São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

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CRÍTICA JAZZ

Esperanza mistura poesia e bossa nova para fazer jazz

Novo disco, "Chamber Music Society", comprova relevância de jazzista

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO

Talvez a mais importante presença jovem no jazz contemporâneo, a contrabaixista norte-americana Esperanza Spalding reforça em seu terceiro álbum, lançado no fim do ano passado, essa posição, com a versatilidade e ousadia de sua música.
"Chamber Music Society" combina as formações clássicas do quarteto de cordas erudito e do trio de jazz, mais a voz da artista principal e de convidados (Milton Nascimento, entre eles).
A maioria das composições é da própria Esperanza e nelas se misturam elementos de soul, pop, jazz, blues, funk, MPB e Astor Piazzolla (1921-1992).
A faixa de abertura ("Little Fly") acrescenta a esse conjunto eclético versos de William Blake, poeta do final do século 18 e início do 19, para os quais Esperanza escreveu um tema suave e belo.
Além de Milton Nascimento (que faz dueto em "Apple Blossom"), a música do Brasil também aparece no cover de "Inútil Paisagem" -composição de 1963 de Tom Jobim e Aloysio Oliveira-, em que à voz de Esperanza se junta a de Gretchen Parlato, outra vocalista em ascensão, com o acompanhamento único do contrabaixo da dona do espetáculo.
Em diversas outras faixas, é possível também perceber a influência do ritmo, da estrutura harmônica e dos temas da música brasileira, como em "Chacarera" e "Knowledge of Good and Evil". A precocidade da estrela é ostensiva. Com 26 anos, ela é uma das mais jovens professoras do célebre Berklee College of Music, em Boston, já se apresentou duas vezes na Casa Branca, tocou e cantou na cerimônia em que o presidente Barack Obama recebeu o Nobel da Paz e não para de receber elogios e requisições de expoentes do jazz, como McCoy Tyner e Joe Lovano.
O papel de Esperanza na cena jazzística deste início de década é similar ao que Wynton Marsalis desempenhava um quarto de século atrás.
Os dois combinam sólida formação de música erudita com um apelo popular de modo a atrair o interesse de jovens dificilmente cativáveis pelo jazz tradicional. A criatividade de Esperanza aparece em sua total grandeza neste novo disco, que em nada repete as fórmulas dos anteriores.

OUTRAS INTÉRPRETES
Diferentemente de outras intérpretes que têm feito relativo sucesso com jazz de boa qualidade, como Diana Krall, Dianne Reeves e Dee Dee Bridgewater (cujos repertórios são quase apenas de covers), Esperanza surpreende o público a cada novo trabalho lançado.
A grande variedade de influências a que se expôs e a amplitude de seus interesses também a tornam mais instigante do que outras musicistas (todas mais veteranas) que vêm ajudando a manter viva a tradição do jazz, como Patricia Barber, Stacey Kent e Rachelle Ferrell.
O álbum "Chamber Music Society" comprova a enorme relevância de Esperanza Spalding.

CHAMBER MUSIC SOCIETY

ARTISTA Esperanza Spalding
LANÇAMENTO Telarc
QUANTO R$ 56, em média
AVALIAÇÃO ótimo


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