Criadas por Bill Watterson, histórias mostram o mundo imaginativo e solitário de menino de seis anos

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se você era uma criança que preferia brincar a ir para a escola, inventava histórias nas quais ninguém acreditava e não entendia como os adultos conseguiam trabalhar tanto e descansar tão pouco, não se preocupe: você era uma criança feliz. E hoje, adulto(a), você pode encontrar um pouco de si em Calvin, personagem criado pelo quadrinista Bill Watterson.
Há mais de dez anos não há tiras novas de Calvin: Watterson optou por parar de criá-las em dezembro de 1995. Mesmo assim, a série "Calvin & Haroldo" ("Calvin & Hobbes", no original) ainda faz sucesso pelo mundo. E agora o Brasil receberá uma coleção com todas as tiras de Calvin: serão cinco livros, um por semestre. O primeiro, "O Mundo É Mágico - As Aventuras de Calvin & Haroldo", acaba de ser lançado.
Calvin tem seis anos e é um menino feliz. Gosta de cereal com muito açúcar, de passar horas na frente da televisão e de brincar na neve. Seu único amigo é Haroldo, seu tigre de pelúcia.
Haroldo é menor do que seu dono. Calvin, entretanto, tem muita imaginação, como toda criança, e enxerga Haroldo como um tigre real, enorme e feroz... que é bem-humorado, inteligente e adora brincar. Muitas histórias são protagonizadas apenas pelos dois, que conversam sobre tudo, de como o homem é pequeno no Universo a se o Papai Noel irá trazer brinquedos neste Natal.

Solidão
Quando outras pessoas aparecem no quadrinho, como sua vizinha Susie, a babá Rosalyn ou os sisudos pais de Calvin, Haroldo aparece como o bicho de pelúcia que é. Quando Calvin está sozinho, seu amigo vira o tigre enorme que ele gostaria que fosse.
Esse exemplo mostra o diferencial das histórias de Bill Watterson: traduzir, em imagens e palavras, o mundo imaginativo das crianças. São tiras engraçadas, na maioria, pois mostram o contraste entre o que Calvin espera do mundo (encontrar alienígenas, viajar pelo espaço, conhecer criaturas mirabolantes) e o que ele encontra de fato (ter de ir à escola, tomar banho, acordar cedo).
E, no meio do humor, há espaço para lirismo. Watterson discute a solidão de crianças que não se integram na escola, os excessos que podem vir de uma educação rigorosa e até a falta de comunicação. Às vezes, tudo o que Calvin precisa é um abraço e que reparem nos seus desenhos. Como não há um humano que faça isso, ele se contenta com seu tigre de pelúcia.