São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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O americano, autor de peças como "A Morte de um Caixeiro-Viajante" e "As Bruxas de Salem", sofria de câncer

Morre, aos 89, o dramaturgo Arthur Miller

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Arthur Miller, autor de peças como "A Morte de um Caixeiro-Viajante" e "As Bruxas de Salem", morreu na noite de anteontem, aos 89 anos, de falência cardíaca.
Conhecido como "o mais americano dos grandes dramaturgos dos EUA", Miller, que sofria de câncer e lutava contra problemas cardíacos e uma pneumonia, morreu em sua casa, em Roxbury (Connecticut), com os filhos a seu lado. O anúncio foi feito por sua assistente, Julia Bolus.
O dramaturgo havia recebido alta do centro oncológico Memorial Sloan Kettering, em Nova York, há algumas semanas, indo morar no apartamento de sua irmã, Joan Copeland. A seu pedido, foi transferido na última terça-feira para sua casa, uma fazenda do século 18 que comprou em 1958.
"Ele tinha câncer e queria ir para casa. Creio que foi por isso que pediu para voltar a seu lar, para morrer", afirmou sua irmã.
Sua morte repercutiu intensamente. "Miller tratou com sucesso os principais tópicos da consciência social em suas peças, que sempre refletiam ou reinterpretavam os elementos turbulentos e públicos de sua vida, incluindo seu efêmero casamento com Marilyn Monroe e sua recusa a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas [durante o macarthismo, nos anos 40 e 50]", escreveu o "New York Times", referindo-se aos dois episódios mais célebres da vida do escritor.
"Ao lado de Tennessee Williams e William Inge, Miller é considerado um dos principais dramaturgos dos anos 50, a era de ouro do teatro americano", disse a TV CNN.
Arthur Asher Miller nasceu em 17 de outubro de 1915 em Nova York, numa família de classe média. Começou a escrever durante a faculdade, quando trabalhava como balconista e carregador para pagar pelos estudos, após seu pai perder dinheiro na Grande Depressão. Embora tenha recebido prêmios pela sua produção na época, apenas em 1944 teve uma peça montada na Broadway.
"The Man Who Had All The Luck" (o homem que tinha muita sorte) fez só quatro apresentações e foi considerada um fracasso. "Minha primeira peça foi um desastre. Decidi nunca mais escrever outra", disse o autor em 1988.
Mas, avesso aos críticos, ele retornou aos palcos com "Todos os Meus Filhos", em 1947, e experimentou o sucesso.
Dois anos depois, aos 33, escreveria em apenas seis semanas "A Morte de um Caixeiro-Viajante", considerada sua obra-prima e contemplada com o Prêmio Pulitzer, o Prêmio dos Críticos de Teatro de Nova York e o Tony (espécie de Oscar do teatro).
No Brasil, a peça de Arthur Miller foi montada em 2003 por Felipe Hirsch, tendo no elenco os atores Marco Nanini e Juliana Carneiro da Cunha.
Crítico contumaz da sociedade americana, Miller não se intimidava em usar suas peças para colocar o dedo na ferida. "As Bruxas de Salem", de 1953, é provavelmente seu texto mais voraz.
Evocando o puritanismo no nordeste americano do fim do século 17, Miller costurou uma parábola ferina sobre a caça aos comunistas pelo Congresso americano na época, da qual também foi uma vítima.
Sua vida não foi menos agitada que suas peças e demais incursões criativas. Casou-se três vezes e nunca passou mais do que um ano sozinho.
Com Mary Grace Slattery, viveu 16 anos, teve dois filhos. Separou-se para ficar com a diva Marilyn Monroe (1926-1962), formando um dos casais de celebridades favoritos da imprensa em todos os tempos. A relação foi tumultuada e durou cinco anos, terminando em separação 19 meses antes do suicídio da estrela.
Ele voltou a se casar um ano depois, em 1962, com a fotógrafa Inge Morath. Os dois permaneceram juntos até a morte dela, em 2002, e tiveram dois filhos. Nos últimos dois anos, o dramaturgo vivia com a artista Agnes Barley, 60 anos mais nova.


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