São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

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De Niro retrata nascimento da CIA

Em seu segundo trabalho na direção, astro causa frisson em Berlim com "O Bom Pastor", drama ambientado na Guerra Fria

Conhecido por papéis de homens violentos, ator afirma que procurou fazer um filme sem muitas cenas de sangue e carnificina

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Cineastas com apenas dois longas no currículo costumam ser apagados por estrelas maiores nos grandes festivais de cinema. Mas não quando têm um nome como o de Robert De Niro, para quem o Festival de Berlim estendeu seu mais vermelho tapete anteontem, quando o filme "O Bom Pastor" foi apresentado em competição pelo Urso de Ouro.
Consagrado em décadas de carreira como ator, reconhecido com seis indicações ao Oscar -e duplamente premiado com a estatueta, por "O Poderoso Chefão 2" (1975, de Francis Ford Coppola) e "Touro Indomável" (1980, de Martin Scorsese)-, De Niro acaba de voltar à direção, depois de "Desafio no Bronx" (1993).
Desta vez, filmou um drama sobre a gênese da CIA (a agência de inteligência americana), portanto ambientado nos anos de Guerra Fria.
Edward Wilson (Matt Damon) é um jovem da elite norte-americana atraído pela idéia de defender os interesses do seu país, na nascente agência de espionagem forjada para identificar e deter ameaças aos EUA que pudessem vir de Moscou, onde a KGB era o seu equivalente. Ele encontra um rival à sua altura.
"O Bom Pastor" acompanha a vida do protagonista desde seu idealismo juvenil até o ponto em que, aos 41 anos, ele vê seu casamento com Margaret (Angelina Jolie) e sua relação com o filho único, Wilson Jr. (Eddie Redmayne), arruinados, em boa parte porque ele prescindiu de ambos por uma missão que, talvez, não tenha valido a pena.
O filme de De Niro foi exibido pela manhã para a imprensa, que protagonizou logo em seguida a maior cena de frisson por ouvir um cineasta em competição. Na abarrotada sala de entrevistas coletivas, De Niro entrou sob palmas, ouviu perguntas elogiosas e confetes rasgados ao seu filme e recebeu pedidos de autógrafo ao final.
Durante a tarde, o diretor falou separadamente com a Folha e outros jornais, antes de seguir para a sessão de gala do filme, no palácio Berlinale.
De Niro, 63, disse que o tema da Guerra Fria pode ser alheio ao atual público jovem que vai ao cinema, mas ele não quis abrir mão devido ao fascínio pessoal que tem pelo período.

Violência
"Vim a Berlim quando estava na casa dos 20 anos. É espantoso. Existiu um outro mundo", diz. E De Niro queria retratá-lo na tela "sem a violência, o sangue, a carnificina que costuma haver nos filmes". A frase soa estranha quando dita por alguém que eternizou sua imagem em filmes como "Cabo do Medo" e "O Poderoso Chefão".
Mas o ator/diretor tem uma explicação para o aparente paradoxo. "Martin [Scorsese] é diferente. Ele tem um gosto pela violência estilizada, mas é algo dele. E eu, quando trabalho com um diretor, apóio todas as suas decisões", afirma.
Além de ter visitado Berlim desde a juventude, De Niro já esteve também em Cuba, cuja revolução socialista de Fidel Castro é abordada em "O Bom Pastor", com cenas reais de arquivo do ditador, chamado no filme de El Comandante.
Diante da pergunta sobre como enxerga o futuro de Cuba sem Fidel, De Niro faz uma longa pausa. "Creio que algumas pessoas tentarão recuperar o que perderam com o regime e que muitos voltarão para lá. Imagino que vai haver mudanças, mas não sei exatamente quais."
Tendo passado grande parte de sua vida ao lado de grandes diretores, De Niro diz que aprendeu a ver "o tipo de problemas que se enfrenta num set de filmagens". E são eles, os problemas, os responsáveis por sua adesão apenas bissexta à direção. No caso de "O Bom Pastor", De Niro diz que achou o roteiro de Eric Roth ("Munique", "O Informante") irresistível. "Parecia um romance", diz. Por isso, ele abraçou um projeto que há 12 anos foi concebido para ser de Coppola.
Com uma discreta participação no elenco do longa, como superior de Wilson, De Niro diz que não se sente particularmente atraído pela idéia de dirigir a si mesmo. Mas aceitou uma sugestão dos produtores para fazer o papel. Nos Estados Unidos como no Festival de Berlim, o ator Robert De Niro empresta muito prestígio ao diretor Robert De Niro.


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