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De Niro retrata nascimento da CIA
Em seu segundo trabalho na direção, astro causa frisson em Berlim com "O Bom Pastor", drama ambientado na Guerra Fria
Conhecido por papéis de homens violentos, ator afirma que procurou fazer um filme sem muitas cenas de sangue e carnificina
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Cineastas com apenas dois
longas no currículo costumam
ser apagados por estrelas maiores nos grandes festivais de cinema. Mas não quando têm um
nome como o de Robert De Niro, para quem o Festival de Berlim estendeu seu mais vermelho tapete anteontem, quando
o filme "O Bom Pastor" foi
apresentado em competição
pelo Urso de Ouro.
Consagrado em décadas de
carreira como ator, reconhecido com seis indicações ao Oscar
-e duplamente premiado com
a estatueta, por "O Poderoso
Chefão 2" (1975, de Francis
Ford Coppola) e "Touro Indomável" (1980, de Martin Scorsese)-, De Niro acaba de voltar
à direção, depois de "Desafio no
Bronx" (1993).
Desta vez, filmou um drama
sobre a gênese da CIA (a agência de inteligência americana),
portanto ambientado nos anos
de Guerra Fria.
Edward Wilson (Matt Damon) é um jovem da elite norte-americana atraído pela idéia
de defender os interesses do
seu país, na nascente agência
de espionagem forjada para
identificar e deter ameaças aos
EUA que pudessem vir de Moscou, onde a KGB era o seu equivalente. Ele encontra um rival à
sua altura.
"O Bom Pastor" acompanha
a vida do protagonista desde
seu idealismo juvenil até o ponto em que, aos 41 anos, ele vê
seu casamento com Margaret
(Angelina Jolie) e sua relação
com o filho único, Wilson Jr.
(Eddie Redmayne), arruinados,
em boa parte porque ele prescindiu de ambos por uma missão que, talvez, não tenha valido a pena.
O filme de De Niro foi exibido
pela manhã para a imprensa,
que protagonizou logo em seguida a maior cena de frisson
por ouvir um cineasta em competição. Na abarrotada sala de
entrevistas coletivas, De Niro
entrou sob palmas, ouviu perguntas elogiosas e confetes rasgados ao seu filme e recebeu
pedidos de autógrafo ao final.
Durante a tarde, o diretor falou separadamente com a Folha e outros jornais, antes de
seguir para a sessão de gala do
filme, no palácio Berlinale.
De Niro, 63, disse que o tema
da Guerra Fria pode ser alheio
ao atual público jovem que vai
ao cinema, mas ele não quis
abrir mão devido ao fascínio
pessoal que tem pelo período.
Violência
"Vim a Berlim quando estava
na casa dos 20 anos. É espantoso. Existiu um outro mundo",
diz. E De Niro queria retratá-lo
na tela "sem a violência, o sangue, a carnificina que costuma
haver nos filmes". A frase soa
estranha quando dita por alguém que eternizou sua imagem em filmes como "Cabo do
Medo" e "O Poderoso Chefão".
Mas o ator/diretor tem uma
explicação para o aparente paradoxo. "Martin [Scorsese] é
diferente. Ele tem um gosto pela violência estilizada, mas é algo dele. E eu, quando trabalho
com um diretor, apóio todas as
suas decisões", afirma.
Além de ter visitado Berlim
desde a juventude, De Niro já
esteve também em Cuba, cuja
revolução socialista de Fidel
Castro é abordada em "O Bom
Pastor", com cenas reais de arquivo do ditador, chamado no
filme de El Comandante.
Diante da pergunta sobre como enxerga o futuro de Cuba
sem Fidel, De Niro faz uma longa pausa. "Creio que algumas
pessoas tentarão recuperar o
que perderam com o regime e
que muitos voltarão para lá.
Imagino que vai haver mudanças, mas não sei exatamente
quais."
Tendo passado grande parte
de sua vida ao lado de grandes
diretores, De Niro diz que
aprendeu a ver "o tipo de problemas que se enfrenta num set
de filmagens". E são eles, os
problemas, os responsáveis por
sua adesão apenas bissexta à direção. No caso de "O Bom Pastor", De Niro diz que achou o
roteiro de Eric Roth ("Munique", "O Informante") irresistível. "Parecia um romance", diz.
Por isso, ele abraçou um projeto que há 12 anos foi concebido
para ser de Coppola.
Com uma discreta participação no elenco do longa, como
superior de Wilson, De Niro diz
que não se sente particularmente atraído pela idéia de dirigir a si mesmo. Mas aceitou
uma sugestão dos produtores
para fazer o papel. Nos Estados
Unidos como no Festival de
Berlim, o ator Robert De Niro
empresta muito prestígio ao diretor Robert De Niro.
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