menos edificantes tomam conta de
parcos parágrafos.
Quem lê a obra fica sem saber,
por exemplo, de onde vêm os atritos responsáveis pelo fogo que sai
da garganta da cantora, reconhecida não só como a melhor intérprete de soul music, como também dona de uma das mais belas
vozes deste século.
Ricos em detalhes são os trechos em que Aretha descreve a infância -com direito ao cardápio
familiar- e os momentos ao lado
do pai, o reverendo Clarence LaVaughn Franklin, amigo pessoal
de Martin Luther King Jr.
Nessas partes mais detalhadas,
Aretha aproveita para colocar
pingos em alguns "is". Entre eles,
há o boato disseminado de que
sua mãe, Barbara Siggers, teria
abandonado a família. A cantora
nega com veemência.
Na outra ponta, há as reticências, como o tumultuado casamento com o dublê de empresário musical Ted White. Também
são deixados de lado aspectos pitorescos de uma moça que engravidou aos 14 anos e teve outro filho dois anos depois.
Entre um extremo e outro, o livro mostra o que tem de melhor:
um relato (parcial, é claro) de
uma época prolífera da música
norte-americana.
Traz a ascensão de uma cantora
que passou com rapidez do louvor a Deus por meio da música
gospel para um contrato com a
Columbia Records. Relata o ápice
da carreira, a assinatura com a
Atlantic e o reconhecimento como primeira-dama da soul music.
A partir desse momento, nomes
como o do cantor Sam Cooke e do
produtor Jerry Wexler começam
a pipocar no livro. É aí que a obra
ganha ritmo, principalmente para
o leitor mais interessado em música do que em mexericos.
Surgem nesse ponto -estamos
no final dos anos 60- os elementos extramusicais que tornaram
viáveis as gravações definitivas de
clássicos como "Respect", "I Never Loved a Man", "Chain of
Fools", "Baby I Love You", "I Say
a Little Prayer", "Think" e "The
House That Jack Built".
Os altos e baixos dos anos 70 são
merecedores de um relato burocrático e, quase, desapaixonado.
Os erros -sentimentais e musicais- cometidos na década seguinte fornecem os poucos instantes em que a cantora abandona o discurso laudatório e mergulha na autopiedade.
Como nas obras que co-assinou
anteriormente, Ritz faz bem o seu
papel. Aproxima o texto do registro falado e coloca o leitor em um
sofá na sala da casa da cantora.
Apesar das ausências, omissões
e falta de contrapontos, "Aretha:
From these Roots" se presta a reflexões sobre a mulher e sua música, o que já é alguma coisa.
Avaliação:
Livro: Aretha: From These Roots
Autores: Aretha Franklin e David Ritz
Editora: Villard Books
Quanto: US$ 25.00 (cerca de R$ 42)
Onde encomendar: www.amazon.com
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