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DVDS
DOCUMENTÁRIO/"A BATALHA DO CHILE"
Guzmán deixa a esquerda perplexa
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN
"A Batalha do Chile" é a
melhor aula sobre a América Latina no século 20 que o cinema já construiu.
Seu autor, o documentarista Patricio Guzmán, 64, lembra os
meses que passou caminhando
(muitas vezes correndo) nas ruas
de Santiago, câmera à mão, "como se fosse um bombeiro" (em
suas próprias palavras) e não um
cineasta. Isso porque, durante a
ascensão e queda de Salvador
Allende (1970-1973), as coisas
simplesmente não paravam de
acontecer no Chile.
Em 285 minutos divididos em
quatro DVDs, assistimos ao líder
socialista tomar posse sob os gritos apaixonados de uma multidão. De modo caótico, vemos
crescer as manifestações pró e
contra as políticas de nacionalizações daquele governo, a formação
das assembléias populares, os enfrentamentos entre os diversos líderes sindicais e patronais e, principalmente, a radicalização entre
esquerda e direita que, inevitavelmente, apontava para o fim trágico daquele regime -que ocorreu,
enfim, com a tomada do Palácio
de La Moneda em 11 de setembro
de 1973, o suicídio de Allende e o
início do regime militar comandando por Augusto Pinochet.
Era de se supor que um material
rodado no calor de tensos acontecimentos e em condições precárias resultasse num filme rústico,
cru. Mas não é o que acontece.
Guzmán é um obcecado por detalhes, que trata de forma artística.
Se está numa reunião de operários, preocupa-se em retratar o latão onde um homem apóia o calçado empoeirado. Quando diante
de militares, foca a firmeza com
que seguram as luvas. Ao registrar
um verborrágico depoimento de
um líder sindical anônimo, não
perde de vista olhares de quem está atrás dele.
Não há dúvidas de que Guzmán
fez um documentário de esquerda. A movimentação de ativistas
de direita é imediatamente tachada de baderna ou de manifestação
fascista, enquanto a esquerda reflete, em sua visão, sempre os legítimos anseios populares.
O cineasta, que conseguiu salvar
o filme por meio da embaixada da
Suécia logo após a tomada do poder por Pinochet, não nega sua tomada de partido. Editou o filme
em Cuba como quem trata um
panfleto, e, após concluí-lo, em
1979, distribuiu-o pelos quatro
cantos, inconformado com o que
acontecia em seu país.
Mas o que mais interessa em "A
Batalha do Chile" é saber que
aquelas cenas aconteceram mesmo e que ainda hoje são capazes
de aterrorizar tanto simpatizantes
da esquerda como de direita.
É de se lamentar que o filme não
tenha sido exibido em circuito comercial no Brasil. Foi visto apenas
por quem conseguiu ingressos
para as sessões realizadas na 29ª
Mostra de SP, no ano passado.
Agora está disponível para quem
puder gastar R$ 134,90 para adquirir a caixa. Valor que, ironicamente, mostra que o capitalismo
venceu de verdade.
A Batalha do Chile
Diretor: Patricio Guzmán
Distribuidora: Videofilmes (R$ 134,90,
preço sugerido; box c/ quatro discos)
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