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TELEVISÃO
Atração da CNN filmada por cineasta leonês ajudou a libertar três crianças sequestradas por guerrilhas rebeldes
Documentário mostra efeitos da guerra em Serra Leoa
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
Após quatro meses falando exclusivamente sobre um assunto
-os atentados de 11 de setembro
e o consequente combate ao terrorismo liderado pelos EUA-, as
grandes redes internacionais de
notícias aos poucos voltam a retratar outros problemas que continuam a afligir a humanidade.
Um dos melhores exemplos disso é a exibição, hoje e amanhã, do
documentário "Retorno a Freetown" na rede de TV a cabo norte-americana CNN.
No filme, o cineasta de Serra
Leoa Sorious Samura volta à sua
terra natal para contar a história
das crianças que foram roubadas
de suas famílias, drogadas, violentadas e exploradas como soldados
durante a guerra civil (1991-2001).
Samura e sua equipe viajam a
uma região ainda controlada pela
guerrilha rebelde Frente Revolucionária Unida e convencem seus
chefes guerreiros a libertar três
crianças. O cineasta ajuda a reuni-las a suas famílias, de quem haviam estado separadas por até dez
anos. Registra imagens comoventes das dificuldades enfrentadas
por jovens que, transformados a
contragosto em frios assassinos,
esperam agora reconstruir suas
vidas numa terra arrasada.
"O que houve em Serra Leoa
não foi apenas uma guerra civil,
foi um abuso da inocência", disse
Samura, antes de exibição especial para a imprensa em Londres.
"Este filme é sobre o abuso de
crianças. Não foi feito apenas para
uma audiência ocidental curiosa
por saber o que houve em Serra
Leoa. Foi feito principalmente para as dezenas de milhares de pessoas que ainda temem que suas
crianças sejam roubadas, estupradas, drogadas."
Após uma década de atrocidades, uma intervenção de tropas
do Reino Unido e da ONU e a prisão do comandante rebelde Foday Sankoh ajudaram a pôr fim à
guerra civil. Desde então, agências de ajuda humanitárias se deparam com a difícil tarefa de recuperar as pelos menos 7.000 crianças sequestradas para lutar nas
forças rebeldes. Muitas delas estão mutiladas ou perderam a família durante a guerra e não têm
uma casa para onde regressar.
Samura leva uma vantagem em
relação às dezenas de jornalistas
estrangeiros que já estiveram em
Freetown para relatar mais um
cruel conflito africano. Negro e falando o mesmo idioma de seus
entrevistados, conquista rapidamente a confiança das crianças
guerreiras, que costumam relutar
em confessar os seus crimes.
Ao cineasta leonês, elas contam
detalhes macabros sobre como
foram obrigadas a massacrar civis
inocentes, amputar pernas e braços de crianças e mulheres com
facões -para amedrontar o restante da população- ou como
dançavam em ritmo de festa enquanto queimavam os corpos de
suas vítimas sobre pilhas de
pneus em chamas.
Os comandantes rebeldes as
drogavam com métodos brutais,
injetavam substâncias como cocaína direto no cérebro ou abriam
feridas em suas cabeças e faziam
curativos cobertos de pólvora, cujos efeitos entorpecentes são devastadores.
Este é o terceiro filme que Samura produz para o conglomerado de comunicações do bilionário
dos EUA Ted Turner.
"Retorno a Freetown", cuja estréia mundial ocorreu na quinta-feira, vai ao ar novamente hoje, às
12h e 18h, e amanhã, às 11h e 19h.
Sua duração é de aproximadamente 40 minutos.
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